É provável que muitos, assim como eu, acompanharam durante a juventude e a vida adulta as aventuras do super espião James Bond - 007. Já são 25 filmes até agora e já tivemos 6 atores diferentes no cinema, 2 em paródias e 1 na TV...
Curiosamente, quando decidi escrever este post ou crônica, não conseguia lembrar qual foi o primeiro filme do personagem que assisti no cinema. Lembrava o primeiro que assisti na TV (O satânico Doutor No), mas não o do cinema, assim tive de seguir algumas 'pistas' dadas por minhas lembranças...
Quando eu era garoto, para chegar ao colégio onde estudava era necessário passar por um cinema que ficava no centro da cidade. O cinema na verdade era um teatro, mas pouquíssimas peças foram exibidas lá (pelo menos que eu saiba), e o carro chefe eram mesmo os filmes. Acontece que lá anualmente havia o "Festival James Bond", e nenhum dos filmes era 'livre' e sim proibido para 'menores de 16' e alguns para 'menores de 18'.
Assim, não podia entrar em "Moscou Contra 007" ou "Goldfinger". "Thunderball - Chantagem Atômica", assisti em outro cinema (algum tempo depois do festival) e como na primeira vez que fui só haviam sete filmes, o primeiro que assisti acaba sendo o melhor de todos com Sean Connery: "Só Se Vive Duas Vezes". E o segundo foi: "A Serviço Secreto de Sua Majestade" com George Lazenby. Lembro-me que não entendi porque o ator era outro e o porteiro do cinema (o que ficava na roleta e pedia os documentos) comentou com outro funcionário que era "porque Connery não sabia esquiar"...(bem longe da verdade)
Enfim, conheci o personagem com o ator Sean Connery e ao assistir o que Lazenby protagonizou, fiquei entristecido pela troca, embora Connery voltasse no filme seguinte e pela última vez (em um filme oficial): "Os Diamantes São Eternos".
Sean Connery havia trazido para o personagem um certo charme embrutecido e uma 'canastrice' interessante, o autor Ian Fleming reclamou que ele parecia um 'estivador' (ele queria James Mason para o papel). Mas Connery 'se tornou' a imagem de James Bond e o ator predileto de muitos dos fãs (eu inclusive). Mas outros preferem seu substituto: Roger Moore.
Moore já havia sido cogitado antes, mas estava preso ao contrato da série "O Santo". Quando Connery saiu de vez da cine série, Moore havia acabado de sair da série "Persuaders" que havia sido cancelada e estava livre de contratos, tornando-se assim o novo James Bond.
Mas, apesar daqueles que o preferem como 007, ele trouxe para a franquia a ironia, um certo ar de tédio e comédia. Para mim isto meio que 'desfigurou' o personagem. No primeiro filme de Moore: "Viva e Deixe Morrer", estas mudanças são quase sutis, mas com o passar dos filmes, foram ficando gritantes. Quando entrei no cinema e vi James Bond balançando-se em um cipó e dando o grito de Tarzan em "Octopussy", conclui que havia chegado o fim de uma era e do personagem...
Para piorar as coisas, os filmes passaram a lançar 'bugigangas' criadas por "Q" cada vez mais absurdas e que precisavam ser superadas no filme seguinte, com isto os roteiros foram ficando cada vez mais fracos, situação agravada por não existirem mais romances de Fleming inéditos. A temporada de Moore também marcou a fase em que a "Spectre" não podia mais ser citada, devido a problemas legais de direitos de uso. Para resolver isto no inicio de "Viva e Deixe Morrer", Bond mata (em uma cena patética) um careca em uma cadeira de rodas. Ele não é identificado como Blofeld (lider da Spectre), mas também não é necessária tal identificação...
Assim, quanto Timothy Dalton assumiu ele precisava enfrentar alguns problemas: a União Soviética deixou de existir, a grande inimiga, a comedora de criancinhas a fabrica de vilões, acabou; os roteiros tinham de ser originais e andavam deixando a desejar; e trazer seriedade novamente ao personagem.
O resultado são dois filmes fracos, sendo um deles um filme de vingança em que James Bond vai agir na América atrás de...um traficante!!! Por mais que o ator Robert Davi tentasse dar um ar sofisticado para o vilão, a 'coisa' não funciona. E alguns ainda acham Dalton o melhor Bond!!! Depois de Moore imitar Tarzan e dos dois filmes com Dalton, sendo o ultimo em perseguição á um traficante (!), desisti de assistir a franquia nos cinemas...
Foi quando chamaram Pierce Brosnan, que também havia sido cogitado para Bond antes, mas estava preso a um contrato com a série "Remington Steele"...A franquia teve um hiato de 6 anos, o que tirou Dalton do papel, e prometia-se uma 'revitalização' no personagem. Eu gostava de Brosnan no papel do falso Remington Steele e acreditei que ele seria um bom 007, pois ele tinha o charme de Connery, a ironia de Moore e o...e o...não sei o quê de Dalton!
Fui assistir no cinema (quebrando minha decisão)...e foi a primeira vez, depois de anos assistindo a 007 que...dormi no cinema!! A falta da Rússia como vilã (ou de outro pais), o excesso de preocupação com as 'bugigangas', a falta de romances para servir de base, levaram os roteiristas a usar a trama da maioria dos filmes de "Missão Impossível" do cinema: o ex-agente renegado!! Sim, 008 ou sei lá que "00", resolveu ir para o 'lado negro da força' e roubar o satélite bélico "Goldneye". A melhor coisa do filme é a musica tema!!!
Como sempre tem algo para piorar a situação, Pierce Brosnan mal começou, já veio com uma conversa de 'ficar marcado pelo papel' e de querer sair...Disse também que o personagem 'não tinha profundidade' e que 'estava obsoleto'...o que era verdade! Sua fase teve bons vilões criados, porém os roteiros não ajudavam. A novidade foi fazer com que Bond fosse capturado e torturado ao som da péssima musica tema composta por Madonna (o que seria uma segunda tortura), que também faz uma 'ponta' completamente descartável....Depois de "Goldeneye" não fui mais assistir no cinema, até....
Que foi escolhido para o papel o ator Daniel Craig. Na época, divulgaram que a ideia era refilmar os livros já utilizados, começando-se com o único que nunca tinha feito parte da franquia original: "Cassino Royale". Achei uma ótima ideia, os romances haviam sido adaptados anteriormente de forma bem diferente do material original, era possível uma nova versão ("Thunderball' tinha duas versões completamente diferentes...).
A diferença se apresenta logo na cena inicial do filme: a fantástica (e exaustiva) perseguição á pé de Bond a um suspeito que vigiava...Toda aquela correria e o final dela, deixava claro que Bond era implacável, nunca desistia e totalmente comprometido com a missão, custasse o que custasse. Isto já era uma mudança e tanto!! Craig trazia para o personagem um dinamismo já esquecido há algum tempo...
A ideia de mostrar um Bond ainda sem experiência no serviço "00" foi muito boa! E Craig consegue transmitir isto não só nesta perseguição, mas ao matar o primeiro alvo em um banheiro e também em uma luta brutal nas escadas de um prédio. Ele trouxe vida ao personagem, que andava no 'automático' desde Moore!
Craig também consegue trazer para o personagem um lado humano não mostrado anteriormente: ele realmente se apaixona por alguém e o fato de ter sido inábil em salvá-la, faz vir a tona a raiva que Dalton não conseguiu mostrar em "Permissão Para Matar". Também consegue mostrar, que apesar de se mostrar insolente com "M", se preocupava e gostava dela!
Sei que existem algumas pessoas que não gostaram do ator, alguns dizem que ele trouxe 'violência' á cine série; que os filmes ficaram muito "Missão Impossível" e que o ator é 'bruto'. Mas, o personagem apenas reflete o tempo em que vivemos; o personagem nos livros (e nos filmes) tem licença para matar, ou seja, ele não é chamado para esbanjar charme e 'transar' com todas as mulheres, ele é chamado para resolver, entenda-se matar o alvo designado, o resto foi romantizado pelo cinema...
Enfim, agora em novembro esta programado para ser lançado o último filme com Craig, "Sem Tempo Para Morrer" e a pergunta ainda não respondida é: "Quem vai substituí-lo?". Não adianta ficar pensando em algum ator que vá 'lacrar' no papel, ou pensar em uma mulher ou ator negro para assumir. Vai ter de ser um ator, que de fato continue a dar vida ao personagem, e não me refiro apenas a representá-lo, mas mostrar um personagem vivo e com paixões, assim como Craig o fez....
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