Repito : o que houve ontem não foi a libertação de um inocente, de um infeliz e de um coitadinho preso por engano.
O
que houve foi a soltura de um criminoso atestado e reatestado pela
Justiça como tal, a soltura do maior rapinante - mostrado e demonstrado
por a+b por duas instâncias jurídicas - do erário público do planeta, e
de todos os tempos, a soltura de um criminoso CONDENADO. Libertado sem
que tenha surgido nenhuma nova evidência de sua inocência,
ou que colocasse em dúvida sua condenação, sem que sua pena tenha sido
cumprida, extinta ou anulada.
Lula é um criminoso - nos diz a Justiça -, porém, todavia e data venia, não pode ser ainda considerado culpado - nos diz, em seguida, a mesma Justiça.
O
mesmo sistema jurídico que declara o sujeito um criminoso, diz que ele
não é culpado. Criminoso, sim; culpado, não, também a coisa não é assim,
não é por aí.
Diga
isso a qualquer jurista medíocre de algum país de gente, e não de merda
e de merdas. Diga isso a qualquer juiz meia boca da Inglaterra, da
Alemanha, do Japão, do Canadá. Na melhor das hipóteses, ele tomará a sua
fala como uma piada sem graça, de mau gosto; na pior, e mais provável,
ele mandará lhe prender por deboche e grave desacato à autoridade, com o
agravo de insanidade mental.
Acontece
que, se em outros países, minimamente civilizados, a Justiça é uma
solene e pudica senhora cega, no Brasil ela é uma putona de zona
estrábica. No Brasil, a Justiça é uma puta sifilítica e vesga. O olho
direito vê claramente o criminoso e o condena; o esquerdo faz vistas
grossas e pressupõe a inocência dele.
No Brasil atual, o Brasil da Constituição Cidadã, ao bandido é dispensado tratamento de fidalgo. Tratamento vip
assegurado por leis escritas por outros bandidos, bandidos de terno e
gravata, que antevendo a possibilidade de eles próprios, um dia, se
tornarem também réus condenados, já preparam, lá em 1988, suas futuras
camas macias.
No
Brasil, fica-se cheio de dedos para com o bandido, pisa-se em ovos. O
bandido é tratado com toda reverência e com todo melindre, para não
ofendê-lo, ou constrangê-lo.
No
Brasil, para que um criminoso notório e juramentado seja, enfim,
considerado culpado, quatro instâncias jurídicas, quatro graus de
jurisdição, devem assim declará-lo.
O
Seboso de Caetés, oh, coitadinho, oh, injustiçado, foi condenado em
"apenas" duas e já o enjaularam. "Só" por dois corpos de juízes e de
tribunais. Perseguição politica, meus caros, clara perseguição política.
Perseguição política é o caralho!!!
No Brasil, embora oficialmente só sejam previstas duas instâncias jurídicas, há, na prática, quatro instâncias recursais.
"O Brasil é o único país do mundo que tem na verdade quatro instâncias recursais", disse Cézar Peluzo em 2010, quando então do STF no primeiro (des)governo Dilma Rousseff.
A
primeira instância são as comarcas, os juízes monocráticos; a segunda
instância (e tecnicamente a última) são os tribunais (TRE, TRF, TJ etc).
Mas, como ainda se pode recorrer aos tribunais superiores (STE, STJ...)
e, depois ainda, ao STF, o Supremo Tribunal Federal, estes passam a
funcionar, respectivamente, como terceira e quarta instâncias. E com
ritos jurídicos infinitos entre um recurso e outro, que podem atravessar
gerações.
O
que vimos ontem foi a soltura de um condenado em segunda instância, o
último grau de jurisdição legalmente previsto. Por isso, Lula estava
preso. Por isso, ele deveria ter continuado enjaulado.
É
como se cada juiz ou colegiado de uma instância anterior fossem
considerados ineptos pelos das instâncias subsequentes. Como se o que
estivesse a ser julgado não fosse a culpa do condenado, mas sim a
competência dos juízes. Só em país de bandidos, mesmo.
É
como o sujeito que vai ao médico, é submetido a todos os possíveis e
imagináveis exames investigativos e os resultados de todos eles -
raios-X, hemograma, ressonância magnética, tomografia e dedada no cu -
apontam de forma clara, evidente e inequívoca para o mesmo diagnóstico :
o cara tem um baita de um tumor na próstata, a leão de chácara do cu.
Pergunta, então, o paciente : "doutor, e que tratamento eu começarei a receber?". "Por ora, nenhum", diz o médico. "Que
o senhor tem um tumor, é fato, mas para que seja declarado canceroso e
passe a receber o tratamento, terei de encaminhá-lo a um médico de
segunda instância, que confirmará meu diagnóstico". Meses na fila do SUS, o segundo médico lhe diz : "vamos
com calma, amigo, o tumor existe e é mesmo maligno, mas não podemos
condená-lo a uma quimioterapia ainda, nem, ao senhor, taxar de
canceroso. Vou encaminhá-lo a um oncologista de terceira instância."
Até
que um PhD de quarta instância bate o martelo (aquele de dar porrada no
joelho) e declara que o paciente é um canceroso. Até que seja tarde
demais. Até que o câncer já tenha se alastrado, minado e solapado toda a
integridade orgânica do paciente.
Tal
e qual ao mito do Lula se espalhou pelo organismo raquítico e cheio de
verminoses do Brasil. Tivesse sido aplicada pesada quimioterapia logo no
começo, lá na década de 1980, nos tempos de metalúrgico de Lula, o
tumor teria sido erradicado em seu início. Mas por alguma razão, talvez
já cansados do poder e querendo logo passar o abacaxi adiante, os
militares não tiveram coragem.
E
o que dizer, então, do paciente - no caso de metade do povo brasileiro -
que, com o câncer em remissão, comemora a sua recidiva?
O médico chega para o cara e diz : "sabe aquele seu tumor na porta do cu, aquele seu câncer que estava diminuindo? Voltou com força total." E o paciente sai eufórico do consultório, corre às ruas soltando foguetes e rojões em comemoração.
Não
tenho dúvidas : a soltura de Lula, Zé Dirceu e assemelhados é o
reaparecimento e a recorrência de um tumor maligno que estava em tímida
remissão.
Como
comemorar a liberdade destes dois criminosos condenados? Resposta :
somos, nós brasileiros, uma nação ainda composta por muito bandidos,
vagabundos e encostados. Só um povo com tal formação e índole
comemoraria a libertação de Lula.
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