A Poesia não é musa do pensamento livre.
É sua capataz, sua feitora,
Sua capitã-do-mato.
A Poesia
Tenta impor
Significados à placidez do Nada
À serenidade do porra nenhuma.
Quer vestir,
Quer cobrir,
A nudez inocente e alegre do não-significado :
Com letras,
Que são as tornozeleiras eletrônicas,
As marcas em ferro em brasa
A castigar toda a liberdade,
Toda a brancura autossuficiente do papel;
Com palavras,
Que são as tarjas pretas dos censores
A botar cintos de castidade
No nu frontal do obsceno silêncio;
Com métricas,
Com estilos,
Que são os sutiãs
(a serem queimados)
Das grandes tetas,
Das cornucópias do livre pensar.
Por isso,
Prefiro a honestidade truculenta
Dos decretos-lei,
Dos Atos Institucionais.
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