Inomináveis Saudações a todos vós,
leitores virtuais!
Batman,
O Cavaleiro Das Trevas, de Christopher
Nolan, completou dez anos em 2018. Com um pouco de
atraso e aproveitando as poucas horas que faltam para findar o corrente ano,
escrevo este Artigo para, mais do que comemorar, exercer uma visão crítica da
atualidade desta produção no mundo como um todo. Este é um filme que eu
considero como um Clássico Cinematográfico que
ultrapassou as linhas de suas origens diretamente inspiradas nos Quadrinhos. Se
você, Ser Do Mundo, torce o nariz para “filmes que adaptam personagens e
histórias em quadrinhos”, tratando este Gênero
(Subgênero para
alguns) Cinematográfico como
perda de tempo, é melhor passar bem longe da leitura deste Artigo. Neste, está
presente a visão de um Fã, um amante da película e não a de um crítico
profissional acostumado a escrever sobre tudo que o agrada ou desagrada e aos
outros. Como sempre irei afirmar, eu não escrevo para agradar ou desagradar a
ninguém, nem a mim mesmo. O filme, também, não agrada ou desagrada a muitos
exatamente porque alguns espectadores ainda possuem um distanciamento deste tipo
de filme. Porém, na minha opinião, este segundo filme da Trilogia
Batman do Nolanverse
quebrou diversas barreiras se tornando, ao mesmo tempo, um filme cult, um
Tratado Filosófico, um
Trabalho Sociológico, um
Estudo Político, um
Estudo Psicanalítico, um
Estudo da Contemporaneidade e
uma ode à mais primordial premissa do Cinema Clássico: contar
uma boa história que cative, envolva, transporte para dentro da mesma e
permaneça n'alma de quem a assiste diversas vezes.
Não
sei quantas vezes já revi o filme, cada vez ganhando mais informações sobre o
que o mesmo diz nas entrelinhas, no não-óbvio, no que submerge no oceano
narrativo além das imagens e mensagens diretas dadas ao público. Objetivamente,
se poder dizer com bastante simplicidade que é um Filme
Policial mesclado com tons de Thriller
Político que foi muito bem executado. Subjetivamente, o
incômodo causado pelo ritmo nervoso e intrigante de todo o filme prontifica a
análises que nada possuem de simplista. Análises pessoais, afirmo, pois o que a
impessoalidade e a imparcialidade podem produzir de eficiente ou positivo no
mundo daqueles que escrevem sobre obras da Cultura
Humana? Em todo Ensaio ou Crítica, o
humano elemento da interioridade, necessária para a execução de uma escrita
centrada na racionalidade, jaz na necessidade própria do cais do coração que
interpreta o que o Ser passa
a identificar como parte da construção de sua Identidade.
Este filme faz parte de minha existência, sendo um dos meus preferidos, uma
jóia entre tantas jóias nas minhas afinidades em relação ao que gosto de
encontrar na Arte Cinematográfica.
Cada personagem de O Cavaleiro Das Trevas é um arquétipo que tal Arte faz com
que reflita cada espectador mais atento à essência da história e à
história da essência de
um filme. Heath Ledger, Aaron Eckhart, Gary
Oldman e Christian Bale,
cada um a seu modo inteligente de interpretar seus respectivos personagens,
foram a tônica principal de um simbolismo que nunca se equivoca ou mente: O
Caos.
Caos
é uma interpretação direta do que nos cerca e delimita, enfraquece e faz
desistir de maiores sonhos. Se no âmbito político se exerce uma conduta sempre
a nos delimitar e explorar, é necessário se opor mesmo que tal oposição
descambe para o enfrentamento direto. Mas, o Coringa não
estabeleceu planos, não se interessou em agir como os “planejadores”,
decidindo aleatoriamente se jogar contra o sistema a fim de enviar determinadas
mensagens a todos. Sufocando nossa alma hoje em dia temos o Terrorismo e a
questão da Violência e do Crime em
si mesmos como os motores que movimentam toda a Política no
mundo inteiro. Reverter tudo isso a favor de um jogo não planejado, emaranhar
tudo em um sistema indeterminado de consequências foi um dos mais geniais
planos arquitetados por um vilão no Cinema.
E
neste ponto, o filme ultrapassou os limites da Quarta
Parede e segue dialogando com a nossa realidade. Harvey
Dent, representante do sistema estabelecido de tudo
politicamente correto, limpo e decente, faz ecoar a presença dos raríssimos
interessados em verdadeiramente modificar o status político que hoje é mero
mercado de doação e troca com múltiplas vantagens para ambos os lados. Um herói
para tempos sombriamente marcados por Mentira e Corrupção
elevadas, um emblema e um símbolo maior de nuances anunciando um amanhã dourado
para o microcosmo de sua área de influência. Dentro da cidade doente de Gotham,
espelho da nossa Doente Civilização Contemporânea, a Deusa
Esperança estampada estava no semblante de Dent.
Junto
ao Cavaleiro Branco de Gotham
está James Gordon, um dos raros policiais honestos da
cidade adoentada. Um exemplo a ser seguido de homem que vê o sistema ao qual
pertence como uma cancerosa anomalia que precisa ser extirpada. Um guardião da Lei em
um ambiente hostil à livre expressão da mesma e que tem em seu redor mais
inimigos que amigos. Há que se ver Gordon como uma Penélope
a aguardar pelo seu Ulisses
cercada por pretendentes interessados mais no Poder
do trono vago do Rei do que em qualquer outra
coisa. E cada policial corrupto de Gotham é como um sonhador que ambiciona um
cargo mais alto a fim de melhor dominar o esquema corrupto vigente. Gordon,
então, vê em Dent o seu Ulisses,
um herói viajante por águas perigosíssimas habitadas por monstros dos mais variáveis.
Monstros
como os marginais de Gotham, o Coringa e o próprio Batman.
Este, somente ao se destacar, autoproclamando-se como “Paladino
da Justiça”, adjudicou para sua própria razão de existir
eventos dentro de elementos de um anti-sistema próximo de um justiceiro que a
nada e a ninguém responde. A consequência de sua existência é o Coringa e todo
o encadeamento de fatos que acompanham a presença de tal Ser dentro da trama.
Ele atraiu e criou todo o ambiente de tensão e ultraviolência, seja esta física
ou amoral ou sentimental, transbordando como turbilhões insanos de fatos. Rachel
Dawes (Maggie Gyllenhaal)
foi a maior vítima do Batman e de toda a caótica histeria proporcionada por sua
existência, uma Andrômeda sacrificada por um suposto herói que admitiu
sua preferência por um caminho que solucionaria tudo em Gotham.
Duas
Caras é outro filho do Batman, mais um resultado da
presença de um homem que se julga acima das humanas leis apenas por envergar os
punhos contra marginais de rua ou
de colarinho branco.
Todo o filme é uma expansão da influência do Batman na cidade, uma figura
evocando malefícios e benefícios ao mesmo tempo dentro das caóticas correntes
por ele mesmo edificadas no painel de circunstâncias diretas de suas ações.
Não
vemos no Batman de Nolan a
figura mítica e invencível que certos roteiristas deram ao personagem nos
Quadrinhos com o passar dos anos. Vemos no Cinema um homem quebrado, solitário,
frágil e atormentado que se veste de morcego para combater a Criminalidade
Urbana como um Zorro Pós-Moderno
adepto de uma Vigilância muito mais contundente e
irresponsável.
Irresponsável
porque o gatilho da loucura inteira vista no filme, não somente o desequilíbrio
organizado do Coringa, é culpa dele. Mas, o que fazer se o Governo, a
Polícia ou a Alta Sociedade não se unem para determinar a extinção
de toda Corrupção e Crime na cidade? Se formos analisar esta pergunta dentro do
universo realista de Nolan, veremos que a mais óbvia e direta resposta seria
esta: a solução seria manipular o Caos a favor da Lei e
não ampliá-lo dando a um Vigilante o livre direito de sair esmurrando
criminosos por toda a cidade. Ao trazer para si a responsabilidade
por toda uma cidade refém do Caos, Bruce Wayne e
seu Ego, encarnado pelo capuz que enverga, construiu
a própria ruptura com a civilidade, o bom senso e a Razão nos níveis que
presenciamos no filme. E quando reis de duvidosa autoridade são posicionados em
tronos de pó, todo um reino apodrecido por dentro se destrói com apenas um “empurrãozinho”...
E tudo cai como um castelo de cartas deprimente, uma casa de areia em praia
convulsionada por um arrastão ou
um tsunami consumindo milhares de vidas.
O
Coringa nadou nessas fissuras do Caos gerado pela presença do Morcego
Vigilante apenas como alguém que sobre o próprio Caos
trabalhou a fim de provar que nenhuma solução arbitrária ou planejada a fim de
se aproximar de um absurdo autoritarismo, seja este o da Lei ou da Vigilância
Mascarada, é senhora de eficiência e resultados eficazes
para o fim daquele. Ele foi muito além de provar que todo homem pode ser
corrompido; ao estrangular toda Gotham com sua atividade terrorista, ele provou
algo que não está longe da realidade deste filme em particular ou de cada
tentativa fora do Mundo Cinematográfico de
praticar uma Justiça fora dos limites do que a Civilização
Mundial preconiza como ideal para a sobrevivência
harmônica da Espécie Humana.
Se
você precisa de mais detalhes para poder perceber a verdadeira intenção do
diretor ao conduzir esta Trilogia, é melhor assistir mais vezes com bastante
atenção este filme, enfocando muito que indiretamente é repassado. Muito da
influência direta dele pode ser visto na série Arrow,
ambientada igualmente em uma cidade submetida aos ditames do Puro
Caos com um Arqueiro Vigilante que
iniciou uma onda de Loucura Vigilantista que
caminha de mãos dadas com uma altíssima criminalidade. Muito do que é discutido
no filme pode ser notado bem dentro da realidade brasileira, onde daqui a
quarenta e oito horas um Presidente da República, que
prometeu lutar pelo armamento da população a fim de que o nosso Diário
Caos na forma do cada vez mais preciso crescimento do
Crime seja combatido diretamente por aqueles que mais sofrem dentro Daquele,
tomará posse do cargo. Nolan provou também algo em seu universo, em sua visão
humana do Mascarado Guerreiro de
Gotham: o Verdadeiro Vilão do filme é o Batman.
Levem esta minha afirmação para os dois exemplos acima dados e verão quem
também são os respectivos Verdadeiros Vilões dos
mesmos.
Daqui
a um ano posso ter uma visão diferente deste filme. Daqui a dez anos posso ter
uma outra visão. Por causa disso é que a Sétima
Arte nunca morrerá, já que nos dá a oportunidade de
estudar os filmes que amamos através de diversas facetas, sentidos e ângulos.
Eu amo os Quadrinhos, uma parte do Caos Ficcional de
onde surgiu o Batman. Eu amo Batman, O Cavaleiro Das Trevas, tanto a versão de Frank
Miller quanto a de Nolan. Eu amo o Cinema, este ramo da Ordem
dentro do Caos de nossa terrestre realidade.
E
aqui há um amante da Arte De Contar Inesquecíveis Histórias
como a do filme que aqui foi neste blog uma vez mais discutido.
Saudações Inomináveis a todos vós,
leitores virtuais!
Texto escrito por: Inominável Ser
Publicado originalmente em: