Primeiro gibi, de fato. |
Hoje somos
todos cínicos. Achamos que
já lemos mais que o necessário, e de fato passamos em muitos casos –
infelizmente – assistindo as adaptações destiladas para o cinema, e zombando de
decisões editoriais em sites e blogs. Nada basta, “nada é tão bom quanto antigamente”, “isso já era velho em 86.” e o repertório se sucede. Mas todo
cínico, como eu, e a maioria que lê esse texto, já foi criança um dia, e como
tal, teve aquela revista que marcou sua infância, que mesmo não sendo “um Watchmen”, é sempre relida com o mesmo
fascínio da primeira leitura. No meu caso foi “Geração Marvel: Homem-Aranha”, nos idos 2005. Antes de tudo, é
necessária uma contextualização do “Ozy
Kid”. Um dos meus tios colecionava gibis da Marvel, antes de eu nascer.
Cresci com a curiosidade em conhecer todo esse material, mas como um
colecionador, ele não permitia, tanto por eu ter pouca idade “e não entender”,
tanto como os riscos de rasgos, bem como remover do precioso plástico, alinhado
na estante. A paixão por esse universo começou mesmo, em 2002, ao assistir o
primeiro filme do Homem-Aranha no cinema. Muita gente vê o filme hoje, e pode
achar “tosco”, entretanto para mim, “foi uma daquelas coisas que te define”.
Não havia internet, DVD, TV a cabo, vídeo game e afins, logo minhas horas vagas
eram dedicadas a desenhar olhando tudo garrancho as figurinhas derivadas
do filme. Isso pode justificar até como gastei metade da vida, na época que “nerds”
eram pessoas isoladas fazendo coisas que poucas faziam, ao contrário de hoje,
que é sinônimo de tirar fotos com encadernados.
Primeira coleção. |
Em
2003, após muito barulho, meu tio me comprou meu primeiro gibi avulso. Após eu perturbar muito, ele me levou até uma banca e
disse “escolha um”. Naquele momento, uma escolha diferente teria alterado toda
a equação atual. Sem conhecimento prévio nenhum, eu peguei a “Marvel Millenium Homem-Aranha #23”, que
acabou sendo meu primeiro e único quadrinho por todo aquele ano, relido tantas
vezes, que tenho até hoje memorizado mais do que muita coisa que li posterior.
Obviamente, todas histórias estavam avançadas, e só me coube a curiosidade de
um dia quando crescer, pegar todas as outras, o que eu faria anos depois, em
uma história para outro dia. Por dois anos, tudo o que eu lia eram edições
aleatórias que conseguia comprar em sebos, em especial formatinhos que achava
do Homem-Aranha. A real e primeira coleção, só em 2005 mesmo, quando de
surpresa, meu tio em uma visita me jogou uma “Geração Marvel Homem-Aranha #03”.
Para ele, foi só um ato normal de comprar mais um, entre milhares, no decorrer
do ano. Mas para mim, foi um dos melhores presentes que já recebi. Em principio
as edições chegaram fora de ordem aqui na cidade, mas nada importava, eu relia
tudo, examinava os mínimos detalhes, mostrava a todos que eu conhecia como um
tesouro que só eu tinha e mais ninguém.
Para uma
criança sem tantas referências, a forma como o Aranha conseguia criar
estratégias para “dar o troco” em cada novo adversário poderoso que surgia, é
algo que me motiva até hoje, por mais “bobo” que possa soar criar um “inversor
magnético” para derrubar o Abutre ou prender o Homem-Areia com um aspirador de
pó. O que eu não sabia, era de um inimigo maior, chamado “mal administração”,
vindo da própria Panini, que eu idolatrava por aquele material tão bonito no
começo dos anos 2000, que destoava em muito dos feitos pela Abril. Na época, um
formato americano de 100 páginas custava R$: 6,90. Aparentemente lógico, a
Panini colocou o preço de capa da GMHA por R$: 3,00, com ela sendo em “formatinho”
e com 52 páginas. Na #16, podia-se ser considerado o começo de um grande erro.
Reduzia-se o conteúdo para 28 páginas (uma história do Aranha contra o duende,
e só), conservando-se o preço, para na #17 ser posto o debochado “apenas 2,50”.
Há o “lado da editora” por terem que lidar com o cancelamento de “Marvel
Age: Fantastic Four”, que havia durado só 12 volumes. Porém, para uma
editora acostumada a fazer tantos “mixes”, isso seria um obstáculo? Ainda mais
se pesado o fato do título ter sido cancelado em abril de 2005, e aqui na
Brasil a publicação das mensais ter começado em maio de 2005! Havia um ano para
se pensar em com o que substituir, não foi um “cancelamento surpresa” no meio
do caminho. Até mesmo o carro chefe “Marvel Age: Spider-Man #20” havia
sido cancelada em fevereiro de 2005.
"Apenas R$ 2,50!" |
A última edição publicada no Brasil. Corresponde a Marvel Adventures #12. |
“Lá fora”,
a linha “Age” tinha sido fechada e substituída pela “Adventures”, que tinha
além de Homem-Aranha e QF, Vingadores, Hulk, Homem de Ferro e até alguns
especiais do Quarteto Futuro. Ainda assim, a Panini a partir da #21 não só
insistiu no erro editorial, como o ampliou de uma forma absurda. Ao invés de
juntar quatro títulos em um só mix, em uma revista de 100 páginas, mesmo que em
formatinho (ou mesmo formato americano por também R$6,90) por uns R$5,00, ela
dividiu em quatro gibis mensais separados, a R$ 2,50 cada, e com uma distribuição
péssima. Era preciso uma pesquisa de mercado para perceber que o leitor padrão,
acostumado por comprar o que queria em 100 páginas por um acabamento melhor por
menos de 7 reais, não daria 10 por materiais graficamente inferiores?
Minha
primeira coleção de todas acabava na #32, com um editorial cretino ao final,
agradecendo pela “jornada”. Só muitos anos depois, posso eu mesmo pegar essa
linha do começo, e com a ajuda do Raito
do Spider Team, fechar os 61
números que ela durou, que eu leve anos, mas farei. E ai estão as 5 primeiras.
Não se trata de algo com a importância histórica do Miracleman, mas foram importantes para mim, e espero que alguma
outra criança possa começa a ler o aracnídeo e ver o mundo por outros olhos,
como um dia vi, mesmo que com o passar do tempo, vire também um cínico.
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Até o próximo.
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