ANÁLISE COLEÇÃO MARK MILLAR


Um mesmo autor consegue produzir muito das HQs mais bem sucedidas envolvendo embates político-ideológicos e ao mesmo tempo, muitas das merdas mais loucas jamais lidas no passado. Ele quebra fronteiras sendo inteligente e sendo altamente estúpido ao mesmo tempo. É difícil explicar Mark Millar, às vezes você simplesmente se pergunta... "Mas porquê?!". Por que o pai dele?! Mas a própria irmã?! Não acredito, o mundo inteiro?! Não acredito que ele disse isso! Enfim, como eu falei, é difícil explicar. Curiosidade pelas estórias de Millar não deve faltar no público inteiro, afinal, uma imensa parte do que ele escreveu foi adaptado às telas com grande reconhecimento. Kick-Ass, Kingsman: Serviço Secreto, Guerra Civil... Então aqui vão uma série de análises para a coleção do Ozymandias Realista. Confira aí o que você ainda não conhece, ou gostaria de conhecer mas fica com um pé atrás...
-- Douglas Joker


POSTS DE ANÁLISE ANTERIORES:


“MEGA POST: MARK MILLAR”, é por esse nome que eu enxergo essa nossa iniciativa, mas diferentes de todos os outros mega posts do blog -- modéstia a parte – eu considero esse o mais “completo” sobre um autor desde um ano e pouco de atividade. Pode-se ter faltado várias obras do Millar como sua fase em Autorith ou mesmo “Kingsman”, “Huck” e “O Destino de Júpiter”, mas Joker e eu tentamos englobar o máximo que conseguimos, somando nossas leituras para trazer esse post a seguir. Na década passada, ouso dizer que ele foi a “caixinha de surpresas” da Marvel, não que não houvesse tão bons ou melhores que ele, mas Mark Millar era o tipo versátil que conseguia dar unidade e relevância a quase qualquer título que a Marvel lhe deu. Relembre e conheça novas leituras, tudo ai ta para download. Corra, promoção por tempo limitado. 
-- Ozymandias Realista

"Nunca subestime o poder da mente humana. Nós carregamos a arma mais perigosa da Terra dentro de nossas caveiras."



Kick-Ass


"Cristo, cara. Por que as pessoas querem ser a Paris Hilton e ninguém quer ser o Homem-Aranha?"

A loucura dessa série já começa pelo título. Há muitas estórias com a ideia "mas e se super-heróis existissem de verdade?". Grandes autores já fizeram isso e costuma ser sempre muito interessante. Stan Lee fez heróis com problemas reais como Homem-Aranha e X-Men, Alan Moore veio com Miracleman e Watchmen, Frank Miller fez o Cavaleiro das Trevas. Millar faz Kick-Ass. A diferença principal é que Kick-Ass é sujo, indigno, desonroso e o mais politicamente incorreto possível. O pequeno nerd adolescente Dave Lizewski tem uma vida entediante e é viciado em histórias em quadrinho. Utilizando os limitados recursos que estão ao seu alcance, em um nem tão belo dia Dave resolve se tornar um herói, se ferrando tanto quanto é possível erguer adjetivos como desonrado, indigno e medíocre. Com um humor negro tão ousado que em um ponto você não acha mais graça, a trama vai se desenvolvendo através dessa ideia, usando como cenário a depreciação mais forte possível de tudo que protagoniza nosso mundo moderno ocidental: nerds, pessoas reprimidas, amargas e frustradas, cultura pop, Internet, redes sociais e afins. Fecha com os desenhos de Romita Jr. que servem como uma luva, você tem uma estória violenta e inovadora que devastou milhares de leitores.





Hit-Girl


"Eu odeio ter que dizer isso, Mindy, mas você é uma garota... e se você quer ter amigas da sua idade você precisa pelo menos fingir que tem coisas em comum com elas."

Pode parecer uma série solo da Hit-Girl, mas podia se chamar "Kick-Ass 2". Mindy está treinando o herói novato Dave e dando continuidade aos seus planos contra o crime organizado. Personagens como Red Mist e o próprio Kick-Ass recebem bastante atenção. A trama é um verdadeiro interlúdio entre a primeira e segunda parte, ao mesmo tempo que a Hit-Girl recebe mais atenção, mostrando suas dificuldades em se encaixar em uma vida normal com uma identidade secreta, após os acontecimentos anteriores. Por ser um tipo de interlúdio, acaba não sendo tão impactante quanto o original, mas é divertido.




Kick-Ass 2


"Quando esse negócio ficou grande, comecei a ler um monte de artigos, de psicólogos perguntando porque fazíamos aquilo toda noite. Nós estávamos loucos? Éramos solitários? Ou só viciados em gibis? A resposta, claro, era uma mistura das três..."

Na primeira parte já não deixava de aparecer as consequências que era as pessoas resolverem se tornar super-heróis. Mas tudo estava mais puxado pro humor negro, mesmo havendo algumas partes bem pesadas. Na segunda parte essas consequências vão além, muito além. O peso é tanto que há um momento que já não há mais humor algum, apenas tragédia com terrorismo, violência contra crianças e mulheres, vingança, calúnias pessoais e a lista escrita com sangue só aumenta. No princípio os esforços de Kick-Ass e Hit-Girl levam a formação de mais heróis, mas Millar não demora muito pra mudar o direcionamento. Vale adicionar que esse tom não está presente no filme de 2013, que aliás é bem mais engraçado e divertido, chega a ser leve perto da HQ.




Kick-Ass 3


"Por que eu tô com o pressentimento horrível que nós nunca mais vamos nos ver?"
"Porque cê é um viadinho, Dave."

É melhor de três. Na conclusão Kick-Ass está reunido com o grupo Justiça Eterna, mas as coisas vão tão lentas quanto poderiam ir. Um tio mafioso do Mother-Fucker vai a cidade para vingar a morte do seu irmão e causar uma revolução no mundo do crime organizado, o que obviamente envolve se livrar dos "fantasiados". Genovese é meio que o novo inimigo, a vida de Dave e seu amigo Todd continuam deprimentes conforme eles seguem uma conduta que, mesmo dentro da própria estória, é claramente não recomendada. Bem, esse terço da série é o menos animador. Não se trata de ter se tornado repetitivo, mas aqui nas 8 partes não se desenrola tanta coisa, o desenvolvimento é bem menos cativante. Bem, se você leu até o segundo, com certeza não vai deixar de conferir o último, que afinal, também não chega a ser ruim, e o final é um tanto definitivo.

Cigarro, whiskey e cartinhas da Hello Kitty. Essa è a Hit-Girl.



Nemesis


"Hahahahaha! Oh deus. Isso não tem preço! Não tem! Eu sou muito rico pra falhar. Você não entende? Pessoas como eu nunca perdem!"

A princípio essa estória foi vendida com o conceito de "como seria o Batman se ele fosse um vilão?". No final das contas tinha nada a ver, puro marketing. Mas isso não impediu a estória de ser um sucesso e se tornar consideravelmente cult. Vira e mexe ouve-se rumores de que uma adaptação pros cinemas pode estar chegando (já está sendo bolada). Nemesis é um super-vilão, um caçador de policiais extremamente inteligente e perigoso, sem qualquer sensibilidade e equipamentos de sobra. Depois de um ataque no Japão, ele vai atrás de Blake Morrows em Washington, onde a estória se foca. Em desafio contra Morrows, Nemesis monta armadilhas sádicas que realmente chocam o leitor, algumas passagens são tão pesadas que chega a parecer que há alguma falta de equilíbrio na HQ. Em 4 rápidas partes se passa uma aventura chocantemente violenta e surpreendente. Vale dizer que é bem blockbuster, há várias imagens chocantes de McNiven (desenhista da Guerra Civil, onde já vamos chegar) e as insanidades do Millar, mas nenhum tipo de mensagem maior muito profunda ou reflexiva.


A HQ foi feita um pouco depois do filme "O Cavaleiro das Trevas" de 2008. Além de parecer que há várias influências do filme, na época haviam casos de pessoas cometendo crimes alegando estarem tentando ser que nem o Coringa do Heath Ledger. Chega a parecer que o escritor se inspirou nessa ideia de algumas pessoas quererem ser super-vilões, mas Millar afirma que a ideia surgiu de não haver um quadrinho protagonizado por um super-vilão que seja realmente do mal, e Nemesis é claramente o caso.

OBS.: Faz parte do mesmo universo de Kick-Ass e Hit-Girl, mas isso é mais uma curiosidade mesmo, há nada de fundamental entre as estórias. É que nem os filmes do Quentin Tarantino, por exemplo.




Superman: Entre a Foice e o Martelo


"Eu ofereci a eles Utopia, mas eles lutaram pelo direito de viver no Inferno."

Por mais que a Marvel tenha ficado famosa pela linha de estórias "O que aconteceria se...?" eu creio que essa do Superman foi o melhor trabalho desse tipo. Pois "Entre A Foice e o Martelo", por mais cativante que seja, se trata do desenvolvimento de uma simples possibilidade: e se o foguete que trouxe o último kryptoniano tivesse aterrissado no território da União Soviética? Tcham djam djam...



Apesar de ser o mesmo criador do polêmico Kick-Ass, aqui Millar mostra que não é um fanfarrão! Com os desenhos de Plunkett (100 Balas) ele vai montando uma contextualização histórica de primeira demonstrando como um símbolo, que não deixou de ser também uma excelente arma, levou os socialistas a mudarem a ordem das coisas. Já é irado só por isso, mas eles não desconsideram o resto do Universo DC. Coadjuvantes do Superman tanto quanto Batman, Mulher-Maravilha e Lanterna Verde são peças do novo jogo que se apresenta nessa realidade paralela. O que dizer então do Lex Luthor?! Com uma das suas representações mais marcantes??? "Entre a Foice e o Martelo" é uma viagem total, o tipo de coisa que me faz pensar "é pra isso que servem os quadrinhos". Leva em consideração ainda que nos seus primórdios o Superman lutava defendendo o clássico american way of life, hehehe.


Aviso aos radicais malucóides: essa não é uma HQ capitalista ou socialista, mas um ótimo trabalho experimental de criatividade exemplar, principalmente quando testa os limites da utopia. Creio poucas vezes ter visto exemplos que se comparem.



Guerra Civil


"De que lado você está?"

Opinião praticamente unânime dos fãs de HQs que esse foi o melhor mega-evento de super-heróis nas últimas décadas. Graças a um combate entre jovens heróis e vilões que estava sendo gravado, todo o país vê o extermínio de crianças em uma escola. Chega o momento que o Homem de Ferro previa, quando o país os pressionaria e eles teriam que escolher se ficariam do lado de um registro de identidades secretas pelo governo ou contra. Essa ideia de registrar heróis a favor do governo não era em si novidade, os Vingadores já brigavam contra isso há muito tempo, pois a identidade secreta era uma questão de segurança. Até os clássicos dos Anos 80, "Watchmen" e "Cavaleiro das Trevas", contavam parcialmente com essa contextualização. Mas o que marca a grande série foi o ambiente todo ideológico. Isso que tornou tudo inédito! Você é pego de surpresa o tempo todo descobrindo se Capitão América, Homem de Ferro, Dr. Estranho, Demolidor e Sr. Fantástico são conservadores, ou liberais, ou indiferentes, ou rebeldes ou idealistas. Os personagens nunca haviam sido colocados dessa forma!


Todos os personagens mais influentes, como o Homem de Ferro, são vistos tendo que tomar escolhas muito difíceis, que vão além de bem e mal ou certo e errado. Uma estória tremendamente adulta e não por se utilizar de sexo ou violência, mas temas críveis e pertinentes. Claro que na época ela foi ainda mais legal por envolver todos os tie-ins, principalmente os do Homem-Aranha e do Pantera Negra, sem falar do Hulk que estava em outro planeta, mas você ainda pode se divertir muito lendo a parte central que foi escrita por Millar e justamente desenhada por Steve McNiven. Pode ser facilmente encontrada em encadernados, agora próximo da estreia do filme.




Quarteto Fantástico Ultimate



“Bem, é um prazer para nós conhecer você, carinha. Estávamos a alguns meses tentando colocar algumas coisas dentro da cartografia da região, quando começaram a aparecer esses carrinhos! Pensávamos que estávamos ficando loucos.”

Mark Millar e Brian M. Bendis haviam sido os arquitetos dos pilares do universo ultimate. Nada mais justo, que unir ambos para escrever o Quarteto Fantástico, título que havia sido o pilar da Marvel tradicional. Em tese, poderia até ser mais interessante que os outros que haviam sido estabelecidos (XM, OS e USM), porém na prática foi um título que oscilou muito na qualidade, tendo seus melhores roteiros nas mãos de Mark Millar mesmo. O primeiro arco chamado “O Fantástico”, foi o que serviu de base para o último questionável filme do Quarteto. Só que diferente do filme, aqui a reformulação é muito bem desenvolvida, e poderia ter até melhorado mais se não fosse um pequeno detalhe... De Millar e Bendis largarem o título após 4 edições, deixando nas mãos de alguns roteiristas, em especial Warren Ellis, que acabou exagerando muito no conceito de criar do zero, chegando ao ponto de seu nulo “Victor Van Damme”, algo que veio depois a ser corrigido por Millar quando voltou ao título, dessa vez com Greg Land nos desenhos. Nesse “segundo round”, Millar acertou em cheio em apenas dar novas versões para as primeiras histórias do Quarteto lá dos anos 60, em especial uma a que Doutor Destino e Reed Richards trocam de corpo, embora a melhor dessa fase Millar / Land para mim seja o arco “Presidente Thor”, uma aula de criatividade e fantasia de como as histórias do QF podem e devem ser.




Os Supremos


Sem delongas, já existe um Mega Post sobre “Os Supremos”, clique AQUI para acessá-lo, lá tem do Vol. I ao V.


Wolverine: Inimigo do Estado ( Wolverine Vol. 3, #20 à #31 )


“—Quantas pessoas fazem parte da Hidra e do Tentáculo?
-- Hã... A última estimativa eram de 1.800 no Tentáculo e cerca de 49.000 agentes na Hidra.
-- E quanto a essa seita mutante... Os sacanas que o Gorgon juntou no Amanhecer da Luz Branca?
-- Hã, não sei, entre quinhentos e seiscentos.
-- Então dá no máximo 52.000 né?
-- Sim, mais ou menos. E daí? O que vai fazer Wolverine? Sair por ai e matar um por um?
-- Velhinho esperto."

Se você se impressionou com a maneira como a Hidra é mostrada é mostrada no longa “Capitão-América – O Soldado Invernal ou como o Tentáculo é mostrado na segunda temporada do Demolidor, vai se assustar com a megalomania que ambas mostram nesse quadrinho, ainda mais se tratando do roteiro de Millar, que tende a conduzir toda a matança conduzida por Logan em quase todas as páginas dos quadrinhos como um carro desgovernado cujo freios foram arrancados. Passado o primeiro arco nas 6 edições iniciais, já se foi criada mais guerra e caos na vida do Wolverine que os 20 números anteriores juntos de sua publicação. Passado para o segundo e último arco sobre vingança, parte-se em uma destruição ao estilo das de “Autority” até o duelo final contra Gorgon, o inimigo imbatível criado especialmente para aqui, que é virtualmente invencível até ser derrotado de uma maneira totalmente aleatória – caracterista comum entre essas várias histórias desse post --.
Se formos analisar a maneira com que Logan está no universo atual, tendo sido “morto” na descartável saga “A Morte de Wolverine”, saga que gostaria de acrescentar, parece querer concorrer em ser pior que a “A Saga do Clone” que fizeram com o Aranha nos anos 90, chegando ao ponto de terem que trazer o Wolverine da realidade do “Velho Logan” para o universo tradicional – ou seja lá o que é isso, pós Secret Wars --, um coitado que ganhou um título para matar o Hulk – que virou Amadeus Cho – e o Caveira Vermelha – quem ##### sabe onde ele ta? Ou se importa? --, ao ponto de na edição #04 saber que ali é outro universo e ele não serve pra ##### nenhuma, há não ser ir para uns X-Men que ignorou a cronologia de 2000 para cá, e agora vão lutar contra Apocalipse só por causa do filme da Fox... Bem, exagerei, mas espero que tenha me entendido. Essa não é “Uma das melhores histórias do Wolverine”, mas é uma que você sendo fã do Logan, lê e pensa “Desgraçados, tragam Mark Millar e o Logan de volta pra Marvel, quero mais disso.”

Bem que depois desse post eu poderia fazer um post “Os vilões mais apelões criados por Mark Millar...”, ficaria ainda mais extenso que esse...




Quarteto Fantástico Tradicional ( #554 Á #569 )


“Pare com a tagarelice garoto, não viemos para travar uma luta... Viemos para punir.”

A Marvel nesse tempo – antes de sua guerrinha com a Fox – queria colocar o Quarteto Fantástico no topo novamente. Seu último grande momento antes disso havia sido na sempre elogiada fase de Mark Waid, e cabia a Millar / Hitch, no ápice de suas carreiras após os Supremos Vol. I e II essa tarefa, algo que diga-se de passagem, gerou muita expectativa, e infelizmente não correspondeu a maioria das pessoas, talvez porque esperassem mais um “Supremos III” do que uma própria história do Quarteto, ou mesmo colocaram na mente “Eles não podem fazer algo minimamente abaixo dos Supremos II!” O quadrinho sofre com algumas precipitações, apesar de serem 15 edições, o que vale por mais de um ano trabalhando nesse material, existem partes que simplesmente são empurradas com tudo, e me refiro a perto do confronto com o vilão criado para ser o mais poderoso que o time de Richards já enfrentou. Tirando isso, é empolgante, questionador e engraçado na medida certa. Os desenhos de Hitch possuem um realismo tão palpável, que mais parece que vimos um filme ideal do Quarteto Fantástico com 3:30 de projeção, que um quadrinho.

Existe também algumas particularidades que Mark coloca no seu Quarteto, tanto nesse, quanto no Ultimate, a exemplo do Richards sempre conseguir “aumentar o próprio raciocínio em níveis absurdos”, Susan ser uma mulher mais inteligente, ativa e independente – fã até do Bobby Dylan--, Coisa e Tocha terem uma amizade mais... Sádia, sem ficarem se esmurrando de dez em dez segundos, Johnny aqui nem mesmo é o babaca que costuma ser. A “descaracterização” que parece ter incomodado muita gente mesmo é a maneira que o Doutor Destino é apresentado, tendo um “mestre”, o que para mim não se tornou um problema, visto que o truque final do Destino é algo que supera até mesmo o do Ozymandias em Watchmen... “Sou um ser infinitamente superior agora, Richards. Todas as questões de rivalidade com você foram ajustadas... Dor infinita foi um preço bem vindo a se pagar.”, eu sou o único que acha que isso genial?!!!






Homem-Aranha: Caído Entre os Mortos



“—Por favor, Osborn. Você tem 55 anos! É um senhor de meia-idade!
--Fala o professor de segundo grau que se veste como uma aranha toda a noite. Eu sempre pensei que seu futuro lhe reserva-se muito mais, Peter. Francamente, você enfrentou o fluído de teia enquanto era adolescente! Toda essa inteligência desperdiçada em briguinhas juvenis.
-- Que papo é esse? Você é duas vezes mais inteligente do que eu! Já podia ter descoberto a cura pro câncer se não fica-se com essa besteira de Duende Verde.
-- Ah, mas essa é a diferença entre nós dois, Parker... Eu não dou a mínima para essas coisas!”

Parker e Osborn, ou como preferem ser chamados: Aranha e Duende, brigam há anos. Porém nunca seus confrontos, mesmo resultando em mortes de inocentes tinham se concluindo com Osborn indo para a cadeia. Quando um ciclo vicioso desse é quebrado, entra em ação um dos mais temíveis ardis e Osborn de sequestrar –mesmo encarcerado— a Tia May. Agora resta ao Homem-Aranha correr contra o tempo para resolver esse enigma ao ponto de recuperar sua tia. A questão principal não é saber se ele vai conseguir – afinal, tanto Tia May, Alfred do Batman e Chas de Hellblazer são imortais... --, mas como ele vai conseguir, e com quem vai ter que firmar pactos se quiser progredir. E não se trata só de uma batalha psicológica quase ao nível do que o Rei do Crime faz com o Demolidor em “Queda de Murdock”, se trata de um teste contra seus principais adversários, transcendendo o embate físico e mostrando os dois lados da moeda, em especial um determinado familiar do Abutre. O grande mal de tudo mesmo, é a leitura ser avassaladora e preparativa para um confronto final memorável, que não vem, deixando só um anticlímax e um leitor decepcionado.

Entretanto, como deve perceber nas histórias do Millar – mesmo as que ele escreve o final com preguiça – é que elas são uma montanha russa de emoções, as últimas páginas, eu garanto, fazem o leitor olhar de maneira inversa a todas as motivações que pensou que o Duende Verde tivesse. Não chega a ser um final como o de “Piada Mortal”, mas tira um pouco desse batido “O Duende quer matar o Aranha só porque ele é mal”.






Ultimate X-Men ( #01 à #33 )



“--... A morte de David provou que sou um pai inadequado. Como pode ser confiado a mim moldar as mentes da próxima geração, quando não pude criar nem ao menos um menino? Eu sou uma fraude Erik, um idiota. Qualquer um que ache que minhas ideias tem algum mérito merece ter a cabeça examinada.
-- Bem, francamente, professor, eu tomo isso como um insulto...”

Alguém me corrija se eu estiver errado, mas acho que esse título foi o que Millar passou mais tempo escrevendo de maneira ininterrupta. Apesar de diversos trabalhos de qualidade ímpar, ainda considero –e sou uma minoria- Ultimate X-Men como o melhor trabalho do escocês. Não se tratava de ação e ser engraçado como fez Wheldon / Cassady, ou mesmo de maneira excessivamente explicada como feito nos anos 80.
Muita gente argumenta que Millar só sabe pegar histórias de filmes e outros quadrinhos de maneira descarada e fazer funcionar nos enredos dele. Pode ser uma meia verdade. Eu não sei se os elementos, incluindo os uniformes pretos, foram pegos do X-Men 1 (2000, Bryan Singer), ou se o filme que se inspirou nesse quadrinho. O que posso dizer é que todas as queixas e admirações que alguém possa a ter com a “franquia X-men” até hoje, estão corrigidas aqui, até mesmo os dois primeiros arcos (“O Povo do Amanhã”, e “Arma X”) seguem a sequencia dos dois primeiros longas, com o adendo, reitero, de possuir uma qualidade anos luz.  
Acho que por causa dessa HQ que eu não gostava do Hugh Jackman como Wolverine (pelo menos até Wolverine Imortal e X-men: Dias de um Futuro Esquecido), o Wolverine daqui é o mais cinematográfico possível, além de ser violento e macho alpha como deve ser – sem falar de canalha inicialmente --, nas palavras dele, “eu sou profissional, xará”. Tira-se aquela inocência de alunos uniformizados lutando contra uma irmandade de mutantes e tudo acabando bem no final, para se fazerem perguntas que deviam ser feitas antes: E se o Professor Xavier todo esse tempo é o vilão? Quem garante que ele não está plantando pensamentos na cabeça das pessoas? E se a adversidade entre ele e Magneto for só uma fachada? Te mesmo aqui Magneto ganha contornos mais realistas, fazendo com que o leitor chegue a torcer para ele, em especial no último arco “O Retorno do Rei”.

Ciclope sai dessa definição de “nunca ser o líder” e ser o “cãozinho obediente do professor” para ser alguém questionador, que quer resolver as coisas, além de obviamente ser um excelente líder de campo. Só não deixa de ser corno. Ele é o verdadeiro “profissional” e “maduro” da equipe para aprender a lidar e perdoar alguém como Logan. Não poderia deixar de mencionar Jean Grey ainda mais... Pirada? Tempestade e seu relacionamento com Fera ao mode de “A Bela e a Fera” dos dias atuais, Colossus e sua paixão que não pode ser correspondida e Homem de Gelo, manipulado por todos os lados. É basicamente um quadrinho para mostrar que muitas vezes “o fim justificam os meios”, nada mais justo quando se trata de mutantes entrando em extinção, ou mesmo tentando dominar a espécie inferior... 



 https://mega.nz/#!xAVwzTaI!CsQ0SFwJKWl4eRBF0LL8GAOMcbMUEehctw_ZS5y0CZQ



Wolverine: O Velho Logan


"Você não deveria me deixar nervoso... As pessoas se mijam todas quando isso acontece."

O Velho Logan sintetiza muito bem vários elementos que representam como Millar conta uma boa estória. É violento, chocante, surpreendente, direto e arrasador. Só não há grandes reflexões socio-políticas, mas a trama do Wolverine nessa aventura estilo road-movie é única, a primeira experiência de ler Velho Logan é quase indescritível, tamanha as escalas de absurdo e criatividade que o cara quebrou. O protagonista realmente não é o Wolverine, mas o Velho Logan, um fazendeiro miserável que não coloca as garras de adamantium pra fora há 50 anos e tem que pagar impostos abusivos para uma gangue de netos do Hulk... os Banners...


Os desenhos bem detalhados são de McNiven novamente, da Guerra Civil. A trama segue o estilo pós apocalíptico de "Mad Max", o Universo Marvel está completamente destruído, eles não te dão de bandeja a origem de tudo, mas os vilões derrotaram os heróis e dividiram a América entre eles. Para pagar os impostos e salvar sua família, o Velho Logan resolve ajudar o aposentado Gavião Arqueiro com um serviço, viajando um longo caminho no bug do (falecido) Homem-Aranha e se recusando a expelir as garras de qualquer maneira. A trama se baseia no drama chocante, com várias partes que te deixam sem reação, então não vale a pena ficar contando, descubra por você mesmo. A narrativa é simples e praticamente se baseia em ser irada, há até diálogos como

- Oh no...
- Oh yeah!


Concluindo, um presente para todos os fãs da Mitologia Marvel. Apesar dela ter sido feita em pedacinhos nessa estória... Foi lançado em encadernado recentemente pela editora Salvat, excelente material.






Créditos:

Douglas Joker: Kick-Ass, Hit-Girl, NemesisSuperman, Guerra Civil e Velho Logan.

Ozymandias Realista: Quarteto Fantástico, Quarteto Fantástico UltimateOs Supremos, Wolverine -- Inimigo de EstadoHomem-Aranha e Ultimate X-Men.





O som acima é o que mais se encaixa com essa imagem... 

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