“Quando
você souber da verdade... Jamais olhará o céu da mesma maneira.”
Editora: Marvel Max
Número de edições: 18
Tamanho: 437 MB
Roteiros: J. Michael Scracz
Desenhos: Gary Frank
Poderia ser um
conto versando sobre esperança e aceitação, assim como foi Kal-El em Actions e Comics, se não fosse a pretensa introdução do exército, do real, do indignante, embora ainda universo
fantástico. Aqui, a nave com o bebê não será criada por um gentil casal, mas
por militares contratados a se passar por pais. Tudo monitorado, temido, manipulado.
Está aqui a base argumentátiva que leverá a jornada de Hiperion em “Poder
Supremo”, não um herói adorado, mas uma arma que terá muitos poderes, menos o
de ser um homem, de ser humano e aceito pelos demais. Se aliado dos EUA, uma
bomba a ser usada nos inimigos, caso contrário, um transtorno político para a
nação.
Assim, Mark Milton –
nome dado ao alien pelo Estado – passa quase toda sua vida em um lar
artificial, que nada mais é do que uma base monitorada 24 horas por dia. Como
um deus enclausurado, Mark pode ver ao longe outras crianças, pode ver cada
átomo de uma grama de jardim, entretanto por lealdade e esperanças de ser amado
por sua família, vai aguentando todo o “treinamento”. Isso, palavra exata, tudo
o que lhe é passado é parte de uma doutrinação exacerbadamente nacionalista.
Aulas particulares, notícias de TV, filmes, conversas dentro de casa, uma
espécie de Matrix personalizada que atenda o propósito de que quando grande,
Mark lute no Exército por “seu país”, traduzindo luta em manter os Estados
Unidos como nação invencível. Tudo seria mais fácil, se houve-se um sentimento
de empatia.
Não de Mark, tentando se adequar a todos os padrões de disciplina,
mas de todos ao seu redor, incluindo os pais que o olham como uma bomba próxima
a explodir a qualquer hora, o que faz dele um organismo invasor em qualquer
cenário – dos poucos – que transitou no período de nascença á puberdade. A
noção de incompatibilidade é a kriptonita de Hiperion, não há como enquadrar um
deus em um conjunto de leis que não surtiriam efeito de punição, mas nem mesmo
um deus está livre de um dos mais atroz sentimentos: a solidão. “A pele dele
pode ser invulnerável, mas não o coração.”
Apesar dos
arquétipos fantásticos da “Liga da
Justiça”, “Poder Supremo” não é um enredo de super-heróis. Não existe
espaço prático para boas intenções, a definição didática de “bem e mal”, tal
como muitas vezes o “bem” não vence no final. Assim como a vida, só há lugar
para “o sistema”, quando Mark deixa de ser um rosto representante disso, se vê
sobrepujado por todas as variáveis maléficas que o sistema tende a impor,
objetivando aos inimigos retornarem a vida de mentiras. Logo, alguém criado
pelo governo, descubra que tudo lhe dito na vida são farsas, que mesmo salvar
pessoas por sua escolha é apenas uma manobra militar para “atacar enquanto
estão olhando para o outro lado”, bem como não existir para militares e
governantes, ninguém único. Todo mundo é uma ferramenta a ser usada em
determinado tempo até ser substituída por uma derivada ou melhor. De acordo com
as ações do sistema, um vilão homicida em massa não é necessariamente um
problema se responder ao sistema em missões secretas, mas um herói que se rebele
– e prenda o vilão -- , por insubordinação é transformado de ideal americano à
alien invasor.
“A Desconstrução de
Mark Milton” – uma homenagem ao capitulo existencial “O Relojoeiro” de Watchmen
– é um dos ápices de injustiça e guerra psicológica a fazer alguém se enquadrar
“nas leis”. O tipo de material onde nem os mais cínicos conseguem ficar
indiferentes. Em termos indelicados, “Poder Supremo” é “o anti-Reino do Amanhã”
(Mark Waid / Alex Ross). O público, além de mais hostil, não é totalmente
salvo, já que os que deviam impor a lei, são os primeiros a criarem monstros
para violá-la. O mundo não quer um salvador que não seja da mesma espécie, que
a mídia não aprove. O mundo, sempre ele, é uma esfera moldável pelo poder
público, que teme um poder maior (divíno? Alien?), devido a isso, não haverão
super-heróis, até porque a mínima conceituação disso não será tolerada por quem
faz as regras. No máximo essas pessoas, com talentos que excedem a lógica, não
obstantes seus atos para fazer a diferença, sempre serão tidos como infratores,
porque aquilo que não pode ser controlado, tem que ser caçado. A união do time
aqui, ao contrário da obra de Waid, não será tão iluminada e renovadora, será
mais volátil, explosiva, incontrolável. Visto algumas engrenagens que tendem –
por suas razões – a não se encaixar, a exemplo do Falcão.
Para os novatos, em
termos resumidos, Falcão é uma contraparte do Batman, das milhares porém negro,
mais rancoroso, com doses ainda mais intensas de paranoia e desconfiança, além
do diferencial de matar e ser racista, isso devido a seus pais, serem
assassinados em sua frente por intolerância racial. O discurso do Falcão é
inspirado no famoso ativista negro Malcom X, a ideia do revide, de não dar a
outra face, de tomar o seu espaço com as próprias mãos. Não por acaso, Falcão
dá prioridade a resolver crimes raciais. O individuo que ele consegue ter algum
entrosamento, é Stanley. Velocista também negro, que torna-se melhor amigo de
Hiperion, o único, de fato. Em determinado momento, quando confrontado por
Hiperion de Stanley ser um cara gentil, e não usar sua cor para justificativa
de ódio contra todos, Falcão ataca “Ele é um negro da casa grande, enquanto eu,
um da senzala”. Perto de Falcão, Bruce Wayne é um cara sorridente... Um
detalhe, dentre vários de “semelhanças com obras posteriores plágio? é o
Mercúrio do ultimo filme dos X-Men, lembrar em muito Stanley, ou como é
conhecido “O borrão”.
J. Michael
Straczynski é um dos roteiristas mais criticados negativamente nos últimos anos. Infelizmente muita gente só sabe associar o nome dele ao “Pacto que o
Aranha fez com o capeta”, como se mais de vinte anos de vida profissional
pude-se ser medido em um arco de 100 páginas. Me parece ser ignorado nos dias
de hoje que Stracz foi um dos dez melhores roteiristas de quadrinhos da década
passada, bem como um dos cinco melhores da Marvel, também na década passada.
Mas o Parker-Octopus mangá ou Parker Stark ninguém vê né? No começo dos anos
2000, tempo que a Marvel estava se restabelecendo e investindo em um selo
adulto chamado Max à confrontar a Vertigo -- atuante desde o final dos anos 80 – retomar plágios cara de pau da Liga da Justiça teria tudo para ser um tiro no
pé. Isso em ideia, pois na prática foi entregue um material de grandeza similar
á Miracleman – uma de suas prováveis inspirações – ou Watchmen – idem --. De
Super-Homem genérico sem carisma, Hiperion vira uma persona complexa, um alien
que tem tirado de si o direito de ser o Super-Homem em seu mundo adotivo. Seria
uma possível metáfora a representação do Super-Homem da DC para as pessoas?
Primeiro um ser idolatrado por gerações, para virar um simbolo que não consegue
ser encaixado nos dias de hoje? Que foi “ultrapassado”? Pode-se dizer que sim.
Cavaleiro das Trevas I e II também inspiraram alguns momentos.
Imprescindível dizer
o quanto esses 18 números podem ter servido de inspiração – mesmo que involuntariamente – para muito material do “meio nerd”: Guerra Cívil (embora nessa, MJS estivesse
envolvido), Injustiça (Tom Taylor), até mesmo o filme “O Homem de Aço” de
Snyder e a animação LJ: Deuses e Monstros. Quando você lê “Poder Supremo”,
jamais olha o mito de um “Super-Homem” no mundo como algo bobo novamente. Sua
imaginação se direciona a isso:
Nota: 10.0 -- Exato. Meu primeiro 10 esse ano. Acho que isso faz dessa HQ, a futura melhor do ano no post dos melhores de 2015.
-----> Ou leia online: <------
1 Comentários
incolsimpe Melinda Prahl click here
ResponderExcluircomlalerhe