Enquanto a primeira
parte do post do Hércules foi recebida de forma quase apática, a segunda relatando
seus trabalhos virou um “recorde de audiência”, essa terceira parte é uma
leitura mais breve, mas não menos interessante. Lembrando que para ler as
partes anteriores, basta clicar nos título abaixo:
3 — aventuras
secundárias, praticadas no curso dos Doze Trabalhos;
4 — gestas independentes do ciclo anterior; e 5 — ciclo
da morte e da apoteose do herói.
Citando apenas que
essa transcrição se refere das páginas 117 á 122:
E você achando que o Leo Stronda é "grande"-- |
As
aventuras secundárias, os p£rerga (párerga), "as gestas acessórias",
praticadas no curso dos Doze Trabalhos, foram quase todas comentadas neste ou em
capítulos anteriores, mas teremos que completá-las.
Uma
delas, certamente das mais importantes, foi a morte dos Centauros, seres
monstruosos, metade homens, metade cavalos. Esse episódio da vida tumultuada do
herói está ligado ao Terceiro Trabalho, a caçada ao Javali de Erimanto.
Quando
o filho de Alcmena se dirigia para a Arcádia, passou pela região de Fóloe, onde
vivia o Centauro Folo, epônimo do lugar. Dioniso o presenteara com uma jarra de
vinho hermeticamente fechada, recomendando-lhe, todavia, que não a abrisse,
enquanto Héracles não lhe viesse pedir hospitalidade. Segundo outra versão, a
jarra era propriedade comum de todos os Centauros. De qualquer forma, acolheu
hospitaleiramente o herói, mas tendo este, após a refeição, pedido vinho, Folo
se recusou, argumentando que o único vinho que possuía só podia ser consumido
em comum pelos Centauros. Héracles lhe respondeu que não tivesse medo de abrir
a jarra e Folo, lembrando-se da recomendação de Dioniso, o atendeu. Os
Centauros, sentindo o odor do licor de Baco, armados de rochedos, árvores e
troncos avançaram contra Folo e seu hóspede. Na refrega, Héracles matou dez dos
irmãos de seu hospedeiro e perseguiu os demais até o cabo Mália, onde o Centauro
Élato, tendo se refugiado junto a Quirão, foi ferido por uma flecha
envenenada de Héracles, que, sem o desejar, atingiu igualmente o grande
educador dos heróis, provocando-lhe um ferimento incurável, conforme se
comentou, em nota, no Vol. II, p. 90. Quando se ocupava em sepultar seus
companheiros mortos, Folo, ao retirar uma flecha do corpo de um Centauro,
deixou-a cair no pé e, mortalmente ferido, sucumbiu logo depois. Após fazer-lhe
magníficos funerais, o herói prosseguiu em direção ao monte Erimanto.
Uma
outra aventura de "estrada" está vinculada ao Sexto Trabalho,
a limpeza dos Estábulos de Augias. Banido da Élida pelo rei, Héracles
refugiou-se em Oleno, na corte de Dexâmeno. As versões diferem muito, mas todas
convergem para um ponto comum: a tentativa do Centauro Eurítion de violar
Hipólita ou Mnesímaca, filha de Dexâmeno. Conta-se que o rei dera a filha em
casamento ao arcádio Azane. Eurítion, convidado para o banquete das núpcias,
tentou raptar a noiva, mas Héracles, chegando a tempo, o matou.
Uma
outra versão dá conta de que o herói seduzira Hipólita, mas prometera que, após
executar sua tarefa junto a Augias, voltaria para desposá-la. Na ausência de
Héracles, Eurítion resolveu cortejar a moça. Dexâmeno, por medo do violento
Centauro, não ousou contrariar-lhe a vontade e marcou o casamento. Foi então
que o herói chegou e matou a Eurítion, casando-se com Hipólita. Algumas gestas
de Héracles são praticamente independentes do grande ciclo dos Doze
Trabalhos. Uma delas já havia sido anunciada pelo próprio herói, que
prometera regressar a Tróia, para vingar-se de Laomedonte, que não lhe dera a
recompensa prometida pela libertação de Hesíona, segundo se viu mais acima, por
ocasião do retorno de Héracles do país das Amazonas.
Tendo
reunido um respeitável exército de voluntários, partiu o filho de Alcmena com
dezoito naves de cinqüenta remadores cada uma. Uma vez no porto de Ílion,
deixou os navios sob os cuidados de uma guarnição, comandada por Ecles, e
dirigiu-se para as muralhas de Tróia com o grosso de seus soldados.
Laomedonte,
estrategicamente, atacou os navios e matou Ecles, mas o herói, voltando
rapidamente sobre seus passos, obrigou o rei, como aconteceria "mais
tarde" com os Troianos, a refugiar-se por trás das muralhas de Ílion. Isso
feito, começou o cerco da cidade, que, aliás, não durou muito, porquanto um dos
bravos voluntários da expedição, Télamon, transpôs, por primeiro, as muralhas
de Tróia. Furioso e já possuído da hýbris, por ter sido ultrapassado em
valor, o herói investiu sobre o companheiro para matá-lo. Télamon, num gesto
rápido, abaixou-se e começou a ajuntar pedras. Intrigado, o filho de Zeus e
Alcmena perguntou-lhe o motivo de comportamento tão estranho. Télamon respondeu-lhe,
ateniensemente, que reunia pedras para levantar um altar a Héracles
Vitorioso. Satisfeito e comovido, o herói lhe perdoou a audácia… Tomada a
cidade, o Vitorioso matou a flechadas a Laomedonte e a todos os seus
filhos homens, exceto Podarces, ainda muito jovem. Casou Hesíona com
Télamon e pôs à disposição da princesa o escravo que a mesma desejasse. Hesíona
escolheu seu irmão Podarces e como Héracles argumentasse que aquele deveria
primeiro tornar-se escravo e, em seguida, ser comprado por ela, a princesa
retirou o véu com que se casara e o ofereceu como resgate do menino. Esse fato
explica a mudança de nome de Podarces para Príamo, o futuro rei
de Tróia, nome que "miticamente" significaria o "comprado",
o "resgatado".
Queria ter visto "A Fúria do Poderoso Aquiles" no tempo que o Hércules ainda estava na Terra, seria Aquiles um objeto que não pode ser movido contra uma força irrefreável de Hércules. |
No
retorno, o herói se envolveu, melhor dizendo, foi envolvido em duas novas
aventuras. Uma, graças a Hera, que, com o indispensável auxílio de Hipno, pôs o
esposo Zeus a dormir profundamente e, aproveitando-se disso, levantou uma
grande tempestade, que lançou o navio do herói nas costas da ilha de Cós. Os
habitantes, pensando tratar-se de piratas, receberam os vencedores de Tróia a
flechas e pedras. Tal atitude hostil não impediu o desembarque do herói e seus
comandados, que, em ação rápida, tomaram a ilha e mataram o rei Eurípilo.
Héracles uniu-se, em seguida, à filha de Eurípilo, Calciopéia, e fê-la mãe de
Téssalo, cujos filhos, Fidipo e Ântifo, tomarão parte mais tarde na Guerra de
Tróia. Destruída Ílion, Fidipo e Ântifo estabeleceram-se na Tessália, assim
chamada em homenagem a seu pai Téssalo.
Há uma
variante que narra o desembarque em Cós de maneira diversa. Na tempestade todos
os navios foram tragados pelas ondas, exceto o do herói. Tendo este
desembarcado na ilha, encontrou o filho de Eurípilo, Antágoras, que guardava o
rebanho paterno. Héracles, com fome, pediu-lhe um carneiro, mas Antágoras
propôs o animal como prêmio ao vencedor de uma justa entre os dois. Como a
população da ilha julgasse que Antágoras estivesse sendo atacado, avançou
furiosa contra o herói. Afogado pela multidão, Héracles refugiou-se na cabana
de uma mulher e, travestido, conseguiu fugir, dirigindo-se para a planície de
Flegra, onde tomaria parte, ao lado dos deuses, na luta contra os Gigantes,
segundo se comentou no Vol. I, p. 211.
Outra
vitoriosa expedição de Héracles foi contra Pilos, cujo rei Neleu tinha onze
filhos, sendo o mais velho Periclímeno e o caçula, Nestor. Héracles se havia
irritado com Neleu, que se recusara a purificá-lo, quando do assassinato de
Ífito, cuja desdita se verá mais abaixo. Periclímeno tivera mesmo a audácia de
expulsar o herói da cidade de Pilos, tendo-se a isto oposto unicamente o
caçula, Nestor. Diga-se, de passagem, que a vingança de Héracles contra o rei
de Pilos vinha-se amadurecendo há muito tempo, porquanto, na guerra contra
Orcômeno, Neleu lutara contra Héracles e os Tebanos, por ser genro de Ergino,
ou ainda porque o rei de Pilos tentara apoderar-se de uma parte do rebanho de
Gerião. Seja como for, o herói tinha motivos de sobra para invadir Pilos e o
fez. O episódio principal da guerra foi a luta entre Héracles e Periclímeno.
Este possuía por pai "divino" a Posídon, que dera ao filho o dom de
transformar-se no que desejasse: águia, serpente, dragão, abelha… Para atacar o
filho de Alcmena, Periclímeno metamorfoseou-se em abelha e pousou na correia
que lhe prendia os cavalos. Atená, vigilante, advertiu a Héracles da
proximidade do inimigo, que foi morto por uma flecha ou esmagado entre os dedos
do herói. Durante a batalha, Héracles causou ferimentos em várias divindades:
feriu a deusa Hera, no seio, com uma flecha; Ares, na coxa, com a lança, bem
como a Posídon e Apolo com a espada.
Tomada
Pilos, o filho de Zeus e Alcmena matou a Neleu e a todos os seus filhos, exceto
Nestor, que outrora lhe advogara a purificação. Ao filho caçula de Neleu,
aliás, consoante uma tradição conservada por Pausânias, foi entregue o reino de
Pilos.
Uma
terceira expedição do herói foi dirigida contra Esparta, onde reinavam
Hipocoonte e seus vinte filhos, os hipocoôntidas, que haviam exilado os
herdeiros legítimos do poder, Icário e Tíndaro. O motivo alegado para essa
guerra foi de repor no trono de Esparta os dois príncipes injustamente
afastados do mesmo, mas havia uma motivação especial por parte de Héracles: vingar
a morte violenta de seu sobrinho Eono. Este passeava por Esparta, quando
repentinamente, ao passar diante do palácio real, foi atacado por um cão, de
que se defendeu, atirando-lhe pedras. Os hipocoôntidas, que certamente já
buscavam um pretexto para eliminá-lo, avançaram sobre Eono e espancaram-no até
a morte. Existe ainda uma versão que atesta terem sido os hipocoôntidas aliados
de Neleu na guerra precedente.
Héracles
reuniu seus companheiros na Arcádia e pediu o auxílio do rei Cefeu e de seus
vinte filhos. Embora hesitante, o rei com seus filhos seguiu o herói. Foi uma
luta sangrenta, mas coroada por grande vitória, embora o herói fosse obrigado a
lamentar não apenas a morte de seu aliado o rei Cefeu e de seus filhos, mas
igualmente a de seu irmão Íficles. Esmagados os hipocoôntidas e entregue o
trono a Tíndaro, Héracles dirigiu-se para o monte Taígeto, onde, no templo de
Deméter Eleusínia, foi curado por Asclépio de um ferimento na mão, provocado
por um dos hipocoôntidas.
Para
comemorar vitória tão importante, mandou erguer em Esparta dois templos, um em
honra de Atená e outro em homenagem a Hera, que nenhuma atitude hostil tomara
contra ele nesta campanha.
A
derradeira expedição do herói se deveu à chamada aliança com Egímio, rei
dos Dórios.
Este
rei era filho de Doro, ancestral mítico e epônimo dos Dórios. Ameaçado em seu
reino pelos violentos Lápitas, a cuja frente estava Corono, Egímio apelou para
Héracles, já, a essa época, casado com Dejanira e a quem prometeu um terço de
seu reino, em caso de vitória. Com grande facilidade o herói livrou Egímio dos
Lápitas, mas recusou pessoalmente a recompensa, pedindo-lhe tão-somente que a
reservasse para os heraclidas, o que, aliás, foi cumprido à risca por Egímio;
este, tendo adotado Hilo, filho de Héracles com Dejanira, dividiu seu reino em
três partes iguais: seus filhos Dimas e Pânfilo ocuparam as duas primeiras e
Hilo, a terceira.
Após
essa vitória, Héracles retomou uma velha disputa com um povo vizinho de Egímio,
os Dríopes, que habitavam o maciço do Parnasso. É que, expulso de Cálidon, por
motivos que veremos mais abaixo, Héracles, ao atravessar o território dos
Dríopes em companhia de Dejanira e de Hilo, o menino teve fome. O herói, tendo
visto o rei local Teiódamas preparando-se para arar a terra com uma junta de
bois, solicitou-lhe comida para Hilo. Face à recusa descortês e desumana do
rei, Héracles desatrelou um dos bois, preso ao arado, e o comeu com a esposa e
o filho. Teiódamas correu à cidade e retornou com uma pequena tropa. Apesar da disparidade,
Héracles, com o auxílio de Dejanira, que foi ferida em combate, conseguiu
repelir os Dríopes, matando-lhes o rei. Como os Dríopes tivessem igualmente se
aliado aos Lápitas contra Egímio, o herói resolveu ampliar a campanha,
sobretudo para vingar também o deus Apolo, cujo santuário havia sido profanado
por Laógoras, novo rei dos Dríopes.
Foi
uma guerra muito rápida. Com a morte de seu novo soberano e a invasão de
Héracles, os Dríopes abandonaram em definitivo o maciço do Parnasso, fugindo em
três grupos: o primeiro para a Eubéia, onde fundaram a cidade de Caristo; o
segundo para Chipre e o terceiro foi prazerosamente acolhido por Euristeu, o
eterno inimigo, que lhes permitiu fundar três cidades em seu território.
Após a
vitória sobre os Dríopes, Héracles seguiu para a cidade de Ormínion, no sopé do
monte Pélion, para vingar-se de Amintor, que, certa feita, proibira ao herói
atravessar-lhe o reino. Héracles matou o rei e apoderou-se de Ormínion. Diodoro
expõe uma variante: Héracles pedira em casamento Astidamia, filha de Amintor.
Este, por estar o herói unido a Dejanira, não consentiu nas núpcias. Louco de
ódio, Héracles tomou a cidade e levou consigo Astidamia, com quem teve um
filho, chamado Ctesipo.
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