A primeira história em quadrinhos que eu li na minha vida foi X-Men. Foi a HQ que me levou a ler HQs e principal responsável por ter prendido minha atenção nesse universo ao longo dos anos. X-men é uma coisa muito, muito importante para mim, assim acompanho com interesse tudo o que é feito com eles. E os filmes, hein? Esses filmes são acompanhados com interesse por gente que nunca abriu um gibi na vida. Pra um nerd de carteirinha, então, são duplamente relevantes.
Podemos considerar como primeira fornada de filmes de super-heróis a que nos trouxe o Superman de Christoper Reeve e o Batman na visão de Tim Burton. Foi uma época que trouxe coisas boas e ruins, provavelmente falaremos sobre ela com mais detalhes aqui no blog num futuro próximo. A segunda fornada teve como um dos pilares o Homem-Aranha de Sam Raimi e apresentou coisas como O Demolidor de Ben Afleck, o psico drama do Hulk de Ang Lee e uma versão do Quarteto Fantástico que era o primo pobre dos Incríveis da Disney/Pixar, ironia das ironias se você considerar quem copiou quem, mas a vida tem dessas. Um dos arquitetos dessa segunda fase e também um de seus mais bem sucedidos empreendedores foi Bryan Singer, que assinou a primeira trilogia dos X-Men. Aí a DC viu o bom desempenho dos heróis da Marvel e quis um pedaço desse bolo, até aí, até eu que sou mais bobinho ia querer. A DC Warner ofereceu a Singer o encargo de rebotar a franquia do Superman, e o resultado foi um duplo desastre. Com a saída de Singer o final da trilogia mutante caiu nas mãos de um outro diretor e o fecho não foi legal, pra quem curtiu os dois primeiros ficou aquela sensação de quando o livro só termina sem que a história acabe, e que o pretenso "final épico" oferecido pelo estúdio nada era senão um belo de um engana-criança. Do outro lado, na direção do Superman Singer fez um filme pesado, sonolento e insosso que desagradou a gregos e troianos e exigiu medidas reparadoras imediatas com até São Chris Nolan sendo convocado para tentar ajudar a desfazer a imagem ruim que havia ficado. Quanto a Singer coube retornar ao seguro e garantido, à franquia mutante. Mas na sua ausência a franquia mutante havia andado e mudado. Mudado também o mercado. O Marvel Studios entrou no jogo, elevou o padrão de qualidade e iniciou a fase da terceira fornada.
Com Singer longe o X-Men 3 foi ruim e o Wolverine Origens foi pior. Até que um diretor novo apareceu e fez o X-Men Primeira classe, e contra tudo e contra todos acertou em tudo que todos os outros haviam errado até então, incluindo o próprio Singer. X-Men Primeira Classe foi o melhor filme dos mutantes já feito, com o melhor roteiro e a melhor execução, e deixou pairando no ar a dúvida se era um reboot ou uma prequência. A verdade é que na época a própria Fox não sabia, aguardando a recepção do público para então escolher o seu próximo passo com cuidado. Bom, X-Men Primeira Classe foi muito bem aceito e o queridinho Singer estava agora de volta, e como na ausência dele a cronologia havia virado um verdadeiro samba do crioulo doido, a direção a seguir a partir daí foi se formando. Sim, a cronologia. Os nerds que assistiam prestando atenção e conferindo as coisas não cessavam de chiar sobre isso e sobre aquilo, e até aí tudo bem porque os nerds sempre reclamam mesmo, é o normal e o esperado deles, um nerd que não reclama veio com defeito de fábrica e você tem todo o direito de acionar o Procon a esse respeito. Mas aqui as discrepâncias atingiam tal envergadura que o "público normal" também estava tendo dificuldades de entender onde uma coisa encaixava com a outra. Honestamente, pensei que a Fox estava pouco se lixando para a cronologia, ele própria sempre foi a primeira a enxergar esses filmes como "besteira" e "coisa sem importância" não dando maior importância à caracterização ou à fidelidade ao material original. Ah, mas que beleza é a existência de concorrência! A presença do Marvel Studios subiu o level e acostumou o consumidor a um determinado padrão de qualidade, forçando a Fox a se mexer. Singer queria cortar coisas feitas na sua ausência com as quais não concordava e a Fox queria se livrar dos filmes que não deram certo e a solução então foi um reboot parcial seletivo, usando viagem no tempo para apagar algumas coisas e manter outras. No caso dos X-Men existe aquela que é talvez a melhor saga já feita sobre viagem no tempo para mudar o passado, Dias de um Futuro Esquecido. A partir daí segue-se esse filme, que se você ainda não viu recomendo que siga o exemplo da Fox e se mexa um pouco.
Entre usar o elenco do bem sucedido X-Men Primeira Classe ou manter o elenco de sua própria versão clássica Singer acerta em cheio ao marcar palpite duplo. "O filme tem duas equipes de X-Men, uma no passado e outra no futuro". "E isso dá certo? Quer dizer, sem ofensas, mas excetuando Primeira Classe eles sempre mostraram uma completa imperícia em dar conta de fazer funcionar uma equipe só". Sim, mas aqui deu certo! Milagre, mal acredito, mas deu certo! O filme aliás é uma longa sucessão de acertos. Seguindo os passos de Primeira Classe ele procura ter aquela coisa de uma história que dá a cada um o que fazer, acertando menos do que o antecessor, mas ainda assim acertando o suficiente. No futuro as aparições são breves porém eficientes e certeiras, os heróis aparecem o suficiente para serem alguém esquecendo os erros de filmes passados onde as personagens novas não tinham mais do que uma cena de três segundos. No presente/passado excelente desenvolvimento para Charles Xavier, Magneto e Mística, palmas para os seus intérpretes, o filme tem a dura tarefa de ter que se dividir entre inúmeros protagonistas importantes para a trama e consegue fazê-lo sem deixar a bola cair em momento algum. E temos a volta do Wolverine, e todos os que não gostaram do excesso de foco no personagem em filmes anteriores aqui vão dar o braço a torcer que o caminho certo foi achado, ele aparece, é importante, é interessante e tem destaque, mas não rouba o espaço de mais ninguém, esse filme é "X-Men" e não "Wolverine e seus amigos". Peter Dinklage fantástico dá todo o peso que o vilão precisa, só nos fazendo lamentar que ele não tenha mais espaço na história, mas se não foi perfeito, foi bom o bastante. Não ser perfeito, mas ser bom o bastante define bem esse filme como um todo. Não, o problema cronológico não foi inteiramente sanado, mas é admirável o esforço genuíno para tentar fazê-lo. Não, esses mutantes da telona ainda não são aqueles dos quadrinhos Byrne/Claremont, mas caminham para uma identidade própria bem interessante. Não, o arco não foi perfeitamente transposto, mas muito do seu espírito central foi captado, aliás uma grata surpresa para quem se acostumou a ver a Fox ignorar completamente a fidelidade ao material original. Não, o texto não chega a ser melhor do que o de Primeira Classe, e nem precisa ser, é como quando Chris Nolan fez outro filme do Batman depois daquele do Coringa, não precisava superar o anterior, se demonstrasse boa vontade em manter o nível seria o bastante. Esse filme é bom o bastante. Consegue agradar aos saudosos da trilogia original tanto quanto os que (como eu) só conseguiram gostar do Primeira Classe. Ele se esforça para dar certo. Tem sentinelas que não tem nada daqueles dos quadrinhos, se você espera uma batalha igual à dos quadrinhos clássicos ou do episódio piloto da série animada dos anos 1990 vai ficar meio decepcionado, mas se só aceitar que essa é uma história nova pode se divertir mais do que imagina. E claro, eu não seria eu se não mencionasse o final com Magneto voando no meio dos sentinelas ou apontado dezenas de armas voadoras para o presidente, é uma referência que eu não vi ninguém mais mencionar, a referência foi tirada do primeiro arco da excelente HQ Ultimate X-Men escrita por Mark Millar, outro tiro certeiro de Singer, se o Marvel Studios sugou sem dó tudo que pôde de The Ultimates de Mark Millar, naturalíssimo que a Fox devidamente "saqueie" o Ultimate X-Men também, se é pra ser um reinício da franquia o caminho é esse mesmo, a linha Ultimate foi Criada precisamente pra esse fim mesmo. Por fim uma menção honrosa aos fantásticos Blink e Mercúrio, principalmente o Mercúrio que superou todas as expectativas, encantou a plateia e nos deixou ávidos para ver mais dele, primeira vez que isso acontece com uma personagem num filme da Fox, ou alguém já viu eles darem uma dessas antes? Não vale mencionar Wolverine e Magneto, protagonistas desde o primeiro filme.
Temos Dias de um Futuro Esquecido, Wolverine Imortal e Primeira Classe, três acertos seguidos. Parece que a Fox enterrou os vexames do passado e aprendeu a fazer filmes decentes, será? Que venha o X-Men Apocalipse, então! Será que a Fox irá se redimir de seu maior pecado e finalmente mostrar um Ciclope condizente com o dos quadrinhos? E o novo Quarteto Fantástico, visto com tanta desconfiança no meio nerd? O Primeira Classe também era visto com dois pés atrás e após o lançamento surpreendeu. Será o Quarteto outro êxito? A resposta em breve teremos. Por enquanto o certo é que a Fox cravou uma nota nove do Ozymandias Realista com esse filme. E nos deixou ansiosos para ver o que acontecerá depois.
- Ítalo azul -
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