O fim da miséria e da pobreza é uma aspiração
humana que não cabe em nenhuma perspectiva de vida. Não há tempo. E nada é tão
ruim como estar enganado. Não se deve acreditar que a dignidade dos pobres e
miseráveis pode ser resgatada como se resgata náufragos, vítimas de violência e
de sequestro. Pode-se criar programas sociais, alicerçados na vontade política
de legisladores e na determinação de governantes que agilizariam as funções do
Estado para que a máquina governamental dê conta da missão.
O Leviatã hobbesiano se levantaria como um cachorrinho a ouvir a voz do dono e
se prontificaria a obedecer todas as suas ordens conforme os esquemas plantados
por um treinador. Mas, contraditoriamente, e por incrível que possa parecer, o
homem não é o lobo do homem: isso é apenas um trocadilho infeliz que que leva a
pensar no futuro como uma projeção trágica. Nenhuma mudança pode se efetivar
sem um vínculo com a realidade.
A miséria e a pobreza tornam as pessoas meros
acessórios. Por acessórios, as pessoas se tornam descartáveis e à margem de
qualquer ação governamental. Pode-se vê-las como qualquer amontoado de lixo,
confundindo-se com ele. Eis a questão. As velhas aspirações revolucionárias
caducaram frente aos apelos do consumo e da ilusão de que o progresso material
pode fazer superar todos os desconfortos. A superfluidade dos produtos
compráveis, dessa forma, iguala as pessoas às mercadorias que adquirem para
suprir o vazio, o que leva a reafirmar o truísmo de Blaise Pascal com grande
amargura: "Coração tem razões que a própria razão desconhece". As
revoluções não se sustentam mais. Ativam-se os banhos de sangue e evocam-se as
ameaças nucleares que possam justificar qualquer e toda iniciativa de
destruição de uns pelos outros. Ou se cultiva o medo, o horror, a ameaça de
morte.
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