Homem
de Ferro de Matt Fraction – A fase que redimiu o Vingador Dourado... ou quase....
2008 foi um ano importante para o Homem de Ferro. O filme estreado por Robert Downey Jr foi um grande sucesso, tendo não só marcado o início do MCU como também tornou o Homem de Ferro em um icone aos olhos do público geral.
Lógico que, diante
desse sucesso de vendas, a Marvel quis se aproveitar da ocasião e do decidiu lançar “O Invencível Homem de Ferro”, uma nova HQ protagonizada pelo
enlatado. Mas tinha um pequeno problema para resolver: Consertar a reputação
do Tony Stark.
Depois do evento Guerra
Civil, o Homem de Ferro tinha se tornado um dos personagens mais odiados dos
quadrinhos, sendo representado como um uma figura bem antipática e manipuladora
que realizou várias ações cruéis com seus amigos e aliados, desde prender os
heróis anti-Lei de Registro em outra dimensão, recrutar super vilões para
caça-los e, junto com Reed Richards, criar um clone do Thor que matou um herói.
Ele foi tão criticado
que os próprios roteiristas mostravam ele sendo humilhado, tanto verbalmente
quanto fisicamente, por outros personagens, como Thor e o Hulk. Portanto, querer torna-lo
protagonista de uma nova seria uma decisão bem arriscada e poderia ser rejeitada
pelos leitores cientes da caracterização do Tony na época.
Por sorte a ideia da
Marvel funcionou graças a escolha de Matt Fraction como roteirista da
revista. Com seu roteiro e a arte de Salvador Larroca, Fraction conseguiu
tornar “O Invencível Homem de Ferro” um dos maiores sucessos da Marvel chegando
a ganhar o prêmio Eisner de melhor série de 2009.
Mas como que Fraction
conseguiu esse resultado? Como que a série dele conseguiu ser tão popular
considerando o estado do Homem de Ferro das hqs na época? Será que seu sucesso
se deveu apenas a reação do público ao filme do Robert Downey Jr ou teve algo
mais?
Vamos discutir isso em
partes....
Trama
A Guerra Civil terminou
com a vitória do Homem de Ferro sob o grupo do Capitão América. Agora promovido
a diretor da SHIELD, Tony passa a se dedicar ao seu trabalho de garantir a
segurança do mundo e seu futuro.
No entanto, sua missão é ameaçada por terroristas armados com tecnologia similar a sua, senão mais avançada. Para piorar as coisas, Tony descobre que esses criminosos estão trabalhando para Ezekiel Stane, filho do falecido Monge de Ferro, buscando vingança contra ele pela morte de seu pai.
O conflito com Ezekiel
se prova como o primeiro de eventos que levariam Tony a confrontar as consequências
de seus atos durante a Guerra Civil e forçado a pagar um preço alto para
garantir a salvação de seus amigos.
Os
dois lados do Homem de Ferro
Como estabelecido, Tony
Stark não tinha recebido uma boa caracterização em Guerra Civil, e as histórias
seguintes não estavam ajudando em nada em melhorar a imagem do personagem.
Nesse ponto, seria compreensível se Matt Fraction simplesmente começasse a
história do zero, ignorando as mancadas do Tony e o apresentando sob uma
abordagem mais simpática.
Mas não foi a direção
que Fraction tomou. Ele mostrou o Tony no seu status pós Guerra Civil como
diretor da SHIELD e sofrendo com a raiva e rejeição de muitos por causa de
suas ações naquele arco.
Durante sua fase,
o roteirista foi, de certa forma, consertando o Tony não apagando seu passado (pelo
menos ainda não... falarei disso depois...) mas contando a história do ponto de
vista dele e destacando suas qualidades tanto negativas quanto positivas.
Apesar de ser arrogante, mulherengo e teimoso, Tony Stark não é um monstro sem coração. Essa fase tem vários momentos em que ele importar com as pessoas e tentar ajuda-las o melhor que puder.
Suas ações extremas não vem de malícia e crueldade, mas sim
de seu medo de falhar com as pessoas e desespero em impedir que elas paguem
preço pelo que Tony julga ser sua culpa.
Desconstrução
dos anos 2000
Desde sua criação nos
anos 60, Homem de Ferro servia como forma de autores abordarem críticas as
crises políticas e sociais do mundo envolvendo os Estados Unidos e o
capitalismo. Isso é evidente pelo fato de muitos inimigos do Tony serem de
países que, na época, faziam parte da União Soviética, como o Dínamo Escarlate
e o Homem Titânio (representando a Rússia) e o Mandarin (representando a
China).
Com a chegada dos anos
2000, o personagem foi reinventado, com sua origem acontecendo no contexto das
guerras no Oriente Médio. Consequentemente, seus inimigos passaram a ser
terroristas e vilões dessas regiões.
Embora tenha começado seu trabalho colocando o Homem de Ferro contra inimigos desse tipo, Fraction aos poucos revelando sua história não como uma glorificação do governo em sua guerra contra o terror, mas sim uma dura crítica a paranoia presente na sociedade americana em um mundo pós-11 de setembro, assim como ao abuso de poder e suas interferências em países estrangeiros.
O próprio Tony age como
alegoria do povo americano na época, sendo movido por seu medo de se tornar
obsoleto e incapaz de proteger as pessoas no futuro, levando-o a querer ter
controle das situações e garantir a segurança de todo mundo não importa o
custo. Por causa desse estado
desesperado e recusa em aceitar suas limitações, Tony acaba cometendo ações
moralmente questionáveis que afetam não só a si mesmo como as pessoas ligadas a
ele.
É apropriado que muitos dos vilões principais que o Tony se depara nos arcos, como Ezekiel Stane e o Mandarin, são indivíduos que se aproveitam do medo e violência na população para manipular as massas e atingir seus objetivos. Eles não são empresários genéricos, mas sim oponentes que forçam Tony a confrontar esses medos e perceber o quão vulnerável ele se tornou por se deixar levar por essa ansiedade.
Isso chega ao seu ponto alto no segundo arco de Matt Fraction, “O Mais procurado do mundo”, quando Tony, depois de falhar em evitar a Invasão Secreta dos Skrulls, é demitido pelo governo e seu posto é dado ao corrupto Norman Osborn. Com a segurança dos heróis comprometida, Tony não tem escolha exceto virar um fugitivo e sair numa cruzada para destruir qualquer informação dos heróis registrados (incluindo de seu próprio cérebro) e impedir que caiam nas mãos do corrupto. Seu confronto com o Osborn não é uma típica briga de herói e vilão. É Tony confrontando um reflexo do tipo de homem que ele poderia se tornar se continuasse seguindo por esse caminho de medo e insegurança.
Destaque
aos aliados de ferro
Outro ponto que Matt
Fraction explora em sua fase de “Invencível Homem de Ferro” é a relação do Tony
com seu elenco de apoio, com cada personagem passando por uma evolução no
decorrer das edições.
Tendo se tornado
segunda no comando após Tony assumir a SHIELD, Maria Hill aos poucos vai de uma
das personagens tão antipáticas para se torna uma grande do Tony
nesse período, chegando a desenvolver um grande respeito e até sentimentos pelo bilionário.
James Rhodes, como sempre, é o braço direito do Tony, auxiliando-o em suas aventuras quando pode.
Mas a personagem mais
desenvolvida foi a Pepper Potts. A personagem que esteve de lado nas hqs por um
bom tempo não só voltou a ser uma figura recorrente no elenco de apoio (graças
a sua participação no filme de 2008) mas ela ganhou um papel mais ativo,
recebendo uma armadura própria e adotando o codinome de Resgate.
Um
começo brilhante, um final mediano
Matt Fraction escreveu
a hq do Invencível Homem de Ferro por 4 anos, com ela sendo composta por 60
edições (33 edições, com as seguintes voltando a ter a numeração original de
500). A fase pode ser dividida em dois períodos, cuja as qualidades são
opostos.
As primeiras 24 edições
se passam no período entre pós-Guerra Civil e Reinado Sombrio e as histórias
são muito bem escritas, explorando Tony em sua nova posição como Diretor da
SHIELD, sua trágica queda e seu esforço para se redimir.
Entretanto, o mesmo não pode ser dito quanto as histórias seguintes, que se passam após o arco Cerco e a derrota de Osborn. O ritmo da narrativa ficou muito lento, as histórias mudaram seu tom mais pé-no-chão e drama político para algo mais fantasioso e sci-fy e o arco de Tony encarando as consequências foi desperdiçado com o herói perdendo as memórias de sua vida durante a Guerra Civil, impedindo a chance para ele reconhecer seus erros e tentar se redimir com noção de seus pecados.
Não quero dizer que a
segunda metade é ruim, tendo tido muitos pontos positivos, incluindo o arco do
Rhodes e a luta final entre Tony e o Mandarin. Só não foi tão legal comparado
com os primeiros arcos.
Considerações
finais
Embora eu não ache que
fase de Matt Fraction tenha conseguido manter uma qualidade consistente durante
seus arcos, não significa que eu ache que ele tenha feito um trabalho ruim.
Tal como Grant Morrison
com os X-men e Ed Brubaker com Capitão America, a fase de Fraction foi uma fase
importante para o Homem de Ferro, dando uma nova abordagem do herói para uma
nova geração de leitores sem ignorar o que torna o personagem tão marcante, que
é a jornada do Tony em aprender com seus erros e virar uma pessoa melhor.
No final, não posso
dizer que acho que seja esse sucesso que muitos julgam que é, mas concordo que
é uma fase boa e recomendável para muitos fãs que busquem uma história moderna
do Stark.
Nota:
7/10
Então é isso! Qual a
opinião de vocês quanto a fase do Homem de Ferro do Matt Fraction? Sintam-se a
vontade para colocar suas opiniões nos comentários abaixo...
















