Pois é, comprei o primeiro número do badalado quadrinho do Batman escrito e desenhado por Rafael Grampá. Se é bom? Irei dar alguns spoilers neste post, mas posso adiantar que, sim, a HQ pode ser classificada como boa. No entanto, havia muitas expectativas com relação a essa HQ, alguns até sustentando que seria uma das melhores histórias recentes do Batman, e realmente não é para tanto. Está longe de ser uma das melhores histórias do Batman, é um quadrinho apenas ok. Inclusive, ele recicla alguns dos temas clichês do Cavaleiro das Trevas, que já foram abordados em outras histórias.
Então,
por que essa HQ gerou tantas expectativas? A resposta, a meu ver, é o ufanismo
puro e simples, porque é trabalho de um brasileiro, ainda mais sendo o Grampá,
que tem um fandom próprio. No entanto, se fosse uma HQ desenhada pelo
Greg Capullo, haveria a mesma repercussão por aqui? Penso que não. Grampá tem
uma arte realmente estilizada, mas outros desenhistas do Batman também têm, a
exemplo do próprio Capullo, Kelley Jones, Norm Breyfogle, Frank Quitely e
outros. Aliás, a arte do Grampá lembra muito a do Quitely e a do Geoff Darrow.
No
enredo de Gárgula de Gotham, vemos um Batman mais inexperiente, em
início de carreira. Pelo que dá para depreender, ele está no ano 2. Entretanto,
como essa história é do selo Black Label, ela não é exatamente canônica. O
Cavaleiro das Trevas está atrás de um assassino de bilionários chamado Crytoon,
e isso o leva até um laboratório de drogas em que tem um confronto com o vilão.
Batman passa vergonha e apanha feio. Apesar de ter perdido, ele pretende
descobrir a relação do tal Crytoon com o laboratório de drogas e o porquê de o
vilão estar assassinando bilionários. Grampá não esconde sua ideologia nessa
história nem um pouco, na fala de uma ativista social que culpa os ricos por
tudo de ruim na sociedade.
Ao
mesmo tempo, Batman está querendo dar fim à sua identidade de Bruce Wayne,
forjando a morte do filho mais querido de Gotham, para poder se dedicar
integralmente ao combate ao crime. Grampá dá ênfase na personalidade mais
obcecada do Cavaleiro das Trevas, na qual alguns outros autores também deram. E
esse negócio do Batman forjar a morte de Bruce Wayne na verdade não é bem lá
uma novidade; isso aconteceu nos anos 70, durante a saga de Rá’s al Ghul.
Naquela ocasião, Batman forjou a morte de seu alter ego para poder ficar mais
livre para deter Rá’s. Só não sei dizer se Grampá conhece essa história ou se
eu entendo mais de Batman que ele. No entanto, o enredo tem muita coisa clichê
ou que já foi trabalhada em outras histórias do personagem, como a especulação
de que Batman é a verdadeira persona e Bruce Wayne é só uma máscara.
Como sempre, a consciência do Batman é Alfred, que acha essa história de ele forjar
a morte do Bruce uma insanidade.
Esse
negócio de que surge um novo vilão que o Batman não sabe lidar muito bem nem
sabe como derrotar também é clichê de várias histórias do Cavaleiro das Trevas.
No caso, o vilão da vez é o tal Crytoon. Uma coisa que achei curiosa foi que
Grampá desenhou uma imagem da Virgem Maria na delegacia de Gotham. Será que
Gordon é católico? Nunca vi menção a isso.
Investigando
o assassinato de um tal de doutor Franz Ebner, que tem similaridades com os
assassinatos do Crytoon, Gordon descobre que o doutor ficou um tempo preso e
que recebia visita de um médico do Arkham chamado Charles Quinton, que atendia
na ala infantil do Asilo Arkham. Isso é novidade; também não me lembro de o
Arkham ter ala infantil, apesar de às vezes aparecerem umas crianças maníacas
nas histórias do Batman. É aí que Gordon tem uma descoberta surpreendente: Bruce
Wayne foi paciente da ala infantil do Arkham durante a infância. Não que isso
vá reverberar em outras histórias. Gárgula de Gotham é uma HQ fora da
continuidade principal das histórias do Batman. No entanto, Grampá não esconde sua
opinião. Para ele, Batman é sim um maluco. E essa questão se o Cavaleiro das
Trevas é ou não é mesmo louco também é um clichê. Só falta ele dar a entender
que o Batman é um fascista, mas na realidade ele também deixa isso meio implícito.
Enfim,
vale a pena ler Gárgula de Gotham? Sim, vale, mas está longe de ser uma
das melhores histórias do Batman. O personagem tem inúmeras histórias melhores.
Entretanto, é um tanto injusto eu dizer isso sem ter lido o resto da
minissérie. Esse é apenas o primeiro número. Não obstante esse fato, creio que
essa não vá ser uma grande história do Cavaleiro das Trevas, mas ela entretém,
sim. O design do Batman do Grampá lembrou-me o Batman de Robert
Pattinson, nesse último filme. Acredito que deva ter tido alguma influência. É
uma HQ que vale mais pela arte; o roteiro é apenas mediano. E é o tipo de
história que pode ser lida não apenas pelo fã veterano, mas também por quem
nunca leu uma HQ do Batman e só tem um conhecimento básico do personagem. No
entanto, o salgado preço de 24,90 por meras 64 páginas deve afastar o leitor
casual, para se ver o quanto os preços das HQs estão fora da realidade hoje em
dia. Nota 7 de 10.
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