Do boi-bumbá, este folclórico ruminante, embora, mea culpa, mea maxima culpa,
eu nada saiba da lenda que o circunda e, muito menos, conheça os
elementos de sua encenação, de seu bailado, eu já ouvi muito falar. E do
boi-bombeiro? E deste novo bovídeo que vem ocupando os noticiários dos
últimos dias e que tem tudo para se tornar (acho até que já se tornou)
também folclórico?
Valha-me São Luís da Câmara Cascudo!!! Do boi-bombeiro, até então, eu nunca tinha escutado sequer uma menção!
Ele
surgiu numa fala da ministra Tereza Cristina, da Agricultura. Inquirida
sobre ações práticas do governo para o combate dos recentes incêndios
no Pantanal Mato-grossense e, talvez, sem nenhuma ação a propor, a
ministra disse que a solução é ampliar as áreas de pecuária extensiva no
Pantanal, pois "o boi é o bombeiro do Pantanal". A fala da ministra :
“Falo uma coisa que às vezes as pessoas criticam. Mas, o boi, ele
ajuda. Ele é o bombeiro do pantanal, porque ele é quem come aquela massa
do capim, seja o nativo ou plantado. É ele que come essa massa para não
deixar como este ano nós tivemos. Com a seca, a água do subsolo também
baixou os níveis. Essa massa virou um material altamente combustível. Aconteceu o desastre porque nós tínhamos muita matéria orgânica
seca que, talvez, se tivéssemos um pouco mais de gado no Pantanal, isso
teria sido um desastre até menor do que nós tivemos este ano. Mas isso
tem de servir como reflexão do que temos de fazer”.
Foi
o que bastou para o chilique dos ambientalistas e das Ongs, essas
máfias verdes que os congregam. Acusaram a ministra de fraude.
Mas
boi-bombeiro? Defender, ainda que nas entrelinhas, que mais seja
desmatado para que mais se proteja o bioma? Será mais uma conversa pra
boi dormir, ou uma canção para fazer ninar bezerro? Estaremos diante da
gênese e da ascensão de uma Dilma II? Porque um boi-bombeiro,
convenhamos, parece mais um dos costumeiros delírios da Dilma Rousseff.
Mas
não. Dilma é uma só. Dilma Roussef I e única, a Estocadora de Vento,
que, tenho certeza, uma profunda análise de sua genealogia, a
relacionaria como contraparente de D. Maria I, a Louca.
A
tese do boi-bombeiro não é uma invenção tresloucada e descabida da
ministra Tereza Cristina. Ela foi proposta pelo ex-pesquisador da
Embrapa e hoje professor na Universidade Federal do
Mato Grosso do Sul (UFMS), Arnildo Pott, há mais de 30 anos. Em recente
entrevista à Revista DBO, edição de outubro de 2020, Arnildo
disse o seguinte: "Esta expressão surgiu a partir de uma experiência que
nós, então na Embrapa, fizemos na Fazenda Nhumirim, nos idos dos anos
1980. Fechamos 600 hectares para verificar como seria o Pantanal sem o
gado, animal que está no bioma desde a época colonial. Um peão
experiente logo comentou: 'Doutor, isso aqui vai dar um fogaréu!'. Havia
um aceiro largo. A área estava bem protegida. No primeiro ano o capim
atingiu um metro de altura. No terceiro ano o fogo apareceu, não se sabe
de onde. Caso houvesse pastejo certamente seria um fogo normal de
capim, mas ganhou proporções florestais. Uma coisa maluca! O fogo se dá
onde existe combustível e o ruminante é um especialista em digerir
grande parte deste material".
E
a coisa procede. Trocando em miúdos, a tese do boi-bombeiro apregoa que
grandes áreas de pastagem - de vegetação rasteira, portanto -,
entremeadas à vegetação nativa, possam atuar como corredores de
segurança contra a propagação de grandes incêndios. O fogo vem se
alastrando pela vegetação nativa e dá de cara com um descampado, com uma
área de pouca matéria orgânica para alimentar a sua fúria elemental, e
ele, o fogo, morre ali, ou se torna mais fraco, mais fácil de ser
combatido, não conseguindo, assim, afetar as outras áreas nativas para
além do pasto. Usar o pasto para o boi gordo como boi de piranha para
estancar o fogo?
Que
infartem das bolas do saco, os ecologistas! Que tenha AVC das pregas do
cu (se ainda as possuírem), os ambientalistas, Ongueiros e outros
encostados! Mas, sim, procede. Tecnicamente, procede.
Assim
como uma outra prática muita antiga, proibida por conta de pressões da
viadada verde do toba autossustentável : as queimadas preventivas,
também conhecidas por aceiros negros. Que consistem em delimitar e
queimar, controladamente, trechos de vegetação de modo a criar zonas de
segurança contra o alastramento de fogo na mata, uma espécie de fosso,
de fosso seco a dificultar a livre propagação das chamas. Conheci um
pequeno sitiante que, juntamente a três de seus outros vizinhos, se
valia dessa prática, o que, algumas vezes, salvou as suas pequenas
lavouras, bem como as áreas de preservação que mantinha.
Combater fogo com fogo? Sim, procede. Tecnicamente, procede.
Mas
o ideal não seria deixar o Pantanal - ou qualquer outro bioma - à sua
própria sorte, aos desígnios da Natureza e de Deus, uma vez que
incêndios naturais, sim, ocorrem, porém, indubitavelmente, são em muito
aumentados pela presença humana, de forma proposital ou inadvertida?
Sim,
isso seria o ideal, o mundo ideal. Não posso deixar de fazer notar e
sublinhar, no entanto, que, entre os inúmeros requisitos para um mundo
ideal, é condição sine qua non que o ser humano deixe em paz não
só o Pantanal, mas o planeta inteiro. Um mundo ideal, ou perto disso,
tem o desaparecimento do ser humano como premissa inicial. O mundo tão
sonhado pelos ambientalistas só pode começar a ser possível com a
extinção humana. Alguém se habilita a dar o exemplo? Algum "verdinho"
disposto a se oferecer em sacrifício?
Então,
não me venham com chorumelas, Então, ora porra, vão à merda! Seja para
"plantar" gado ou para "criar" lavouras, o bicho homem estraga e provoca
grandes catástrofes no ambiente do qual se apossa. Introduzimos
elementos estranhos aos ambientes nativos, retiramos elementos naturais
aos mesmos : os desastres são inevitáveis, meramente questão de tempo ou
de (falta de) sorte.
Agora,
se for viável nos utilizarmos de um desses elementos estranhos de uma
forma a evitar ou a reduzir os eventuais estragos por ele mesmo
causados, por que não?
Confiramos, pois, a patente de bombeiro ao boi do Pantanal.
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