Batman VS Superman Dawn Of Justice - Michael Chang
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Batman Vs Superman - A Origem da Justiça: O Batman
Batman Vs Superman - A Origem Da Justiça: Um Filme Grandioso Demais Para Mentes Pequenas
Batman Vs Superman - A Origem da Justiça: O Batman
Publicado originalmente em
aos 24 de março de 2020
Inomináveis Saudações a todos vós, Realistas Leitores!
Batman Vs Superman: A Origem Da Justiça completa hoje quatro anos de sua estreia aqui no Brasil, um dia antes dos Estados Unidos e demais países mundiais. Foi o último filme que eu tive a oportunidade de ter assistido no cinema, uma experiência da qual jamais vou me arrepender. Ainda hoje, é o filme mais discutido dentro do Mundo Geek/Nerd por causa da polarização que gerou entre aqueles que o admiram (como eu) e que o execram. Nenhum outro filme da onda de adaptações de Super-Heróis para a Sétima Arte tem gerado tanta atenção em discussões intermináveis, visto que com nenhum filme da Marvel o mesmo ocorra. Ou vocês lêem nos sites, blogs e outros espaços com Conteúdo Geek/Nerd discussões acaloradas envolvendo Vingadores: Ultimato, Guerra Civil, Guardiões da Galáxia e todas as demais produções da Marvel Films? Não quero nesta postagem, entretanto, focar o desagravo que me dá esses filmes coloridos e divertidos da Marvelândia. A única exceção de bom filme dentro desta, como pontuei no primeiro texto acima linkado, é Soldado Invernal. O foco do meu texto é reafirmar o que me levou a defender esta produção da DC Films que prometia realizar a marcha por um caminho bem diferente do que até hoje vemos na concorrente.
Zack Snyder parecía querer mesmo inovar no quesito das adaptações, mas foi podado por motivos que hoje vejo serem de pura covardia advinda dos produtores executivos da Warner. No meio de filmes todos iguais, que apelam sempre para "o Bem contra o Mal culminando na absoluta vitória do primeiro", ele arriscou moldar um universo cinzento bem próximo da Realidade Humana. O colorido marvete cinematográfico faz seus apelos para aqueles que se identificam com seus parâmetros próximos aos de contos-de-fadas, posto que é a Disney acima de cada produção da Marvel. Snyder ousou se contrapor a essa mesmice, a esse esquema repetitivo, um meio que abre mão de alma e de conteúdo para raso entretenimento voltado para a venda de brinquedos, jogos e demais produtos derivados de seus filmes. Não que os filmes da DC estejam longe disto, mas este filme aqui discutido se propôs a ter uma ALMA e um CONTEÚDO. E pagou o preço por isso diante de uma Crítica acostumada (ou comprada?) com as piadinhas insossas e sequências esquecíveis da Marvelândia. E também diante de parcela do público acostumado com os filmes dela que imaginaram ser a produção da DC algo idêntico para os apelos dela.
Alguns, críticos ou não, ao assistirem a Versão Estendida mudaram de ideia quanto ao filme, pedindo até mesmo desculpas ao Snyder por terem atacado-o até mesmo com violência verbal e escrita. Outros se mantém até hoje atrelados ao desgosto que o filme lhes prooprcionou, continuando a xingar e a berrar imperativos contra uma produção que não compreenderam. Nada tenho a ver com quem execra ao infinito o filme, já que dou extremo valor à liberdade de opinião, algo que para mim é um dos maiores tesouros terrestres. No entanto, eu culpo a padronização dessas adaptações de Quadrinhos nas costas da Dona Marvel Films, aka Disneyland, que tomou a pasteurização de seu Universo Compartilhado como uma lei a ser seguida por outros estúdios. Isso teve efeito na própria DC Films ao substituir Snyder na direção de Liga da Justiça por Joss Whedon, abandonando a ALMA, extinguindo o CONTEÚDO e entregando um filme que apenas é uma cópia xerox do Padrão Marvete Cinematográfico. E tudo do projeto do diretor em relação a um Universo Compartilhado se tornou pó.
Podemos ter uma ideia do que seria esse Universo nos atendo tanto a BvS quanto a O Homem De Aço. Filmes sombrios carregando o cinzento a todo instante, com referências filosóficas e religiosas, existencialistas e psicológicas, dimensionadas em roteiros que questionam a própria necessidade de nosso entendimento como espectadores do que nos motiva acompanhar tais personagens dentro e fora das mídias onde são transpostos. Vocês já pararam para pensar nisso lendo qualquer história em quadrinhos ou um filme adaptando seus personagens preferidos? Se hoje eu compreendo a tentativa de Snyder desta forma, algo que na época dos citados filmes não percebi, é porque consegui traduzir as entrelinhas dessas produções. A indagação acima não é nitidamente feita nos filmes, cabe a cada um identificar o que se prontifica visível nessa direção dentro dos contextos de cada um deles. Não são filmes rasos, nem repletos de futilidades ou piadinhas estúpidas a todo o momento; não tem dancinha ou musiquinha agradável aos ouvidinhos da plateia. São filmes visando gerações de indagações e meditações, discussões e cintextualizações que, admito, não conseguem alcançar grande parte do público espectador. Por isso, BvS, mais do que O Homem De Aço e outros filmes da DC, ainda hoje é um tema relevante e recorrente para ser discutido amplamente. Seja gerando brigas ou quase nenhum consenso, é um filme que não deixa ninguém ser a ele indiferente ou distante.
Porque Snyder provoca. Seu Superman não é o sorridente e divino Superman de Christopher Reeve. Seu Batman não é o infalível e genial personagem que os roteiristas da DC praticamente tornaram um Deus com o passar dos anos. Sua Mulher-Maravilha não é a Diana de Linda Carter ou de outras versões sempre demonstrando que ela porta otimismo e esperança. Seu Lex Luthor não é o grave e metódico personagem vilanesco clássico que se antepõe logicamente ao Superman. Inovando nas apresentações desses personagens dentro de uma ambientação que refletia o contexto histórico dentro do qual o filme foi realizado, Snyder propôs algo diferente para quem quer algo diferente. Como pontuei quatro anos atrás, BvS não é um blockbuster e, sim, um filme autoral com grandes possibilidades que não foram levadas adiante pelo estúdio que o produziu. Como extremamente capitalista, assim como a Disney/Marvel, a Warner percebeu que seguir o projeto autêntico e inovador de Snyder dentro do contexto das adaptações afastaria o grande público. E se rendeu ao colorido. E se rendeu às piadinhas. Talvez, em um futuro filme, até tenha dancinha.
Eu fico, no entanto, atado ao que o falecido projeto do diretor construiria, um tom que Coringa, ano passado, parece ter temporariamente retomado. Escrevo "temporariamente" porque já é de praxe que o estúdio é covarde e não levará o sombrio, como denotado na Era Snyder, de volta para seus personagens heróicos. Não sou otimista quanto a um retorno das Sombras, das Trevas, do Cinzento, em filmes realistas como é este, em futuras produções da DC/Warner. Mantenho minha adoração e admiração por este filme intacta, assim como o apreço que tenho por Snyder como diretor e Ser Humano. Posso parecer para alguns de vocês um Fanboy cego, mas não abandono um pensamento apenas porque vai na contramão de uma maioria de pensamentos contrários. BvS não é o melhor filme do mundo, nem o melhor de todos os tempos; no entanto, considero-o no mesmo patamar de Batman, O Cavaleiro Das Trevas por ter entregado algo inovador que dialoga com a época atual em seus textos, contextos e subtextos. Em seu texto, um diálogo preciso com uma época que necessita de esperança em meio a tragédias várias nos campos sociais e econômicos. No contexto, a ênfase no tocar em temáticas políticas e religiosas acerca da necessidade de termos Salvadores e Adversários, candidatos a Jesus e candidatos a Satan dentro das duas esferas. No subtexto, a tensão existencial permanente da Humanidade diante de desafios que estão além de suas naturais capacidades.
Quatro anos depois e enfrentamos agora a Pandemia do Coronavírus dentro de um tenso texto, contexto e subtexto que não diferem muito do não muito distante ano de 2016 no panorama histórico contemporâneo. No filme, temos um mundo inteiro tentando compreender e aceitar um alienígena superpoderoso entre os habitantes terrestres. Dimensão de fatos que envolvem toda a globalizada sociedade vista na película que questiona veementemente a presença dele. Na nossa realidade, hoje, o planeta é questionado por si mesmo através de uma Pandemia que globalmente revira tudo de cabeça para baixo. Aqui em 2020, nós, humanos, questionamos a presença de tudo aquilo que nos levou ao atual estado alarmante e consideravelmente trágico. É uma comparação direta que faço entre o Superman e o Coronavírus dentro desta análise de BvS, sendo apenas um exercício sem pretensões acadêmicas ou de verdade absoluta ou do convencimento de quem lê acerca desta minha viagem interpretativa advinda de minha parte. Indiretamente, Superman causou mortes no filme e no que foi anteriormente citado, gerando a reação do Batman contra sua presença na Terra. Diretamente, o Coronavírus causa mortes na realidade onde este texto está chegando até vocês, gerando a necessidade da nossa reação imediata. A Pandemia da Celebração e Endeusamento de um Super-Herói é enfrentada pelo Batman, que vê nele, inicialmente, apenas um assassino. A nossa Pandemia, o Coronavírus, nada celebrado ou endeusado, apenas sendo por alguns acéfalos minimizada, é um assassino serial mirando não apenas os Seres Humanos, mas pilares como a Política, a Economia, a Tecnologia, a Ciência, a Religião e a Sociedade como um todo. Não é difícil fazer essa contextualização, visto a atualidade do filme ser bastante nítida. Invertendo as condições e posições, ambientes e realidades, as situações vistas no mundo do filme não seriam muito diferentes do que estamos presenciando agora em nosso mundo. Pessoas se aproveitando do momento para fazer Política. Pessoas usando o medo para fomentar o ódio. Pessoas que querem o caos para poderem lucrar de alguma maneira ao fim da tempestade.
O filme, se realizado após este nosso atual momento, seria ainda mais sombrio do que é. Não é o melhor ou o maior filme, como eu escrevera antes; no entanto, ouso afirmar ser uma obra-prima que ainda precisa ser revisitada e reinterpretada como uma criação que traduz todas as maiores tensões e problemáticas da contemporaneidade em seus níveis mais elevados. Não é um filme a ser subestimado, abram suas mentes se alguns de vocês lendo este texto já concluíram há algum tempo que ele é meramente descartável. Não vou obrigar, entretanto, ninguém a gostar dele; nem quero aqui dizer-lhes que devam deixar de atacá-lo, caso os alguns, entre vocês, que citei como opositores dele estejam mentalmente contestando tudo que acima escrevi. Gosto deste filme, simplesmente. E tudo dito aqui explica uma vez mais a minha gratidão por ele ter sido realizado, sendo um oásis de qualidade no meio de tantas espalhafatosas areias produzidas que com um estalar de dedos, se eu pudesse, reduziria ao Nada.
Saudações Inomináveis a todos vós, Realistas Leitores!
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