Escrito por: Sandro Figueiredo
Eu te digo quem você é: você é uma resenha.
Você não passa de um resumo ambulante da opinião alheia. A sinopse de um filme
B que só passa de madrugada no Canal Brasil, que é pra não correr o risco de
alguém assistir (‘cabei contigo, ‘cabei não?). Mas não se aflija/envergonhe. Eu
também sou. Todos somos. Essa, aliás, é uma das inevitáveis sinas do viver.
-“Mas, como assim, Sandro?”
Pergunta você, inconformado leitor. E eu, como de costume, explico melhor logo abaixo.
Eu explico. Você é aquilo que os outros dizem a seu respeito. Por um motivo muito simples: você não sabe quem você é.
Como já disse a Ana Carolina:
“Todo mundo acha que pode, acha que é pop, acha que é poeta Todo mundo diz que sempre tem razão na hora certa”
(exceto o Sandro, que diz que sempre tem razão o tempo todo)
Enfim, você muito provavelmente pertence ao incontável rol de gente que não
sabe coisa alguma a respeito de si mesmo. Seja por comodismo, incapacidade
cognitiva, petulância ou pura e simples idiotice, as pessoas são animaizinhos
que não se conhecem. E não pense que o seu perfil no Orkut ou no Facebook serve
pra te descrever de alguma forma, porque o que está escrito lá se refere a quem
você ACHA que é. Ou – o que é ainda mais patético – a quem você GOSTARIA de ser
(voz da experiência falando).
Em resumo, você é uma sopa de letrinhas pretensiosa preparada por outrem, e nada do que fizer mudará isso. Acordei Niilista hoje, não repare.
Agora, suponhamos que você seja realista e autocrítico o suficiente a ponto de
encarar de forma franca, coisa que 100% do mundo (“plus” você) não é, mas
partamos dessa hipótese. Ainda assim você vai estar a mercê do que dizem a seu
respeito. Desista.
E o que é pior, nem todo mundo – quase ninguém, aliás – vai te definir com o
devido detalhamento. Certamente não vão te atribuir os necessários adjetivos.
Ou o merecido desprezo. Quer dizer, não bastasse ter – o que você julga ser –
seu alter ego totalmente distorcido do real, isso ainda vai acontecer em poucas
palavras. Exemplo:
Sandro por Sandro:
-“Quem sou eu? Bom, eu sou um sujeito sarcástico, crítico, mordaz, inteligente,
sagaz, bonitão, do queixo furado, sexualmente criativo, bom pai, bom marido e
que escreve estratosfericamente bem. E também sou modesto – mas estou tentando
deixar de ser, vagarosamente, como é possível perceber. Ei, eu ainda nem falei
que sou bom no fliperama, falei? Pois é, eu sou. Meu único problema mesmo é a
memória, que costuma ser insuficiente pra guardar tanta qualidade. Mas, dada a
circunferência da minha cabeça, isso, definitivamente, não é uma questão de
falta de espaço. E por aí vai. ‘Cêta com tempo? Porque, se tiver, eu posso
fazer a minha lista de características em ordem alfabética, sendo cada uma
descrita minuciosamente e...”
-“O Sandro? Ah, é um Mané lá de Penedo – seja lá onde fique isso – que tem um Blog.”
ou
-“É um cara aí.”
ou
-“Ah, é o pai da Ana Lua/ marido da Shirley/ filho da Eci, etc”
(sim, porque, quando muito, você ascende à condição de referência)
Desesperador, não? Você pode se adjetivar o quanto quiser. Mas, na fria e ingrata
prática, não passa de meia dúzia de verbetes – inevitavelmente pejorativos – de
alguém.
Agora, olha bem pra minha cara: eu pareço ser o tipo de sujeito que perde o
sono por causa da opinião pública sobre o Sandro? Então, deixemos claro, minha
intenção aqui é apenas dissertar acerca desse fenômeno social. E não, em
momento algum, me preocupar com isso. Falei grosso, né?
O que os outros pensam de você é o Photoshop que edita a sua imagem. E você,
definitivamente, não tem controle sobre o mouse.
P.S.: caso sua auto-estima tenha se estilhaçado pelo chão em milhões de
dolorosos fragmentos traumáticos, esse link pode ajudar.
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