INCRÍVEL, FANTÁSTICO, INACREDITÁVEL STAN LEE!!! - Homenagem a Stan Lee (Parte IV)


"Nem posso dizer como é ótimo ver todos vocês. Passei décadas da minha vida tentando entretê-los e diverti-los. E agora vou me esforçar para contar como tudo aconteceu, com umas divagações ao longo do caminho."

Estamos na quarta e penúltima parte da nossa homenagem ao Stan Lee, após a morte do grande cocriador da Marvel! Farei aqui breves comentários sobre a biografia em quadrinhos do cara, que ficou bem popular quando publicada há uns anos atrás. Tem 192 páginas que podem ser lidas rapidamente, havendo muitas splash pages, com uma narração bem direta, sem muito texto. O próprio Lee se referiu a ela como uma autobiografia, mas os créditos de produção são da Collen Doran, que foi desenhista, e o famoso Peter David com o roteiro.



A dupla trabalha extremamente bem, é um casamento criativo pra ninguém criticar. Admito que não conhecia o trabalho da sra. Doran, mas o Peter David é um escritor que eu já sabia que era fodão pois fez a melhor fase que eu já li do Incrível Hulk, além de ter outros trabalhos elogiados com o Aquaman e o Homem-Aranha 2099. É interessante vê-lo fazendo algo assim tão cartunesco e divertido.


Aí entra a ambiguidade da Doran. Quando eu folheava a biografia ficava decepcionado com os desenhos, não eram muito detalhados. Se tratando da biografia em quadrinhos de um gênio dos quadrinhos, eu imaginava que eles trabalhariam melhor justamente a parte dos desenhos, algo como "A Arte de Charlie Chan Hock Chye" pra quem conhece. Tirando o Lee, que tem seu visual extremamente marcante, alguns caras como o Jack Kirby eu não reconheceria se não falassem que é ele. Mas é daqueles tipos de trabalho que com o tempo você vai se acostumando com os desenhos e acaba gostando! A arte tem uma fluidez com o roteiro super exemplar!


O que eles fazem tão bem, afinal? Bem, a história é narrada pelo próprio Stan, como se ele estivesse dando uma palestra sobre a sua vida para uma plateia. E logo desde o primeiro quadro ele vai fazendo suas piadinhas, acaba ficando uma coisa realmente muito característica, porque lembra muito o Stan Lee, e ao mesmo tempo usa várias características dos quadrinhos mescladas com os acontecimentos da vida dele, como a esposa ser super parecida com a Mary Jane. Vemos desde o nascimento do pequeno Stan, até a época em que estava para sair o filme "Vingadores: A Era de Ultron" em 2015. São mostrados todos os eventos importantes de sua vida pessoal e o desenvolvimento da Marvel até sua queda e ascensão.


Como se já soubesse que iriam comentar sobre isso, não demora muito para a história explicar de forma claríssima como era o Marvel Way de fazer histórias (exemplificado com o próprio Kirby), meio que para já sair logo da reta de acusarem o Stan de estar tomando créditos por coisas que não fez, um comportamento que foi bem frequente no início de seu sucesso e é a maior crítica que as pessoas têm contra ele. Os colaboradores são todos mostrados com grande destaque, às vezes havendo uma página inteira só para suas apresentações. O Kirby deve ter umas três splash pages só para ele nos momentos da história em que foi mais importante, inclusive explicando como ele trabalhava livremente as sinopses do Stan, criando um monte de elementos que vinham de sua própria imaginação (uma justiça que todos que sabem a história da Marvel tentam fazer o tempo todo, reconhecer o Kirby como a fonte principal das criações).

Como eu disse, quase nem dá pra reconhecer, mas com o tempo você se acostuma e se diverte bastante. Note as Kirby Kracles caracterizando o arredor do desenhista (eram essas bolinhas pretas que Kirby fazia para representar forças energéticas).

Outro grande destaque da arte da Doran, compensando a falta de detalhismo, é o constante uso de figuras que mostram do que Stan está falando, como artes originais dos desenhos do Kirby para o Homem-Aranha, capas de revistas que foram marcantes, até o mais recente pôster do primeiro filme do Homem-Aranha, dirigido pelo Sam Raimi.

Sim! Houve uma época que os heróis usavam as máscaras nas propagandas dos filmes!
Porém, ficam algumas desonestidades, que pelo visto não foram averiguadas pelo Peter David. Eles mostram o Doutor Estranho como uma ideia do Stan Lee que teria sido passada para o Steve Ditko, e já há muitos anos sabemos que isso não é verdade, quem teve a ideia pro personagem foi o desenhista, como admitido pelo próprio Lee na época. Depois acho que ele nem percebeu quando colocava na lista de coisas que não fez, mas diz que fez, visto o quanto essa lista é gigante. A história também narra a saída de Kirby e Ditko da Marvel, mas mostrando o lado do Lee, ou seja, os fortes posicionamentos que eles fizeram e suas claras reclamações pela injustiça nos créditos passam meio batido. Compreensível visto que é uma autobiografia do cara com o intuito de celebrar a sua história e a da própria Marvel, então em nenhum momento ele chega a parecer um vilão.

Mais um exemplo de splash page em homenagem ao Kirby, mais uma vez com as Kirby Kracles.
O jeito enérgico que Stan é mostrado quando tenta convencer o editor Martin Goodman das revistas é divertidíssimo e lembra muito o personagem que conhecemos, mantendo esse pique quase que até os 100 anos, como um dos maiores showmans que já vi. É sério, eu não duvido que em uma lista das pessoas mais carismáticas da história o Stan entrasse no Top 5. Se ele não foi realmente um bom escritor, na história é possível ver como ele foi um visionário e um cara que batalhou para a Marvel se tornar o que foi. Veja bem, a forma que eles eram quase mortos de fome, até depois você ter um cara que conhece o Bill Clinton, a rainha da Inglaterra e o Paul McCartney faz com que o fim da história seja até emocionante.


A biografia também serve como uma excelente concentração de histórias curiosas sobre a Marvel. Por exemplo, quando o Stan reclamou que a armadura do Homem de Ferro não tinha nariz, quando o Kiss fez com que o próprio sangue fosse impresso na revista, as negociações para filmes e séries de TV, desventuras que Stan teve com nerds e empregados quando dava palestras pelo país inteiro (e futuramente no mundo inteiro) entre vários outros divertidos acontecimentos que são narrados extremamente bem nessa revista.


Apesar do tom engraçado, tem algumas passagens sobre coisas sérias, como falência, a perda da filha, a competição com a DC, os problemas com o Comic Codes Authority e as dificuldades com o psicopata psicólogo Frederic Wertham, que queria convencer o mundo que HQs eram a fonte de todo o mal que surgia nos jovens.

"Frederic Wertham. Um psicólogo nascido na Alemanha, que dirigia uma clínica popular que quase só cuidava de crianças pobres. Nessa época, ele conheceu muitos delinquentes juvenis. A maioria deles lia quadrinhos. Claro, como milhões de não delinquentes, mas o Dr. Wertham não ligava pra eles. Em vez disso, ele concluiu que os gibis levavam as crianças a uma vida de crime."

Engraçado ver isso e pensar que tantas décadas depois ainda temos tanta gente que defende esse tipo de pauta, recentemente tendo saído até um livro aqui no Brasil que defende que o Superman é um personagem nazista (???Criado por judeus???). E o pior é que o autor é um dos maiores editores de quadrinhos que temos no Brasil, vai entender!


Concluindo: essa é uma HQ excelente que serve para todos os fãs da cultura pop moderna terem diversão garantida, conhecendo a trajetória do Stan Lee e da Marvel em uma narrativa que transborda com todo o carisma dele. Para quem é mais aficcionado e quer saber como esses personagens realmente surgiram, é melhor procurar a biografia gringa "Kirby: King of Comics" e assistir o documentário "In Search of Steve Ditko", que mostram o rico lado dos desenhistas nessas criações. Achando por um bom preço, vale a pena, mas hoje acho que já está mais difícil de encontrar. Enfim, o excelsior fica para a próxima parte, que será a última. Espero que estejam gostando da homenagem ao The Man. Nuff said!

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