Poucas
vez eu utilizei o espaço desse blog para falar sobre política. Porque verdade
seja dita, é um assunto que afasta muita gente, faz parte do “público” ir
embora e chama outra parte. Política geralmente não se encaixa tanto com
“espaço multicultural” que eu proponho aqui. Mas o engraçado, que eu estava
lembrando esses dias, é que “política” foi o primeiro tema que escrevi
bastante, aos meus 13, em 2007, quando ganhei minha primeira máquina de
escrever, muito antes de qualquer computador.
A
febre do ps2 tava diminuindo um pouco, e ao ganhar aquela obra de arte, que até
hoje conservo, a formidável Olivette 82, eu dedicava de uma a duas horas por
noite para escrever o meu “jornal”. Eram textos pobres, sem margens, cheios de
erros gramaticais, e com fotos que eu extraia de revistas VEJA antigas que eu
achava na rua, ou em casa, digo, coisa lá dos anos 90, do tipo que a Vera
Fischer ainda era gostosa. Eu datilografava sobre as coisas que eu achava
injustiças. Sobre as pessoas que eu achava que não tinham voz e pichavam nas
paredes, evangélicos que botavam som alto na rua atrapalhando a vizinhança e
sobre o governo do meu estado, que verdade seja dita, já no primeiro mandato
estava precário, algo que eu sentia na pele por estar no ensino público e além
de poucas aulas, passar semanas sem merenda.
Datilografada
a página, ela não sofria nenhuma revisão, eu pegava uma moedas e tirava
fotocópia delas por 0,10 cada, e saia por ai querendo vender para as pessoas a
0,25... É claro que quase ninguém comprava, e quem comprava, geralmente eram
pessoas conhecidas, ou que achavam aquilo tão estranho partindo de uma
“criança” que compravam por achar curioso. Vale dizer que nesse tempo, um
jornal daqui da cidade custava 0,50, então eu estava perdido antes de começar,
mas naquele tempo, não havia a vontade de desistir antes de começar, como é
hoje.
Cortando
para 2014, eu votei em Levy Fidelix no primeiro turno. Chocante, não? Talvez
você lendo isso agora pense: “Mas esse rapaz parece ser tão instruído e
sonhador, e vota num sem noção daqueles?”. No segundo turno, eu votei no Aécio
Neves. Mas hoje, eu diria que se ambos se candidatassem, eu ainda votaria no
Levy, mas jamais no Aécio. Entre inúmeros arquivos que eu começo e nunca
termino, tinha aqui nos meus rascunhos de caderno um com o título “Por que
Votei em Levy Fidelix”. Mas lembra que não escrevo muito sobre política?
Acontece que o meio influencia a gente em certos pontos. Recentemente, o ANT do
MEGABLOG escreveu um texto
ótimo sobre como estamos reagindo ao Michel Temer e suas medidas “impopulares”.
Um outro blog que comecei a ler, e conversar quase sempre com o dono, o MUNDO INOMINÁVEL também se
pronunciou sobre sua indignação sobre alguns prefeitos eleitos esse ano. E ele
até me confessou que algumas pessoas se sentiram ofendidas com o que ele
escreveu, e entenderia se eu me senti-se também. Mas não há com o que se sentir
ofendido, “cada pessoa é um mundo”. É claro, que se pudéssemos convencer aquela
pessoa que gostamos muito, seja nosso cônjuge, irmão ou professor da nossa
visão, o mundo seria cada vez mais bonito. Não. Não seria. Sabe por que? Porque
seria um mundo sem personalidade, sem questionamentos, estático. Pegue por
exemplo um caso de todos tipos de amigos que você pode ter:
O amigo A concorda com você em
praticamente tudo. Tudo o que você faz, ele elogia, pode ser a maior barbeiragem
do mundo, mas ele ta lá levantando o polegar como se você fosse um líder de um
monastério e estivesse concedendo a suprema sabedoria. Tudo esse amigo lhe
consulta, seja filmes, quadrinhos, livros, e do que você gostar, ele vai
gostar. Mesmo que ele não goste, ele vai dizer “Mas o que você entendeu?” Você
explicará e ele gostará também.
O amigo B nem sempre vai concordar
contigo. Muitas vezes vai levantar discussões e dizer “Não é desse jeito, nem a
pau que eu vejo assim”, vai confrontar suas maiores convicções, independente de
você estar no ensino fundamental ou ter um doutorado. Quando lhe ver fazendo a
citada barbeiragem, vai dizer bem na sua cara o por quê daquilo estar
incorreto. Pode até lhe deixar chateado, por ele ser uma pessoa difícil, mas
isso é o que ele é.
Caso
não tenha reparado, eu sou o amigo B.
Antes
de eu sair de férias, eu tinha escrito no meu velho caderno, um texto em seis
folhas justificando minha visão do governo de Dilma já não se manter desde
2010, imagine em sua duvidosa reeleição em 2014. Mas no fundo, após quatro dias
escrevendo e devaneando, decidi que era hora de parar, e acabei tirando férias
e não mais tocando no assunto, me afundando no xadrez e não me incomodando mais
com a situação do país, que pegasse fogo com o Eduardo Cunha jogando álcool e o
Temer segurando os fósforos. Eu não me meteria mais. Só que ai, eu seria o
amigo A e não o B certo? Por isso... Por que votei mesmo no Levi Fidelix?
Simplesmente
por sua sinceridade e comprometimento político. Abaixe a pedra e eu explico.
Rimou. Revise os debates de 2014, e veja que tirando as polêmicas baratas que
seus adversários o causavam como “o senhor concorda com união homo afetiva?”,
ele era um dos poucos que estava discutindo ferrenhamente os gastos públicos e
a economia em geral, além de se mostrar um dos poucos a conhecer a constituição
de trás para frente, estando portanto, conhecedor do que era seus direitos e
deveres. Isso é ofensivo? Observando o nosso país, temos como “exercício de
cidadania” o cidadão ser um eleitor forçado, votando muitas vezes em qualquer
um para não ter que pagar uma multa. Sem o ensino médio completo e sem o mínimo
conhecimento sobre seus direitos. Isso é “cidadania” na nossa nação. Buscar
mais do que isso é “elitismo”. Indo direto na questão, Levi por causa de sua
famosa resposta de “aparelho excretor não reproduz” foi tido na época como um
dos exemplos máximos de homofobia no país. Se for pesquisar hoje em dia o
significado dessa definição, encontrará coisas como “medo, aversão, repulsa,
ódio ou preconceito”. Porém, de acordo com meu humilde conhecimento etimológico,
fobia vem do grego fobos, que é o resultante
de real medo. Eu por exemplo, ainda tenho certa fobia de altura, até subir em
um telhado era uma tarefa conflitante para mim, só de chegar em determinado
degrau, as pernas tremiam e eu travava de verdade. Era ali a manifestação do
temor, de não conseguir passar dali, mesmo eu racionalmente sabendo que uma
queda daquela altura não me mataria.
Levi, ao ver um homossexual, travaria
daquela forma e sairia correndo? Acredito que não. Acredito que existe uma
abissal diferença entre ter medo de verdade de uma coisa, e ser um discordante.
Dito isso, eu afirmo, Levi Fidelix não é um “homofóbico”. E se você toma como
ofensivo a frase “aparelho excretor não reproduz”, devia primeiro tentar
entender o contexto e o sentido aplicável dela. Vamos a mais exemplo. Existe a
gravidade, que é uma constante independente da minha discordância. Se eu disser
algo como “pular de um prédio sem nenhum equipamento lhe fará se esborrachar no
chão”, eu estou sendo o que? “Logicafóbico?” Se você que lê isso é homossexual,
tem um parceiro e amor no coração para criar uma criança, eu lhe incentivo a
isso, afinal, desequilíbrio psicológico independe de opção sexual. Agora eu não
posso tomar como ofensivo, ou lhe apoiar a se ofender com a simples afirmação
do óbvio. Pelo menos na nossa humanidade, bebês só saem do útero, pode ser que
em 2050 isso mude, mas por agora, é assim que a natureza funciona. A tolerância
tem de ser cultivada em ambos os lados dos “fronts”
de batalha ideológica que temos por ai.
As
pessoas estão tão preocupadas com as pessoas que discordam de relacionamentos
amorosos entre pessoas do mesmo sexo, que não param para ver pessoas se
promovendo politicamente a partir disso. Além dessa questão muitas vezes ganhar
mais voz popular que questões mais sérias na área de segurança pública,
educação e saúde. Peguemos por exemplo um cara como Jean Willys, ídolo e
referente da candidata Luciana Genro. Esse homem ascendeu sua fama em um
reality show, que venceu em 2005, se fazendo de vítima por ser homossexual. Simples
assim, alguém mais atento já se perguntaria “mas como o cara defende essa
escolha como forte e independente, se vive se fazendo de vítima?”, mas isso
estava longe de se acabar por ai, com ele, até então professor de português,
com 1 milhão no bolso por expor sua vida íntima por 3 meses. Esse mesmo cara,
após entrar na carreira política, defende que com 16 anos, um criminoso não
possa ser preso, já que ainda é uma criança e não sabe o que faz, porém, na
visão dele, além de projetos de lei, uma criança com 6 anos de idade tem de ver
vídeos na escola com pessoas do mesmo sexo se beijando, pode fazer cirurgia de
mudança de sexo e afirmar sua sexualidade. Com 6 anos. Além é claro, de se for
um menino, que se julgue menina, poder frequentar o banheiro das meninas.
Ai
depois as pessoas me perguntam porque passo tanto tempo no xadrez ignorando o
mundo real...
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