A primeira tocha não nasceu de
cálculo, nasceu de um “acho que vai dar”. Alguém pegou madeira, esfregou até
doer e acreditou que podia arrancar fogo do nada. Se tivesse esperado laudo
técnico, tava todo mundo congelado até hoje.
Navegar em mar aberto também não foi ciência, foi desespero com fome. Não tinha GPS, não tinha carta náutica: só a coragem burra de acreditar que do outro lado do horizonte existia alguma coisa além do nada. E foi essa coragem burra que fundou impérios...
Hoje tratam intuição como defeito
de fábrica. Como se sentir fosse um bug a ser corrigido, e não o motor
que move. Exigem relatório, estudo, planilha, aprovação. E o resultado é óbvio:
um monte de gente parada, confortável, esperando permissão até pra respirar.
O que mata não é errar: é a
covardia. Essa mania de só dar passo depois que dez especialistas já disseram
“seguro”. Só que toda validação nasceu de alguém que ignorou a necessidade
dela.
Newton não pediu aval antes de
chamar a gravidade de lei. Tesla não montou PowerPoint pra justificar olhar um
trovão e pensar em energia. Ninguém virou história por esperar autorização.
O ser humano que você idolatra
por ter mudado o jogo não tinha garantia. Tinha a arrogância necessária pra
meter a cara e bancar o ridículo. É isso que diferencia quem escreve o manual
de quem só segue regra.
E é humano pra caralho sentir sem
comprovar. Pular sem saber se tem chão ou abismo. Quebrar os dentes e ainda
assim achar que valeu a queda. Viver com a chance real do fracasso, mas com a
ousadia de acreditar que pode dar certo.
E sabe por que eu pensei nisso?
Porque eu também já fiquei travada, esperando lógica pra autorizar vida. Como
se tudo precisasse passar num crivo racional antes de ser real. Mas as coisas
mais intensas que eu vivi — e até as conversas mais malucas que já tive —
nasceram desse impulso de confiar no que parecia idiota. No que não dava pra
provar, só sentir.
Talvez seja justamente isso que
mantém a chama acesa: arriscar o ridículo, porque virar cadáver funcional é
mais vergonhoso do que quebrar a cara.

