Infelizmente, mais uma vez, venho escrever um post sobre uma personalidade da cultura pop que faleceu recentemente. Nesse caso, falo de Jim Shooter, que nos deixou em 30 de junho. Lendário editor-chefe da Marvel. Na opinião desse escriba, o melhor editor-chefe da história da Marvel. Melhor que Stan Lee, Roy Thomas e Archie Goodwin? Sim. Está certo que uma confluência de fatores pode ter contribuído para isso, e ele ter podido trabalhar com uma das melhores gerações de criadores dos quadrinhos fez muita diferença.
Nascido em Pittsburgh,
em 1951, Shooter iniciou-se na indústria das HQs bem cedo. Aos 12/13 anos, enviava
esboços de histórias e capas para o editor Mort Weisinger da DC Comics. Depois
de ter vendido roteiros de uma história da Supermoça e outra da Legião dos Super-Heróis
para a editora, foi admitido como um de seus escritores. No período em que
trabalhou para a DC, destaca-se uma elogiada e consagrada fase da Legião dos Super-Heróis.
Em meados dos anos 70,
Shooter migrou para a Marvel, tornando-se editor em 1975 e, finalmente,
editor-chefe em dezembro de 1977, sendo o mais jovem da editora. A
gestão Shooter foi conhecida por sua mão de ferro; ele fazia questão de aprovar
e supervisionar a maioria dos roteiros e, também, a arte das revistas, o que lhe
rendeu bastante dor de cabeça com vários dos criadores. Entretanto, sua gestão
foi responsável por algumas das melhores histórias e fases da editora. É desse
período os X-Men de Chris Claremont e John Byrne; Demolidor de Frank Miller;
Quarteto Fantástico de John Byrne; Homem-Aranha de Roger Stern; Thor de Walt
Simonson; Capitão América de Roger Stern e John Byrne; Hulk de John Byrne,
entre outras HQs clássicas e memoráveis.
No entanto, o lado
controlador de Jim Shooter também lhe rendeu muitas brigas com os criadores, particularmente
com Chris Claremont e John Byrne, durante a lendária fase desses criadores nos X-Men.
Um dos tópicos que foi motivo de conflito foi o destino de Jean Grey como Fênix
Negra. Shooter queria que Jean terminasse em um planeta sendo torturada até o
fim dos dias, mas Claremont e Byrne preferiram por bem fazê-la se suicidar
durante o conflito dos X-Men com os Shi’ars. Shooter também vetou a ideia esdrúxula
de fazer com que Mística, em vez de ser a mãe do Noturno, fosse o pai. Entretanto,
essa ideia depois de décadas foi oficializada na Marvel. Ele também não
permitiu que Kitty Pryde fosse bissexual e tivesse um caso lésbico com Ilyana
Rasputin, a irmãzinha do Colossus. Porém, essa foi outra ideia que depois foi
adotada pela Marvel décadas depois, e agora Kitty é bi.
John Byrne teve também
muitos conflitos e desavenças com Shooter. A história fase do Capitão América
dele com Roger Stern chegou ao fim com apenas nove números, porque Shooter
vetou algumas das ideias que a dupla tinha para o Sentinela da Liberdade.
Shooter também impediu que Stern e Byrne elaborassem uma saga em seis edições
do Capitão América contra o Caveira Vermelha porque ele havia criado uma nova
norma em que uma história não poderia levar mais de três revistas para ser
contada. Durante sua fase no Hulk, Byrne chutou o balde e aproveitou o convite
da DC para escrever e desenhar o Superman e deixou o título sem uma conclusão,
cabendo a Al Milgrom concluir a história.
Outra inovação da era
Jim Shooter foi a elaboração do conceito das megassagas. A primeira na
realidade foi uma minimegassaga, o Torneio dos Campeões, em que vários
heróis da Marvel são colocados para se enfrentar em um torneio entre o Grande
Mestre e a Morte. Após isso, em 1984, Shooter teve uma ideia ainda mais
ambiciosa, que foi escrever a saga Guerras Secretas, desenhada por Mike
Zack.
Essa saga foi criada por uma motivação meramente comercial, que foi vender os bonequinhos dos heróis e vilões da Marvel. Nos anos 80, a Marvel tinha a licença de várias franquias de brinquedos para fazer HQs destas. São dessa época as HQs de Transformers, G. I. Joe (Comandos em Ação), Star Wars, Rom, Micronautas e outras. Então, Shooter pensou: “por que não fazer brinquedos dos nossos próprios heróis?”. Dessa forma, Shooter fez um acordo com a Hasbro e licenciou os heróis e os vilões da Marvel como brinquedos. A maxissérie Guerras Secretas, em que heróis e vilões eram transportados para o planeta do poderoso Beyonder para se enfrentarem, seria a base para a venda desses brinquedos. Não preciso nem dizer que a ideia funcionou perfeitamente.
Além disso, Guerras Secretas tornou-se a maior saga da Marvel, talvez sendo só superada por Desafio Infinito e Guerra Civil, anos depois. O roteiro, apesar de começar meio morno, vai em uma crescente, e o final da história, quando o Doutor Destino consegue o poder do Beyonder e confronta os heróis, é realmente apoteótico. Shooter ainda desenvolveu Guerras Secretas II no ano seguinte. Porém, ao contrário de sua predecessora, essa saga foi um fracasso.
E foi igualmente um fracasso o desenvolvimento do Novo Universo Marvel, que foi uma iniciativa de criar novos heróis que não caíram muito no gosto do público, apesar de até terem certo sucesso no Brasil, quando publicados pela editora Abril em fins dos anos 80. Isso, aliado a seu temperamento e a diversos problemas com os criadores, fez com que Shooter deixasse o cargo de editor-chefe da Marvel.
Entretanto, Shooter
nunca deixaria de empreender e criar novas histórias no meio dos quadrinhos. No
início dos anos 90, ao lado de outros artistas que migraram da Marvel, como
Barry Windsor-Smith e Steve Englehart, fundou a Valiant Comics. A Valiant era
uma editora que conseguiu o direito de heróis clássicos, como Magnus, The Robot
Fighter e Solar, e os uniu a novos personagens, como X-O Manowar e Bloodshot,
entre outros.
Embora nos últimos anos estivesse aposentado e lutando contra um câncer de esófago, Shooter continuava a ser uma presença constante nas comic cons, representando uma das melhores épocas da Marvel. Fica aqui minha lembrança a esse grande escritor e editor. R.I.P.


















