Pequeno Conto Noturno (96)




23h41.

Rubens tem a convicção de que, quando morrer e for fazer trinar a campainha da porta do Inferno, a rogar exílio eterno ao Capeta, ela soará com mesmo timbre e ressonância que o cigarrear do seu interfone,  quando tocado por Calil. Que surge sempre sem ser convidado, e Rubens só não diz que também nas horas mais impróprias,  porque, simplesmente, não há horas que sejam próprias para se aturar Calil. 
Sem aquelas escadas de incêndio dos filmes americanos, que serpenteiam pelas laterais dos prédios, ou qualquer outra rota de fuga, Rubens aperta a tecla do interfone e libera a subida de Calil.
- E aí, Rubão? Saudade do caralho, viado, e tá lá na Bíblia, porra, se Rubão não vai a Calil, Calil vem até Rubão.
Maomé na Bíblia?, pensa Rubens, e ainda por cima Calil é casado com uma evangélica, o quão só mostra o farsante picareta que ele é. Mas prefere deixar essa passar, a noite mal começara. Sabe que precisará de todas suas energias para não ser julgado por homicídio qualificado até o fim dela.
E Calil passa para Rubens um fardo já gelado de 18 latões de cerveja Patagônia IPA, uma boa cerveja. Os tempos de chupim, de parasita, de serra-tudo dos amigos de Calil terminaram, ele achara outra fonte pra se encostar. Casara-se com uma evangélica viúva mais endinheirada que o Edir Macedo, dera um belíssimo golpe do baú, ou, melhor, o golpe da Arca da Aliança. E, desde então, posa de generoso para com os amigos. Crápula.
- Põe lá na geladeira, Rubão, coisa fina, pena que ouvi dizer que você despirocou de vez, que não tá batendo bem dos pinos e que não tá podendo beber.
- Os rumores sobre minha sobriedade foram um tanto quanto exagerados. E ao que eu devo o prazer dessa sua aparição?
Rubens sobe seis latões para o congelador, deixa dez nas prateleiras da geladeira e volta com dois para a sala; um canecão para ele e um copo americano Nadir Figueiredo para Calil.
- He, he, he... sempre simpático e hospitaleiro, né, Rubão? Vim porque tava com saudade mesmo do meu amigão esquisito, viver no meio de crentes otimistas, que dão louvores a Deus por qualquer desgraça que aconteça em suas vidas, é foda. Tô com saudade da sua ranzinzice, de ouvir alguém mandar Deus tomar no cu.
Os dois dão uma boa golada na IPA. Depois de uns quarenta dias sem álcool, aquela IPA desce feito suco de buceta de virgem pela garganta de Rubens, e o mundo, às suas vistas, começa a se equalizar, feito a Humphrey Bogart depois das suas famosas duas doses de whisky.
- E vim também - começou Calil - para ouvir, ou não, da tua boca uns boatos que andam falando de ti por aí. Tão dizendo que você amarelou, que jogou a toalha, que arregou, enviadou geral, que tá até indo em psiquiatra, psicóloga, tomando antidepressivos e outras bichices. Aliás, a psiquiatra e a psicóloga são comíveis?
- A psicóloga é. E é tudo verdade. De fato, entrei nessa. Durante muito tempo, lidei com o dilema : vale a pena me drogar para aturar a choldra ignóbil com que lido? Ou, vale a pena não me drogar e me exasperar pelo contato com ela? Você sabe que, durante muito tempo, eu me decidi pela segunda proposição do dilema, não, não vale a pena eu me intoxicar pela patuleia. Como me sempre me fodi, decidi testar, então, a primeira proposição. Sim, tenho ido à psiquiatra, à psicóloga, tomo antidepressivos, passo um mês ou mais sem álcool, mas, principalmente, consigo, volta e meia, trinta, quarenta e cinco dias de afastamento do trabalho.
- Mas tá tomando cerveja comigo agora.
- Você deu azar, se fodeu. Aos fins de semana, longe da turba, ainda que eu não vá beber, o remédio mais pesado, o tarja preta, que eu tomo apenas para facilitar meu sono, eu posso deixar de tomar. Hoje, por acaso, você apareceu com uma boa cerveja.
- Mas Rubão, cara, você sempre foi meu ídolo, um cara forte pra caralho, macho das antigas, cagando pro mundo, casca grossa pra caralho, tava pouco se lixando para os outros. Cadê essa força, caralho?
- Ainda continuo com todos esses atributos, forte, casca grossa, capaz de encarar, derrotar, humilhar e botar a turba em seu devido lugar.
- Então?
- Acontece que não quero mais. Desisti de ser forte. Dá muito trabalho. E, se algum dia trouxe, hoje não traz nenhuma recompensa. Não há propósito nenhum em ser forte num mundo de fracos. Continuo capaz de brigar e vencer. Mas vencer para quê? A quem? A atual ralé? A geração emoji e tik tok? Que vitória de merda é essa?
Rubens vai à cozinha, pega mais duas do congelador, sobre outras duas, sempre põe as mais quentes à esquerda de quem abre a geladeira, e volta para a sala.
- Resolvi, pois, também, posar de fraco, de um cara humilde que tá procurando "ajuda", de depressivo, de maluco, cansa menos. E até angaria mais simpatia e - credo - empatia dos que nos rodeiam. Até mesmo olhares de admiração pela admissão da fraqueza. Moramos em um país de fracos, de vermes. Eles tem inveja e mesmo raiva de quem é mais forte e capaz que eles, é até perigoso você se mostrar muito bom e competente. Fingir ser um deles, faz que sejamos aceitos como sócio desse triste clube, tornamo-nos mais simpáticos, uma vez que deixamos de ser um "mistério" para eles, uma vez que não precisam pensar para fazer algum tipo de julgamento ou concepção de nós.
- Caralho, Rubens. Então, você tá fingindo, você não tá doente?
Os dois dão mais uma talagada em suas cervejas; Calil reclama do copo Nadir Figueiredo.
- Você já leu o Cavaleiro das Trevas, Calil?


- E o que que a merda do cu tem a ver com a porra das calças?
- Claro que tô doente. O contato exagerado com gente sempre me pôs assim. Nada do que está escrito no laudo da psiquiatra é incondizente com a verdade, tenho depressão, episódios de pânico, profunda tristeza. E tenho faz tempo. Pergunto de novo, você já leu o Cavaleiro das Trevas, Calil, a obra máxima de Frank Miller, de 1986?
- Não, não li, e vai lá pegar mais cerveja, achei que fosse tomar toda essa merda sozinho. E traz um canecão também pra mim, que sei que você tem vários, que porra é essa de você tomar num canecão viking e eu nessa merda de copo americano?
Rubens volta com mais dois latões. E sem uma caneca pra Calil.
- O Cavaleiro das Trevas, de Frank Miller - começa Rubens -, se passa num futuro hipotético e indefinido, Bruce Wayne com 60 anos, a cara do Clint Westwood e aposentado do uniforme do morcego há duas décadas. Um decreto governamental, o decreto Keane, proibira a ação de vigilantes superpoderosos. Com uma única exceção : o comportado e bom moço e babaquara Super-homem, que apesar de ter os poderes de um deus, paradoxalmente, continuava subserviente às autoridades, seguia a se prestar e a ser usado pelo governo dos EUA como uma arma estratégica. Na história, o presidente era o Ronald Reagan e os EUA estavam em litígio com a ilha de Corto Maltese, um protetorado soviético prestes a lançar mísseis nucleares na cabeça do Tio Sam, uma clara alusão à crise dos mísseis de Cuba.
- De novo : e o que tem a ver o cu a ver com as calças, Rubão? A gente tava falando da tua alergia a gente, né? Essa merda toda de você se render.
- Não quer escutar? Tchau. Você veio porque quis. Mas a cerveja fica. Do covil do Rubens, nunca saiu cerveja sem ser bebida ou mulher sem ser comida.
- Continua essa porra, então.
- Porém, a situação em Gotham começa a piorar e Bruce Wayne, frente a tanto horror e iniquidade, numa noite de porre de vinho, é convocado à ação pela entidade do morcego. E volta a barbarizar a bandidagem. Logo, ele começa a atrair a atenção da mídia e a angariar seguidores, os Filhos do Batman, jovens que passam a se trajar como ele e a sair a quebrar ossos e narizes de bandidos. Para evitar que outros vigilantes aposentados e saudosos de esmagar uma traqueia e umas bolas dos sacos de malfeitores seguissem o exemplo de Bruce Wayne, Ronald Regan convoca o Super-homem e ordena que ele dê um jeito no "seu" amigo. Mal a ordem foi dada e soam alarmes de que Corto Maltese fez o impensável, está a lançar mísseis nucleares contra solo estadunidense. Imediatamente, Clark Kent zarpa rumo ao conflito e vai socando mísseis, amassando tanques de guerra, cremando soldados inimigos com sua visão de calor. Mas, na sua cabeça, impera a ordem de deter Bruce Wayne. E trava, em off, um monólogo, um ensaio da conversa que teria de ter com Bruce, a falar da pequenez do homem comum, da raiva e da inveja que ele sente dos superdotados, dos talentosos : "Eles nos matarão, se puderem, Bruce. A cada ano, eles ficam menores. E a cada ano, nos odeiam mais. Eles não devem ser lembrados de que gigantes caminham sobre a Terra". Essa geração de merda, Calil, desse país de merdas, não deve saber que gigantes como eu ainda caminho por entre eles.
- Modesto, hein, Rubão? Mas você tá certo, nunca vi ninguém te vencer no Master.
- Realístico. E, agora, estratégico, feito o velho Bruce Wayne. De anão, de formiga, também me fingirei. Que me tomem como fraco, como alquebrado, que pensem que seus golpes ridículos me feriram gravemente, que cuidem de mim, agora. Vinte e cinco anos de serviço público, de servir ao público, e qual foi o meu prêmio? Depressão, crises agudas de ansiedade e repetidos episódios de pânico. Que se virem agora.
- Comeram a carne, agora que roam os ossos, é isso?
- É por aí. E sou, você sabe, osso duro de roer. Acabou essa sua aí?
Rubens vai e volta com mais duas IPAs. No caminho, a gata Cleonice, no sofá, enrodilhada à irmã Pretinha, lança-lhe um olhar de como quem pergunta, quando é que essa desgraça vai embora? Cleonice gosta de visitas, as rodeia, as investiga, as cheira, sobe-lhes ao colo. Mas nunca gostou de Calil. Os gatos sabem das coisas. Veem além.
- E também - recomeça Calil - vim  pra te dizer  que encontrei uma amiga tua na semana passada.
- ???
- A Yrina.
- Ah!
- Na verdade, ela me viu, veio falar comigo.
- Menina corajosa, ou imprudente.
- Tomar no seu cu. Eu tava entrando na loja de conveninência daquele posto na 13 e me pareceu ser ela, ao lado de um carro, esperando o frentista acabar de abastecer. Só que ela tava meio diferente. Mais cansada, acho que um pouco mais flácida, gorda...
- Mais velha, enfim, né, Calil? Como todos nós. Tem se olhado no espelho, ultimamente?
- Fiquei na dúvida se era ela ou não, e mesmo que tivesse certeza, não falaria com ela, acho que você sabe que ela nunca foi com a minha cara, né?
- E quem é que vai?
-'Brigado, Rubão, 'brigado, filho da puta, da próxima vez, trago Glacial!
- Que tal não trazer nada, não ter próxima vez?
- Tô fingindo que nem te ouvi. Entrei na loja, peguei uns latões e, quando eu tava saindo, foi ela quem me chamou.
- Pelo nome?
- Não. Só acenou e falou, vem cá. Então, falou, você é o Calil, né, o amigo filho da puta daquele filho da puta? Imaginei que o filho da puta de quem esse filho da puta aqui é amigo fosse você.
- Verdade, Calil. Parece que, nos últimos tempos, é assim que ela se refere a mim, filho da puta.
- Mas vocês eram tão chegados, tão próximos, acho que até apaixonados... o que você fez para essa mulher ter todo esse rancor hoje?
- Na sua ignorância, Calil, você está trilhando caminhos além da nossa vã filosofia, metafísicos, eu diria, até. Creio que não foi o que eu possa ter feito a ela. Justo o oposto, o que eu poderia ter feito, o que eu queria muito ter feito - e ela, também -, e não tive coragem de.
- Tá me dizendo que nunca comeu aquela gostosa?
- É.
- E aqueles peitões?
- Creia você ou não, pois eu mesmo, muitas vezes, não creio, nunca os vi desnudos, eriçados, apontando para mim, nunca os apalpei, lambi, mamei... nunca pus a rola entre eles e os lambuzei de porra. Tudo o que aconteceu entre mim e ela foram promessas futuras; sonhos, na verdade.
- Nunca viu aqueles peitões?
- Pois é, sabe que eu sou um cara de poucas ambições, logo, de poucos arrependimentos. Mas se tenho algum, é esse : nunca ter me fartado nos peitões de Yrina. Falando neles, como eles lhe pareceram?
- Bons, muito bons. Não sei se ainda naturais ou se reforçados por silicone, por sutiã de bojo, mas bons, muito bons.
- Sou ateu, você sabe, Calil, materialista, fatalista, niilista, até, não acredito que reencarnemos sucessivamente para cumprir algo do qual prevaricamos em vidas anteriores. Mas caso eu esteja errado, minha próxima encarnação teria um único propósito : dar uma boa mamada nos peitões de Yrina. Valeria uma existência.
Calil acaba com o latão; o de Rubens também já era. 
- Vai lá pegar mais dois, Rubão, e não esquece a porra da minha caneca.
Rubens vai à cozinha, acompanhado pelo mesmo olhar de desprezo e súplica da gata Cleonice, e volta com outros dois latões. Sem caneca pra Calil, lógico.
- E por que - diz Calil, abrindo o latão - não volta a falar com ela, não retoma contato, não tira esse "filho da puta" da boca dela e bota sua rola no lugar?
- Pois, então... - Rubens a deitar a IPA ao seu canecão -, eu acredito, sinto mesmo, que o tempo não é recuperável, ou rebobinável feito uma antiga fita VHS, que cada época de nossa vida, já passada, bem ou mal resolvida, está não só em outro tempo, está também em uma outra esfera de coordenadas dimensionais, que cada época, ao seu encerramento - e nunca sabemos o fato que o determinou, o asteroide que lhe pôs fim, a sua nêmesis -, se cristaliza, se encasula, se fossiliza em um planeta no multiverso de cada existência pessoal. Um planeta a zilhões de anos-luz daquele que começa a ser formado já no dia seguinte à extinção daquela era. Inacessível para todo o sempre. Caso encerrado. Assim, o tempo passado com Yrina, hoje, é um planeta no meu multiverso de arrependimentos, sem nave que possa alcançá-lo.
- Vixe!!! Misturar tarja preta com cerveja dá nisso, né, Rubão? 
- Já leu Crise nas Infinitas Terras, Calil?


- Caralho, 'cê ta foda com essas coisas de gibi hoje! Se eu disser que li, vou escapar dos seus delírios?
- Não.
- Então, vai lá e pega mais duas, que essa aqui já miou. E meu canecão, porra!
- A DC - diz Rubens voltando com mais duas e sem o canecão pra Calil -, a editora Detetive Comics, berço do Superman e do Batman, fundada, salvo engano, em 1935, nem sempre foi essa potência atual, que veio se consolidando desde as décadas de 60, 70. Era uma editora anã, nanica. Alavancada, sobretudo, pelas vendas do Superman e do Batman, foi crescendo e comprando e encampando outras pequenas editoras concorrentes, adquirindo os direitos de todos os personagens de cada uma delas. Aqueles que tinham o mesmo perfil, que seu ajustavam ao universo DC oficial, eram introduzidos nele e passavam a fazer parte de sua cronologia, de sua linha de tempo. Aqueles que não, os que eram incompatíveis às características e à filosofia do universo DC, eram alocados em Terras à parte, em Terras paralelas e alternativas. O Shazam é o exemplo mais clássico disso. E o universo DC passou a ser um multiverso. Chegaram a coexistir, se não me falha a velha memória, cinquenta e duas Terras paralelas. Uma bagunça só.
- Ainda não tô entendendo onde você quer chegar, só sei que não me trouxe a porra do canecão.
- Então, para tentar pôr ordem no galinheiro, em 1985, 1986, veio Marv Wolfman - argumentista medíocre - e George Perez - talentosíssimo ilustrador - e produziram a maxissérie, em 12 edições, Crises nas Infinitas Terras. Que eu também não li na íntegra, mas que lhe conheço o propósito. Uma onda de antimatéria surge do cu do multiverso e caminha, feito um Galactus que acabou de sair da dieta, a devorar os vários planetas do multiverso DC. No final, a la Highlander, só poderá restar um. De cada planeta consumido pela antimatéria, apenas alguns personagens conseguem escapar e irem pulando pro planeta seguinte, rumo à única esfera restante, teoricamente, a nossa, a Terra 1, o universo DC original. As Terras e os personagens aniquilados são apagados da existência, como se nunca tivessem havido, passam a existir apenas na lembrança.
- E daí, caralho?!?!?
- E daí que cada planeta-tempo de nossas vidas também passam, constantemente, pela triagem de uma onda de antimatéria. Algumas pessoas de cada época sobrevivem, conseguem pular para a época seguinte, para a Terra seguinte, e continuam a habitar a nossa Terra 1; outras, não; ficam apenas na lembrança; dolorosamente, apenas na memória. Meu tempo com Yrina, o planeta particular em que habitávamos, não escapou da onda de antimatéria da realidade. E, acredite, quisera eu muito quê. Mas não. A decisão de voltar no tempo, de tê-la novamente comigo não está em meu poder. Nosso planeta não existe mais. Já você, sei lá por que infernos, vai pulando junto comigo, de planeta a planeta.
- Pelo visto, Rubão, ela não vê as coisas assim, te acha um filho da puta.
- Uma concepção sem fundamentos empíricos, sem o menor método científico, uma vez que, creio, ela nunca tenha conversado o suficiente com minha genitora para chegar a tal conclusão.
- Há! Há! Há! Você é mesmo um filho da puta!!!!
- Mas falando de mulheres - começa Rubens, depois de secar o canecão - , e a sua, Calil? Aquela crente tão crente que até crê que você presta pra alguma coisa?
- Tá mais religiosa que nunca, virou lá uma espécie de coroinha do pastor, uma ministra, sei lá, organiza todos os eventos da igreja, vai a viagens e retiros e tal.
- Em suma, Calil, ela tá dando pro pastor.
- Rapaz, sabe que eu cheguei a pensar nisso? A ficar encafifado com tanta devoção religiosa? Cheguei até a pensar em botar algum tipo de detetive atrás, mas pensei bem e desisti da ideia.
- E por quê? - pergunta Rubens lá da cozinha, pegando mais duas.
- Pensei o seguinte, Rubão, tenta acompanhar o meu raciocínio...
- Vou me esforçar - diz Rubens, passando outra lata a Calil.
- Para que eu  iria querer descobrir? Enquanto 10% da dinheirama dela estiverem indo para a igreja e os outros 90% a irem para o meu bolso, foda-se se ela está fodendo com o pastor!
Os dois riem, em concordância e consonância. Desbragadamente.
- És um sábio, Calil; ao seu modo, um verdadeiro Salomão. Procedesse, o mundo, segundo a sua mentalidade, o seu espírito cristão, seríamos um planeta muito mais harmonioso, muito menos beligerante.
- Rubão...
- Fala, seu bosta...
- O que acha da gente deixar a bucetaiada de lado e matar as últimas cervejas ouvindo um Raul?
- Moção mais do que aprovada - diz Rubens!
- Viva Raul, diz Calil!
- Viva Raul, emenda Rubens. E vivas ao Grillo, ao Durval e ao finado Paulistânia.
E o canecão de Rubens e o copo americano de Calil se tocam em um brinde.





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