Lula e os Fragmentados Brasis



Acompanho o Blogson Crusoe, a caverna do ermitão Jotabê, acredito, desde o seu início. Jotabê pode nem acreditar, mas embora nem sempre eu comente, leio todos os seus textos, de cabo a rabo (no bom sentido, claro). Admiro muito a maneira de escrever de Jotabê, o seu estilo. O que não impede, é claro, que vez ou outra discordemos um do outro nesse ou naquele assunto. 

Creio que, no básico, eu e Jotabê acreditemos nas mesmas coisas, nos mesmos valores; discordamos, às vezes, talvez, na maneira de se preservar ou de resgatar esses valores. Mas o fundamental é que essas divergências sempre são colocadas com muito respeito. Isso posto e parando com a babação de ovo, vamos ao motivo desta postagem. 

Jotabê começou uma postagem - intitulada Sem Título - da seguinte maneira : "Você venceu, preciso admitir. Qualquer que seja o resultado - tão esperado, tão temido, tão celebrado, tão pré-contestado -, você venceu, pois conseguiu dividir 230 milhões de pessoas". Como quem fala ou escreve uma carta a um destinatário que julgo ser Bolsonaro. Fui aos comentários para dizer que não concordava, que essa fragmentação da sociedade, que esse país do Fla Flu, foi planejado e levado a cabo pela esquerda. 

Mas outro chegara antes de mim, um tal de O Andarilho, que escreveu um comentário muito parecido ao que iria escrever : "Quem dividiu, ou melhor, pulverizou a população em "n" segmentos sociais e os antagonizou, preto contra branco, rico contra pobre, mulher contra homem, gay contra hetero, foi a esquerda em seus dois mandatos de FHC e quatro de Lula. É para eles que você diz : Você venceu, preciso admitir ? Bolsonaro só trouxe a repulsa a essa hiperfragmentação, só trouxe o grito daqueles que não aguentam mais bancar essa orgia "social" da escória".

No que Jotabê respondeu-lhe, em meia concordância : "Concordo com você que quem começou esse "fla flu", esse "nós contra eles" foi o Lula. Mas o Bolsonaro amplificou esse sentimento e o temperou com sentimentos de ódio e muito radicalismo, ele piorou o que era ruim".

Comecei, então, a escrever um comentário, que foi se tornando muito grande. Como o próprio Jotabê diz, comentário (ou resposta) grande vira postagem. E virou o que vem a seguir.

Já disse vária vezes : Bolsonaro não é a causa de nada, ele é o efeito. Bolsonaro é um boçal, um borra-botas, não tem capacidade de ser a a causa de nada, e ainda que tivesse, não teve tempo hábil para isso, teve, praticamente, meio mandato, contra quatro do PT. Bolsonaro não é nada. É um objeto que veio a ocupar um espaço livre, um vácuo na política, um anseio de parte da população. Poderia ter sido qualquer outro assemelhado. Por acaso, foi Bolsonaro.

A esquerda, é claro, foi quem hiperfragmentou a sociedade, é uma de suas táticas mais manjadas, concordo com O Andarilho. Sempre houve, óbvio, o contraste entre os diversos segmentos da população. A esquerda estabeleceu o conflito entre eles. E não concordo que Bolsonaro tenha intensificado essa fragmentação, como ele disse ao Andarilho. Repito : ele não tem capacidade, estratégia e nem teve tempo suficiente para isso.

Bolsonaro, concordo de novo com O Andarilho, foi a resposta, foi o grito daqueles que, na divisão feita pela esquerda, foram colocados do lado do "mal". Pretos e brancos? O branco é sempre o opressor, todo branco é racista. O rico e o pobre? Todo rico tem a sua fortuna advinda da exploração do pobre, do sangue do proletário, todo rico é mau patrão. Mulher e homem? O homem é sempre um predador sexual, um potencial estuprador só por ter nascido com um pau entre as pernas, misógino e feminicida. Gay e hétero? Todo hétero é homofóbico, é um serial killer de gazelas. Não foi assim que as coisas ficaram definidas pela esquerda?

Bolsonaro foi a reação - a inescapável terceira lei de Newton - dos que foram demonizados pela esquerda. Uma resposta extrema, ao ver de Jotabê. Tímida, ao meu ver. Bolsonaro foi eleito pelo instinto de sobrevivência dos odiados da esquerda. Autopreservação. Legítima defesa.

Sou homem. Nunca agredi, sequer verbalmente, uma mulher, sequer com uma rosa. Não sou santo, é claro. Tive rusgas com várias mulheres ao longo da vida, sobretudo no meu ambiente profissional, mas nenhuma delas que tivesse relação com o seu gênero; nas vezes em que ocorreu, discordei delas da mesma forma com que discordaria de um homem.

Sou branco. Idem para o negro o que eu disse das mulheres. Sou hétero. Ibidem para os gays o que eu disse das mulheres. Inclusive, sou um cara caseiro e recluso, fora as casas dos meus pais e dos meus sogros, frequento apenas - e muito esporadicamente - mais quatro casas. Dessas, duas são de casais gays, caras casados, "normais", gays que não se valem de um estereótipo que todos dizem rejeitar, mas do qual muitos se valem como meio de vida.

Homem, branco e hétero (só não sou rico). Às vistas canalhas da esquerda, sou a Tríplice Fronteira do Mal. Só que não. 

E se Bolsonaro, no atual e tenebroso momento político, for a única voz que pode clamar isso à Nação, se for a única voz oficial a fazer eco à minha, voto nele, sim. De novo.

Quem é homem, branco, hétero e rico e vota Lula, não bastasse estar dando, novamente, as chaves do cofre ao ladrão, está também a preparar o seu cadafalso.

Fosse só por mim, estaria cagando e andando para os rótulos que possam me impingir, já estou com a vida passada da metade, bem ou mal, encaminhada. Mas tenho um filho de 13 anos. Também homem, branco e, ao que tudo indica por enquanto, hétero. Não quero que ele viva em um país em que essas características, per si, sejam presunção de crime, ou indicadores de mau-caratismo.

A esquerda dividiu. Somos, sim, Jotabê, como bem disse, o país do Fla Flu. Bolsonaro não intensificou a divisão. É um contragolpe a ela.

E acrescentarei mais uma divisão feita por Lula à lista d'O Andarilho, uma que ele parece ter esquecido, ou mesmo não ter se dado conta dela. A cissão mais canalha e imperdoável : trabalhadores x vagabundos profissionais, os sanguessugas sociais, as tênias dos nossos impostos.

Para Lula, o cara que pega diariamente no batente é um privilegiado, um cara que tirou a sorte grande na vida e não um sujeito que, minimamente, estudou, preparou-se, capacitou-se, tem disciplina, cumpre horário e com suas obrigações, uma pessoa que se esforçou para ter um emprego. E o encostado, também para Lula, é um coitadinho, um cara para quem o mundo nunca deu oportunidades, para quem a vida nunca sorriu, e não, no mais das vezes, um preguiçoso.

E tão abençoado e cheio de luz deve se sentir o trabalhador que ele tem, inclusive, que ficar contente de ganhar para pagar imposto de renda - Lula disse algo parecido a isso uma vez.  Tão agradecido aos céus ele deve se sentir que há de ser um prazer ele dividir, através de seus impostos, parte de sua renda com o "desfavorecido".

Divisão de renda no cu do trabalhador é refresco. Divisão de renda pressupõe que os "n" envolvidos na tal partilha gerem e tenham alguma renda. Quando não, quando é só uma parte que entra com a grana, não é divisão, é saque, rapinagem, é confisco, expropriação. 

Nem são mais os filhos dos improdutivos que nossos impostos alimentam (e que nos priva de recebermos, para nós mesmos, os serviços públicos de qualidade que nos são devidos), já são os netos. Quiçá, os bisnetos. Afinal, quem coça o saco o dia todo, acaba por começar a procriar cedo e em série.

Bolsonaro não intensificou a divisão. É uma tentativa desesperada de oposição a ela.

E que, enquanto a esquerda estiver por aqui a nos assombrar, que mais Bolsonaros apareçam, que mais Cavalões nos venham.



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