💊Veja também: Review - Adão Negro (COM SPOILERS)
Se alguém me dissesse que um dia um filme do Adão Negro seria feito, eu provavelmente duvidaria e acredito que até você duvidaria também. Porém, vivemos uma época meio estranha, em que personagens improváveis dos quadrinhos ganham filmes. Portanto, fui assistir nessa semana a Adão Negro, com Dwayne Johnson “The Rock” no papel título.
Devo dizer que o Adão
Negro sempre foi um dos personagens da DC que mais curti. Ele começou como um
dos grandes vilões do Capitão Marvel original (ou Shazam), ao lado do Dr. Silvana.
Adão Negro seria a contraparte relativa à força física para enfrentar a Família
Marvel. Teth-Adam foi o antecessor de Billy Batson como portador dos poderes místicos
concedidos pelo mago Shazam. No entanto, ele se corrompeu e se tornou um vilão,
com objetivos vilânicos como dominar o mundo e governar a humanidade. Como vilão,
Adão Negro tinha o destino de todo vilão, que era ser derrotado todas as vezes
pelo herói, e ele sempre foi derrotado pelo Capitão Marvel e sua família. Era
freguês.
No pós-Crise, na
reformulação que o Capitão Marvel teve pelas mãos do lendário Jerry Ordway,
Adão Negro foi reformulado como Theo Adam, o ex-assistente de C.C e Lyn Batson,
pais de Billy e Mary Batson. Theo é o responsável pelo assassinato de ambos na
história a mando do Dr. Silvana.
Posteriormente, quando Geoff
Johns assumiu os roteiros da Sociedade da Justiça, ele viu a oportunidade de
fazer de Adão Negro um anti-herói, e não somente um vilão. Nessa fase, o
personagem forma uma equipe de dissidentes da equipe, que se unem a outros
vilões e adotam uma forma mais implacável de justiça. Adão Negro também se
torna o regente de Khandaq. Desde então, ele tem oscilado entre o status de
vilão e anti-herói.
E, afinal de contas, o
filme é bom? Hum, creio que não tanto; é até meio “DCpcionante”. Entretanto, depois
de um tempo, minhas expectativas baixaram e o filme até melhorou no meu
conceito. O ponto fraco do longa sem dúvida é o roteiro. Na verdade, é um fiapo
de roteiro que existe em prol da ação. The Rock é um brucutu da nova geração,
então é lógico que o filme iria privilegiar a ação.
No enredo, Thet-Adam é uma lenda do Khandaq, um defensor que recebeu o poder do mago Shazam e acabou com parte da antiga civilização do país, para se vingar do assassinato de seu filho e esposa pelo monarca da época. Na verdade, há uma pegadinha no roteiro, o filho de Teth-Adam é que seria o detentor do poder do mago, mas ele repassa esse poder para seu pai moribundo antes de ser assassinado, e assim Thet-Adam fica sedento de vingança, com todo o seu poder. Considerado indigno, é aprisionado por Shazam e os outros magos.
Na atualidade, Khandaq é
uma nação dominada pela Intergangue, velhos vilões do Superman, que no filme se
tornaram um exército de mercenários que tomou o país. Dessa forma, Khandaq é
categorizada como uma nação terrorista esquecida por Deus e o mundo. É nesse ponto
que tem participação a bela Dra. Adriana Tomaz, interpretada por Sarah Shahi,
que pretende encontrar a tal Coroa de Sabbac (olha aí a indicação do vilão nada
surpresa do filme, outro inimigo clássico do Capitão Marvel original). Quando
acuada pela Intergangue, Adriana acaba convocando Teth-Adam, que é liberto de sua
prisão. Apesar do personagem ser caracterizado como um anti-herói, que não
deseja se envolver em nada nem com ninguém, Teth-Adam por fim toma Adriana e
seu filho Amon, vivido por Bodhi Sabongui, por proteção. Ao fim do filme, ele
de anti-herói passa praticamente a um herói. Não que tenha tido um grande
desenvolvimento de personalidade. The Rock está bem no papel; ele faz um bom cosplay
do Adão Negro, só falta a peruquinha.
Muitos comentários foram
feitos sobre o nível de violência do filme e que a contagem de corpos é alta. Não
cheguei a contar todas as mortes, mas Adão Negra mata todos os soldados da
Intergangue que encontra desde que desperta. Morre bastante gente no longa, mas
não tenho certeza se esse é o filme de super-herói ou da DC que tem mais mortes.
Em retrospecto, podemos ter como base de comparação o Batman de 1989 de
Tim Burton, em que o Cavaleiro das Trevas também mata muita gente. Só naquela
cena em que Batman destrói a fábrica química ele deve ter matado mais de vinte
capangas do Coringa. No entanto, se compararmos com os filmes de super-heróis
modernos, há sim muitas mortes em Adão Negro, mas menos que as dos
filmes de brucutu dos anos 80, tipo um Rambo da vida. Como o exército da Intergangue
é só de bandidos, Adão Negro pode matá-los à vontade. Seria complicado para a
narrativa se ele enfrentasse o exército dos EUA ou da Otan; provavelmente, o
personagem não angaria a simpatia do público. De destaque no filme, há uma cena
de ação do Adão Negro com os soldados da Intergangue que faz intertextualidade
direta com um faroeste de Sergio Leone com Clint Eastwood.
Importante dizer que esse
filme faz parte do DCEU, o universo cinematográfico da DC, que há um bom tempo
não anda muito bem das pernas. Dessa forma, Amanda Waller, interpretada por
Viola Davis, manda a Sociedade da Justiça, liderada pelo Gavião Negro, atrás do
Adão Negro para derrotá-lo e capturá-lo. O interessante aí é que a Sociedade da
Justiça da América não é o clube ou grêmio de super-heróis que é nas HQs, em
que os heróis veteranos da DC se destacam. A Sociedade da Justiça no filme é
uma equipe sobretudo tática.
Carter Hall, o Gavião
Negro, interpretado por Aldis Hodge, está bem diferente da versão dos quadrinhos,
e não é só quanto à etnia. Ele se tornou um bilionário a lá Bruce Wayne que
recebe ordens de Amanda Waller e que é o líder tático da Sociedade da Justiça.
Fora isso, tem um jato que é descaradamente copiado do Pássaro Negro, o jato
dos X-Men. A mudança de etnia me incomodou um pouco, confesso, pois estou
acostumado com a identidade visual do herói como sendo um cara branco, mas isso
não faz a menor diferença no tocante à narrativa, e vamos combinar que o Gavião
Negro é um herói desconhecido do grande público; só os leitores de HQs sabem
quem ele é. Não sei dizer nos EUA, mas por aqui o Gavião Negro é conhecido
basicamente só por quem lê quadrinhos, a common people não sabe quem ele
é. Shiera Hall, a Mulher-Gavião, é bem mais conhecida que o Gavião Negro por
causa do desenho da Liga da Justiça; Carter Hall, creio que só aparece em um
episódio daquele desenho.
O engraçado é que Gavião
Negro é o nome escolhido pela tradução brasileira; o nome original do
personagem é Hawkman, a tradução literal seria Homem-Gavião ou Homem-Falcão, e
me pergunto porque traduziram o personagem como Gavião Negro, visto que esse
nome, apesar de muito legal, não faz muito sentido. O personagem nem mesmo veste
negro, com exceção talvez da fase de Timothy Truman, em que ele vestia uma
farda de policial thanagariano. No entanto, agora a tradução brasileira faz
certo sentido, pois no filme o Gavião Negro é um cara negro. E esse negócio de
tradução é curioso porque os nomes eram meio aleatórios, mas até hoje eu chamo
o Caçador de Marte de Ajax, o primeiro Flash Jay Garrick, de Joel Ciclone e o Speedy,
o sidekick do Arqueiro Verde, de Ricardito. Outra coisa que ficou
incoerente é que o Gavião Negro confronta e condena o Adão Negro por ele matar gente,
mas nos quadrinhos o herói não hesita em matar quando necessário. O Gavião
Negro é praticamente o Wolverine da Sociedade da Justiça e não respeita muito a
regra de seus colegas de não matar os vilões. Sem contar que também é o “fascista”
da equipe.
Merece destaque Pierce
Brosnan, o famoso ex-James Bond, como Kent Nelson, o Senhor Destino. Brosnan
tem a melhor atuação do filme e o Senhor Destino é o melhor personagem do
filme, a meu ver, de longe. Ele está bem em todas as cenas interpretando uma
versão já veterana do herói, que seria correspondente ao Doutor Estranho da
Marvel. Completam a equipe o Esmaga-Átomo, vivido pelo galãzinho Noah Centineo,
e a Ciclone, cujo papel é feito por Quintessa Swindell. Sinceramente, não fazia
ideia de quem são esses atores, que na verdade são atores teens e servem
mais como alívio cômico. Não vá assistir a Adão Negro esperando que o
filme seja sério; o tom é sim mais sóbrio, mas ele tem muita piadinha, quase no
nível de um filme da Marvel.
Outro ponto que merece ser elogiado no filme é a CGI, que é de fato muito boa, principalmente no terceiro e último ato, quando o vilão final aparece. Aliás, os grandes destaques do filme são sim a CGI e a ação. Povo está reclamando que o roteiro é ruim e que só tem ação, mas é um filme do The Rock. Quer ver filme com roteiro bom, vá assistir a um filme de Scorsese. E, apesar do gênero de filmes de super-herói ter tido uma “evolução” nos últimos anos, a maioria dos filmes desse gênero tem roteiros de medianos a medíocres até hoje. O diretor do longa é Jaume Collet-Serra, que é mais conhecido por ter feito filmes de terror, como A Casa de Cera, que é uma grande bosta, e A Órfã, que é até bacana. Também dirigiu Sem Escalas com Liam Neeson e Jungle Cruise com o próprio The Rock. Ele mandou bem como diretor de ação em Adão Negro, a meu ver. Também vale destacar a música Paint It, Black dos Rolling Stones, que ficou bem inserida no longa, incidentalmente.
Por fim, vale dizer que The Rock trouxe o brucutu ao DCEU. Na verdade, ele não é o primeiro brucutu do DCEU, Jason Momoa já fez isso antes com Aquaman e John Cena também, com o Pacificador. Engraçado que dizem que o cinema brucutu morreu, mas na realidade ele não morreu, só foi diluído em outros gêneros, inclusive no de super-herói. Agora é bem verdade que os tempos são outros, se fala muito de “masculidade tóxica” e outras baboseiras do tipo hoje em dia. Então, ter um cara fortão com testosterona alta matando todo mundo precisa ter um contexto hoje em dia. Enfim, para um vilão do Capitão Marvel original, Adão Negro até que foi longe. Ah, sim, também merece destaque a cena pós-crédito, que traz a volta de um grande herói da DC, que a maioria queria ver de novo. Porém, não sei dizer se essa cena é só fanservice ou se vai render alguma coisa para o futuro. Nota 7 de 10.
0 Comentários