Doença de Peyronie (Ou : Pau que Nasce Torto Nunca se Endireita)

 

Se você é um velho, ou, no mínimo, feito eu, um "envelhescente", se ultrapassou a casa dos cinquenta e galga o gólgota rumo aos sessenta, setenta etc, já deve ter ouvido muito falar e/ou mesmo está a padecer de artrite, artrose, reumatismo, bico de papagaio, incontinência urinária, hipertensão, diabetes tipo II, catarata, presbiopia e outras panes do sistema.

E da Doença de Peyronie? Você já ouviu falar, caro ancião? Vamos lá, então...

Há cerca de mês e meio, dois meses, numa bela madrugada, sem suspeitar de nada, acordei para mijar. Bexigona velha locupleta de cerveja e uma vigorosa paudurescência de mijo. Daquelas que dá gosto de se ver. Daquelas de serem imortalizadas em óleo sobre tela, eternizadas em um retrato de Dorian Gray. Daquelas de causar até edema. De deixar o pau latejante, lustroso e luzidio. Uma beleza.

No entanto, assim que o livrei da cueca para ir-me à função da micção, o susto : a chapeleta estava torta! Virada para cima! Bem na junção cabeça-corpo da benga.

Julgando estar ainda semisonâmbulo e a imaginar coisas (na verdade, contava com isso), fechei os olhos e os esfreguei, afugentei deles os restos de sono, espanei os últimos grãos da areia de Morpheus.

Não adiantou. A cabeçorra torta continuava lá. Uma acentuada curvatura para cima. O olho da cobra-ciclope a me encarar.

Meu pau nunca foi grande coisa, é verdade. Cacete básico, modelo padrão, standard, só com itens de série, sem nenhum opcional de fábrica. Pau que se manteve sempre pouca coisa acima da linha da miséria. Não obstante, pinto que, dentro de seus limites, sempre fora reto, bucetodinâmico e bem proporcionado, até então. Que nunca ganhou um Oscar de atuação, mas que teve algumas indicações pelo conjunto da obra. E agora, e ainda por cima, torto? Não bastava o juízo torto, agora também o pau?

Sentei-me no privadão, esperei a paudurescência arrefecer - inerte, ele não demonstrava nenhum sinal de tortuosidade -, mijei e voltei ao sono. De repente, isso se conserta logo, amanhã ou depois, do mesmo jeito que surgiu, a curvatura vai embora.

O caralho! Nas paudurescências subsequentes, fossem de mijo, fossem pelo hastear da bandeira durante os eventos cívicos-matrimoniais, a curvatura continuava lá; parecendo que sua angulação estava até a aumentar, paulatinamente.

Marquei uma consulta com o urologista de costume. Urologista das antigas. Antipetista juramentado. Em 10 minutos de consulta, examina e diagnostica; e passa mais meia hora descendo a lenha no PT e no Sapo Barbudo. Nunca atende na hora marcada, atrasa pra caralho, mas a tunda que ele dá no Lula, sempre acompanhada de uma análise histórica, vale a espera.

Marquei uma consulta no urologista. Chegara, ainda que por caminhos tortos, a hora da minha vingança! Eu teria, enfim, a minha desforra! Depois de tanto enfiar o dedo no meu toba, ele teria que dar uma apalpada na minha rola! Chegara o dia da caça.

Cheguei na hora marcada, li umas três revistas Veja enquanto esperava e, depois de uns quatro propagandistas, fui atendido. Relatei o melhor que pude o infortúnio que até ali havia me conduzido. Com o diagnóstico sempre na ponta da língua, disse-me que, pelo descrito, provavelmente, eu esteja com a Doença de Peyronie. Mal há muito conhecido pela medicina, descrito e estudado desde o século XVIII, pelo cirurgião francês François Gigot de la Peyronie. Tinha de ser francês. Se tem um povo que entende de rola, esse povo é o francês. Um médico bielorrusso ou moldávio é que não haveria de ter descrito uma anormalidade na rola.

Consiste na calcificação de uma região do tecido conjuntivo da túnica peniana, o famoso corpo do caralho. Um endurecimento (no mau sentido) de uma porção do corpo cavernoso, que leva à instalação de placas fibrosas na região afetada, suprimindo-lhe a elasticidade e a capacidade de se alongar quando irrigada.

Assim, quando o sangue aflui para o pau, todo o corpo se expande, menos a área com a calcificação, que fica ali travada, emperrando o andar da carruagem; e é nesse ponto inelástico que a benga entorta, que a verga enverga. O bicho sobe, mas sobe meio troncho.

Perguntei o que poderia ter causado aquilo. Respondeu-me que as causas são indefinidas, que Peyronie é uma doença autoimune. Não se pega de ninguém nem é provocada ou estimulada por algum mau hábito ou fator externo. Disse ainda que ela acomete um em cada quatrocentos machos das antigas na faixa dos 40 aos 60 anos.

Pããããããããta que o pariu!!!!

Peyronie acomete 0,25% dos homens, ou seja, eu tinha uma chance de 99,75% de nunca ficar com o pau torto. E fiquei! Vai ser azarão assim na puta que o pariu!

Tem conserto?, perguntei. Uma superdosagem de longo prazo de vitamina E. Oitocentos miligramas diários, divididos em duas doses de quatrocentos a cada doze horas. A vitamina E impede que a curvatura mais se intensifique e, em 50% dos casos, pode até reverter o quadro, pode até desempenar o pau.

Analisemos friamente os números : eu tinha 99,75% de chance de não desenvolver Peyronie, e caí no grupo dos 0,25% que a desenvolvem. Com 50% de chances da vitamina E desentortar meu pau e 50% de não, vocês acham que eu cairei em qual grupo?

E caso não reverta?, insisti. Há cirurgia para isso, um procedimento relativamente simples (é no relativamente que eu sempre me fodo), mas recomendou que eu começasse com a medicação e não pensasse nisso por ora. É como diz o velho ditado : Peyronie no pau dos outros é refresco.

Preencheu, ainda, uma guia de encaminhamento para que eu faça um ultrassom peniano, para a confirmação cabal de seu diagnóstico. Também que, no retorno, já de posse do resultado do ultrassom, eu leve, pelo menos, duas do meu pau ereto e torto para ele analisar. Uma tirada de cima, uma vista aérea da rola, e a outra com visão lateral do mangalho. Pega o celular e tira duas fotos, ele disse.

Grandessíssimo filho da puta! Com esse ardil das fotos, safou-se de ter que pegar no meu pau! Na hora de meter o dedo no meu cu, ele não pede foto, né? Pois na próxima consulta de rotina, irei preparado e precavido, lutarei com as armas dele : na hora do exame de toque, sacarei um celular do bolso e direi : abaixar as calças e deitar de ladinho porra nenhuma, mete o dedo aqui, na tela do celular!

Vejam só os vexames e as humilhações que a vida nos reserva para a velhice : pau torto, tirar selfies da benga e enviar nudes pro urologista e fazer raio-X da piroca!

E eu nem tenho celular! Vou ter que pedir emprestado o da esposa. Ou o tablet dela, que tem um zoom melhor.

Enquanto isso, enquanto espero pelo ultrassom e pelo resultado a longo prazo da vitamina E, e já mais tranquilizado quanto à minha condição, pretendo aprender e tirar proveito da situação. Tentarei explorar os novos alcances e habilidades de prospecção e sondagem do meu pau torto, da minha rola pescoço de cisne. Quem sabe, agora com esse meu pau-periscópio, eu não encontre, finalmente, o mítico e lendário ponto G?

Se eu encontrar, paro com o tratamento na hora! E viro marido de aluguel! Vou ficar rico!

Pãããããããta que o pariu!!!

em tempo : e que não se animem nem se encharquem, antecipada e inutilmente, o mulherio que lê o Marreta e o ex-boiola : não postarei aqui a foto da minha rola torta!



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