O conceito expresso no título dessa matéria infelizmente é o conceito que permeia grande parte da cultura das pessoas e infelizmente é fomentado pela própria indústria e pelos fãs, que parece que, quanto mais infantil a história, mais ficam satisfeitos. Mas será que super-heróis são mesmo mera diversão inocente, escapista? Ou são um conceito filosofal, adulto, que remete à uma das necessidades mais primitivas da psiquê humana?
Eu sou Deustino, novo autor do blog e fico feliz em compartilhar essa viagem com vocês!
Para definirmos o conceito de super-herói, vamos voltar no tempo e descobrir quem foi o primeiro super-herói a ser criado. "Ah, Deustino, essa é fácil: foi o Super-Homem!", talvez você pense. E, na verdade, essa é uma crença comum. Outro sabichão talvez conteste, dizendo: "Ignorantes, o primeiro super-herói foi o Fantsama, criado anos antes do filho de Krypton". Mas o fato é que o primeiro super-herói é muito mais antigo que estes dois e sequer foi criado pelos quadrinhos. Os primeiros super-heróis foram criados milênios atrás, no continente asiático, mais especificamente na região da Mesopotâmia. Os primeiros heróis eram um grupo chamado Anunáqui (lit:. "Aqueles que no céu viveram").
A essa altura, suponho que você já imagine que eu esteja me referindo à mitologia babilônica, a primeira da qual se tem registro. Foi na Mesopotâmia, nos primórdios da humanidade, que a ideia de seres superiores, com habilidades e funções especiais e que estão aqui para nos proteger e travar uma guerra entre o bem e mal surgiu. E, de lá, suas ideias se espalharam pela Terra, através de várias mitologias. Apesar de uma roupagem diferente, todas as mitologias são - a grosso modo - a mesma, com a mesma história geral e personagens - mudando apenas os nomes e adaptando certos aspectos à cultura local.
Alguns destaques que as mitologias partilham são:
- - A ideia de um cosmo vasto e cheio de seres poderosos
- - Deuses poderosos, que pretendem pôr um fim à maldade e salvar a Terra
- - Semideuses que têm forma humana mas habilidades aprimoradas, venerados e amados pela população.
- - Um ou mais deuses rivais, maléficos, que são protetores da morte, do inferno, do Hades, da maldade, da guerra
- - Uma esperança messiânica e o arquétipo máximo da bondade
Por que isso se deu? Pois bem, cabe aqui uma citação a um certo pensador famoso, Ferreira Gullar, que nos diz:
"Devo, no entanto, admitir que o ser humano tem necessidade de atribuir sentido à sua existência.Ao que eu saiba, gato, cachorro, cavalo, macaco, não têm necessidade disso. Começa que, ao contrário do bicho-homem, não sabem que vão morrer. E aí está todo o problema: se vamos morrer, para que existimos?, perguntamos nós, sejamos filósofos ou não. Aliás, é por essa razão que surgem os filósofos, para responder a essa pergunta de difícil resposta.Em busca de soluções, o homem inventou Deus, que é a resposta às perguntas sem resposta. Por isso mesmo, e não por acaso, todas as civilizações criaram religiões, diferentes modos de inventar Deus e de dar sentido à vida."*
Pois bem, como bem ilustrado por Gullar, com o tempo, as pessoas deixaram de acreditar em mitologias. Ou se tornaram ateias ou se tornaram membros das religiões dominantes do mundo - das quais poucas são politeístas. Mas a necessidade de seres superiores para nos protegerem ou nos darem alento frente à crueldade do mundo não acabou.
Super heróis, um conceito filosofal
Como vimos até aqui, os super-heróis são basicamente a evolução da mitologia para os hodiernos tempos do ceticismo. Não cremos mais em histórias fantásticas de super seres, mas nossa mente precisa deles. Isso nos leva ao questionamento: por que motivo os humanos precisam de pensar em seres fantásticos protetores, no bem e no mal, no Messias, na vida e na morte? Sinceramente, não pretendo discutir isso aqui. Essa é a função da Academia. A mitologia ainda existe e a intolerância que com ela vem de brinde também permanece. Assim como os gregos queriam helenizar o mundo de seus dias, com sua religião e cultura, temos fieis adeptos de suas "religiões" heroicas, supostamente mascaradas na forma de editoras de quadrinhos e defendem seus supers, se inspiram neles e os veneram - tal como fariam fanáticos religiosos.
Em suma, temos aqui uma oportunidade de explorar em primeira mão a mente humana, sua fragilidade e responder a algo intrigante: por que a história é sempre a mesma? Seria um consciente coletivo? Haveria alguma razão maior para isso?
Naturalmente, uma criança não é capaz de pensar em coisas tão profundas - as quais eu apenas arranhei a superfície neste humilde texto - e encaram (erroneamente) que super heróis são apenas filmes ou HQs criados para nos divertir. Mas não. Como vimos, são a evolução do mito, são o reflexo da nossa necessidade messiânica e, em última instância, reflexo de nossa cultura sociopolítica, visto que o mito está em constante evolução, se adaptando aos tempos - gerando assim levas de fieis seguidores ortodoxos em contraste com seguidores liberais, progressistas
Confesso que é atemorizante e nojento ver os heróis como deuses - uma vez que sou um monoteísta convicto. Por outro lado, vejo também o quão desrespeitoso é a própria indústria tratar um assunto tão sério - que deveria ser estudado em escolas e faculdades - como mera diversão ou assunto infantil. Cada fantasia, cada história e cada super poder remete de alguma forma à nossa própria História, pensamentos, relações, desejos e crenças e quando vejo os próprios filmes e HQs - e seus adeptos - não levando isso a sério e criticando severamente diretores e escritores que tentam fazer os heróis tornarem às suas origens filosofais, religiosas e psicológicas, confesso que me pergunto que rumo a humanidade está tomando.
Pois bem, me delonguei demasiadamente para um primeiro texto. Se tudo isso ainda não lhe convenceu, deixo algumas imagens que mostram que o público alvo dos heróis não é o infantil - e nem são histórias bobas e inocentes- e que, com isso, os filmes não deveriam ser destinados a tais.
Deixo também as minhas saudações e agradecimentos por lerem este humilde, porém pretencioso, texto até o seu fim.
Tentativa de suicídio oriunda de uma HQ maisntream dos X-Men |
Venom cometendo canibalismo numa HQ que era carro-chefe da Marvel na época |
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