O ano era 1978, como criança na época, adorava qualquer coisa relacionada a super-heróis, quando digo qualquer coisa, era isso mesmo: desenhos, séries, gibis, apesar de estar começando a ler naqueles tempos, e entre várias coisas que as indústrias poderiam empurrar para crianças ávidas por material que estampasse seus coloridos heróis e significassem o gasto de um dinheiro suado dos seus pais, para desespero deles. Desde cedo fascinado pelo mundo heroico do Homem-Aranha, Hulk, Batman, Aquaman e afins nada poderia ter me preparado para o absoluto assombro de ir ao cinema e assistir ao que, até hoje para mim, é a melhor e mais fiel produção do cinema sobre um super-herói: Superman – O Filme.
Mesmo mais de 40 anos depois, o brilho e a sua importância não diminuíram com o passar dos anos, sendo considerado um marco e um divisor de águas nas produções de filmes de heróis, sua influência ainda é sentida, um exemplo é a arte de Gary Frank quando ele desenha o Superman, sempre retrata a aparência de Christopher Reeve como base para o semblante do personagem, ele que foi selecionado dentre mais de 200 atores para interpretar o Homem de Aço no cinema é considerado o melhor Superman do cinema pela maioria dos fãs, incluindo eu, óbvio. O personagem completou 80 anos de criação, oito décadas de uma evolução constante que passou tanto por momentos marcantes como constrangedores também, um evento como esse merecia grandes homenagens e, infelizmente, a Panini meio que deixou passar batido com a simplória publicação de Action Comics Especial dos 80 anos de Superman.
Digo simplória porque a revista, apesar das boas histórias que ela trás, fica por isso mesmo: apenas histórias e reproduções de capas comemorativas na versão mais simples da original estadunidense, nem mesmo um texto editorial sobre a importância do Homem de Aço para o mundo das HQs ou um pôster comemorativo como fizeram em Os Novos 52, afinal se hoje temos um vasto universo com heróis fantásticos de sobra, pode ter certeza de que o big bang dessa realidade se deu justamente com o lançamento de Action Comics # 1 em 1938, atingido a notória e invejável marca de 1000 edições publicadas tendo sempre o Superman como protagonista, seu companheiro de editora, Batman, também atingirá essa marca em maio de 2019 com direito a homenagem semelhante na sua revista original: Detective Comics.
A publicação abre com a reprodução costumeira de Action Comics # 1 com a primeira história do Superman mostrando sua origem bem resumida como sendo um alienígena vindo ainda criança de um mundo moribundo para adquirir superforça e poderes milagrosos na atmosfera do planeta Terra e passar a lutar pela justiça, liberdade e modo de vida americano. Curioso perceber que o visual do personagem mudou enormemente desde aquela época, porém seu rosto mantém os traços característicos até os dias atuais, pena que seus criadores, Jerry Siegel e Joe Shuster, não imaginaram o sucesso que ele teria e o venderam baratíssimo para a editora sem se preocuparem em resguardar direitos de publicação, acredito que devido a serem muito jovens e inexperientes em lidar com lobos de gravata os levou a essa decisão infeliz, situação essa que suas famílias correram atrás de corrigir nos tribunais e conseguiram, em 1976, o direito de passarem a ser creditados e a receber por licenciamento de publicação do personagem.
Voltando ao especial da Panini, apesar do tratamento especial dado a publicação, ficou faltando, como disse antes, um texto introdutório não para apresentar o personagem, o que não é tão necessário, só que uma reflexão sobre sua importância cultural e relevância para o mundo dos HQs, cinema e afins cairia muito bem para ilustrar que uma marca de 80 anos de publicação praticamente ininterrupta, atingindo 1000 edições, não é algo que se deva deixar passar em branco, veja bem: dezenas de heróis que conhecemos já passaram da marca de 50, 60 e quase 70 anos de criação como Flash, Aquaman, Lanterna Verde e Arqueiro Verde, o que os diferencia do Superman é que passaram por momentos de limbo, ficando como coadjuvantes especiais em revistas como Liga da Justiça e quase indo para o esquecimento, quando o Homem de Aço passou por situação semelhante?
A primeira história após Action Comics # 1 mostra um dia de homenagem ao Superman feito pela cidade de Metrópolis escrita por Dan Jurgens, um dos mais conhecidos roteiristas do personagem e um dos responsáveis pela clássica “Morte do Superman”, onde vemos o herói mais preocupado com um perigo iminente do que em ser homenageado pela família, amigos e conhecidos e também por pessoas que tiveram suas vidas transformadas pela sua passagem. Logo depois seguem uma série de contos curtos escritos e desenhados por diversos autores retratando situações diversas como um dia na vida do Superman tendo que enfrentar Vandal Savage no dia do seu aniversário, uma situação de estresse com reféns em Metrópolis sem a sua participação direta mostrando que, apesar dos seus poderes, não tem como estar em todos os lugares ao mesmo tempo e a sua fé de que a humanidade consegue caminhar sem ter que contar com sua presença a todo instante.
Uma história interessante sobre o dono do carro que ele levanta e destrói na capa de Action Comics # 1 e como sua vida mudou depois, um breve encontro com Lex Luthor relembrando uma passagem de suas infâncias em Smallville, uma visita do Superman ao planeta Terra milênios depois que a humanidade o deixou antes do nosso Sol entrar em supernova, um momento na correria do trabalho de Clark Kent como repórter enquanto tenta solucionar crises como Superman ao mesmo tempo, um conto sobre como ele é importante até para um vilão como o Sr. Mxyzptlkter sentido em sua existência e um intitulado “Mais Rápido do que Uma Bala”, uma bela homenagem a Christopher Reeve e o melhor da edição, a minha opinião.
Encerrando tem uma prévia da estreia de Brian Michael Bendis no título do Homem de Aço com a arte de Jim Lee eparte das capas comemorativas das 1000 edições desenhadas por grandes mestres como John Romita Jr, Neal Adams, Curt Swan, Jock, Patrick Gleason, George Pérez, Kaare Andrews, Dave Gibbons entre muitos mais. Os roteiros também foram assinados por feras como Dan Jurgens, MarvWolfman, GeoffJohns, Tom King, Louise Simonson e Brad Meltzer. Uma ausência sentida foi a de John Byrne nesse especial, com certeza foi pelo fato da sua saída não ter sido das melhores da DC, responsável pela grande revitalização do personagem na época pós-Crise nas Infinitas Terras o autor e desenhista é conhecido pelo gênio difícil e o temperamento meio “egoísta”, que foi um dos principais motivos do fim de sua parceria com Chris Claremont nos tempos dos X-Men na Marvel, certamente isso o deixou de fora dessa comemoração.
Nesse especial ficou a sensação de que o aniversário de 80 anos é mais um dos eventos que acontecem durante o ano, como uma saga ou uma edição especial aleatória comemorando mais um aniversário de criação. O medalhão da editora e o maior herói das HQs merecia um tratamento melhor nas nossas terras brasileiras em homenagem a uma contribuição enorme para o mundo das artes, do cinema e dos quadrinhos, com uma influência que vai superar um século em pouco tempo com tranquilidade, influenciando sempre uma nova geração de artistas e sonhadores.
Para o alto e avante.
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