“Quando o consagrado editor Julius Schwartz convocou o roteirista Dennis O’Neil e o desenhista Neal Adams para revitalizar o título do Lanterna Verde, a revista passou a apresentar – além da cada vez mais espetacular arte de Adams – conteúdos muito mais próximos das questões sociais prementes que permeavam a época. Tal abordagem, somada à presença do rebelde Arqueiro Verde fazendo contraponto à atitude mais “ordeira” de Hal Jordan, catapultou as histórias a seu atual status… de lenda absoluta! A coleção Lendas do Universo DC: Lanterna Verde/Arqueiro Verde traz de volta, na íntegra, uma fase que não só influencia as HQs até hoje, como permanece uma leitura espetacular!”
Esse resumo não poderia ser mais honesto, a coleção Lendas do Universo DC trás para os fãs um dos materiais mais emblemáticos dos anos 70 em uma leitura que, apesar de ter temas muito datados para os dias de hoje, não perderam o seu valor e são relevantes até os dias de hoje como o racismo e o interesse financeiro acima das necessidades humanas.
Como acontece com quase todos os grandes heróis das editoras, chegam momentos que seus títulos precisam passar por uma renovação para continuar agradando aos leitores e trazer novos fãs, nesse caso o lendário editor Julius Schwartz acertou em cheio na química de unir dois heróis “verdes” para levar assuntos mais maduros para o mundo das HQs. Lanterna Verde já era um personagem consagrado da DC e o Arqueiro Verde já era um dos grandes da editora e o mundo passava por momentos de rebeldia e questionamento, então unir aquele que representa a manutenção da ordem e o que age em prol dos fracos e injustiçados contra os males mais comuns do homem como a ganância e a segregação racial pareceu um golpe de mestre, e foi.
Para quem não teve a oportunidade de ler esse material, é a chance de correr atrás e ter na biblioteca esse material único e premiado, quem ler entenderá. Nesse primeiro volume temos as histórias que deram início a essa jornada pela América que a América queria ignorar.
Começando pelo embate entre o Lanterna ao defender um homem de agressão e o Arqueiro defendendo os agressores já que o homem em questão era um inescrupuloso proprietário de imóveis que ia despejar os pobres inquilinos para desocupar a área, o Lanterna cai em si, percebendo que protegeu demais o espaço se esquecendo das necessidades dos seus irmãos terrestres, porém os Guardiões não aprovam a iniciativa e o repreendem severamente até o Arqueiro argumentar que os insensíveis imortais não tem noção do que seriam os sentimentos como compreensão e compaixão pelo sofrimento alheio, tipo “Deuses, desçam aqui e sofram com a gente!”. Curiosos como são, designam um deles para viajar com os heróis e aprender mais sobre o que é ser humano, assim a viagem começa recheada de questionamentos e discussões entre dois amigos de interesses comuns e visões um pouco diferentes de como lutar pela justiça.
Viajando pelo interior do país se deparam com mais desafios representados por homens oprimindo cidades inteiras apenas para lucrar e enriquecer usando de meios escravos com mão de ferro, fanáticos religiosos e comunidades indígenas humilhadas pelo avanço da sociedade branca. Cabe aqui uma comparação interessante: Como se sabe os indígenas americanos são um dos povos mais antigos dos Estados Unidos e foram aos poucos destituídos das suas terras, origens e costumes pelos novos senhores brancos, colonizadores que “desbravaram” as terras antigas para estender seu domínio no novo mundo sem se importar com o valor deles para a história, processo semelhante ocorreu no nosso país com os índios perdendo tudo que tinham para serem dominados pelos europeus. Aqui está uma das maiores e agressivas críticas ao modo americano dessas histórias de Lanterna Verde e Arqueiro Verde, o respeito que esse povo merece foi apagado pela ganância do homem branco.
Fechando o primeiro volume temos o Guardião sendo julgado por salvar a vida do Lanterna ao invés de impedir um desastre ambiental em um rio, pois ele colocou a vida de um amigo acima do interesse maior da sobrevivência de um ecossistema já muito prejudicado pela liberação ilegal de lixo industrial. Falar mais seria entregar muitos detalhes desse material que vale muito a pena ser conferido, leitura mais do que recomendada, tanto pelos argumentos do sensacional Dennis O´Neil considerado como um dos precursores dos quadrinhos adultos, aqui dá para entender o porquê, e o desenhista Neal Adams que dispensa apresentações, basta conferir suas passagens por títulos como Batman, Vingadores e X-Men. Aliás a dupla é responsável por encerrar a fase colorida do Homem-Morcego nas HQs, resgatando a aura mais sombria e violenta do personagem.
No próximo volume dessa coleção, mais material clássico como a controversa história em que o Arqueiro descobre que o Ricardito passa problemas com vício em drogas. Imperdível.
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