Última leitura. Escrita
por Tom King, a saga Heróis em Crise foi vendida como se fosse a grande
história que mudaria tudo na DC, tendo muita pretensão em seu objetivo. E o que
temos nesse primeiro número é só pretensão mesmo. Basicamente, não acontece
nada. Ou nada de muito relevante, digamos assim.
A premissa da HQ é que
existe um local criado pelo Superman chamado Santuário (aparentemente
localizado no Kansas), que é tipo um “spa” de heróis. Quando um herói está
estressado ou ferido, pode se recuperar nesse Santuário. A questão é que parece
que só heróis buchas costumam se hospedar lá, a exemplo dos heróis que são
mortos logo nessa primeira história, como o Gaio, o Hot Spot, ou o Gládio (vale
lembrar que não é a primeira vez que o Gládio morre; ele já foi morto pelo
Amazo na época da Liga da Justiça de Detroit, que era liderada pelo Aquaman, se
bem me lembro).
Está certo que não é só
herói bucha que é assassinado; Wally West e Arsenal aparentemente também foram
mortos nessa história. Ok, o Arsenal ainda pode ser enquadrado nos buchas, mas
com certeza Wally, não. Afinal de contas, por muito tempo, ele foi o Flash
pós-Crise nas Infinitas Terras.
Mas qual a história de
Heróis em Crise? Em suma, pelo menos no fio de enredo que é apresentado, muitos
heróis que estavam hospedados nesse Santuário foram assassinados, e a suspeita
é a Arlequina, que também era um dos internos lá. Mas ela não é vilã ou
anti-heroína? Em tese, sim, mas, infelizmente, graças ao momento atual da DC,
Arlequina praticamente se tornou uma heroína nos últimos tempos. Na verdade, a
personagem bem representa esses tempos pouco consistentes em que vivemos; não
apenas nos quadrinhos, mas também nas mídias em geral. Uma personagem bucha que
foi alçada a ícone, graças ao potencial comercial que a personagem possui perante as adolescentes com carência nerd. Eu sou de uma geração em que as
meninas cabeças de vento curtiam Rebeldes. Hoje em dia, gostam da Arlequina.
Não que uma coisa seja impeditiva da outra. Inclusive, não me surpreenderia se
uma adolescente de hoje em dia fosse fã tanto de Rebeldes quanto da Arlequina.
Só não engravidem, viu, meninas?
Vale dizer que a
Arlequina é quase a personagem principal dessa primeira história de Heróis em
Crise, e ela tem um confronto com um herói bucha da DC, mas que todos amam, o
Gladiador Dourado. Lembrando que, apesar de o Gladiador ter ficado popular como
membro da Liga da Justiça de Keith Giffen, ele foi o primeiro herói da DC a ser
criado no pós-Crise, pelo Dan Jurgens. Então, faz certo sentido o primeiro
herói de uma era enfrentar a personagem símbolo do consumo adolescente de nossa
era. Consumo pirata, diga-se de passagem. Duvido que as dezenas de camisetas da
Arlequina que vejo as meninas que circulam na rodoviária da minha cidade
(Brasília) usarem sejam oficiais de marca. Batman, Superman e Mulher-Maravilha,
a Trindade, também estão nessa primeira história. Mas não fazem nada; são uns inúteis.
Minto, o Superman é o único que faz alguma coisa: chora enquanto segura a mão
do Hot Spot moribundo. Hot Spot que parece ser o herói dos rappers. Será que
ele é um herói da Milestone, o selo subsidiário da DC que só tinha heróis
negros? Vai saber.
Mas, enfim, qual é o
grande elefante branco de Heróis em Crise? É a óbvia comparação com Crise de
Identidade. A saga da DC da década anterior que antecedeu Crise Infinita. Também
tem a premissa de ser uma história de detetive com os heróis da DC. Mas há um porém:
Crise de Identidade é uma ótima história, escrita pelo Brad Meltzer. Está certo
que particularmente não gosto muito do final, da Jean Loring ser a assassina da
história porque estava carente e queria voltar para Ray Palmer, o Eléktron
(spoilers!), mas a trama de Crise de Identidade é muito bem escrita, ao
contrário da de Heróis em Crise. Ah, mas não dá para comparar uma saga com a
outra apenas pelo primeiro número, vocês me dirão, e eu terei de concordar.
Realmente, não dá para dizer se uma saga é boa ou ruim apenas pelo primeiro
número. Mas, comparando o primeiro número de Crise de Identidade com o primeiro
de Heróis em Crise, dá para dizer que a primeira ganha de lavada.
Na verdade,
infelizmente, acho que tomei um certo ranço do Tom King. Acho a fase do Batman
dele muito pretensiosa, e Heróis em Crise vai pelo mesmo caminho. Apesar de que
Tom King também escreveu histórias inegavelmente excelentes, como as fases dele
no Visão e no Sr. Milagre. Ou sua série da Vertigo, O Xerife da Babilônia, que
é ótima também. Não dá para dizer que Tom King é um escritor ruim, e, até mesmo
nas histórias que escreve do Batman, ele tem seus momentos.
Quanto ao desenhista
Clay Mann, confesso que o desconhecia, mas ele tem uma arte ótima, detalhista e
elegante, e que casa muito bem com a colorização via computador. O desenho dele
lembra um pouco o de Tony Daniel, que desenhou Batman anos atrás.
Mas, sei lá, confesso
que ando bem azedo ultimamente, e isso pode ter se refletido na minha leitura
de Heróis em Crise. Pode ser que a história melhore, mas sempre vai ficar a
sensação de que já li coisa melhor. E na verdade li mesmo. Quem é leitor veterano
provavelmente concordará comigo. Nota 6,5 de 10.
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