Saio sem fazer barulho, como se fosse para não acordá-la… Contente por ter lhe dado alguma paz. Lá fora, a vida no Inferno continua. Só que, agora, o material isolante foi arrancado e o vento faminto da mortalidade arranha os ossos de todos. E eu gosto dessa sensação. O mundo ainda é um lugar feio e feroz, cheio de almas tristes enfrentando uma tempestade de merda para sobreviver… Mas, estou em contato com isso outra vez. Estou bêbado feito um adolescente, com uma paixão fervorosa por justiça humana… Bêbado de amor...
— Puta merda! É verdade...
Eu me importo com esses malditos imbecis de novo. Até me importo comigo mesmo.
John Constantine
in: A Horrorista, Parte 2, pag. 48
Inomináveis Saudações a todos vós, realistas leitores!
Importar-se com a Humanidade. Importar-se dedicada e profundamente à Humanidade. Dedicação responsável. Dedicação de altíssimo valor. Dedicação de frutificações bastante vastas. Dedicação altruísta elevada ao infinito. Uma dedicação assim não combina com Seres como Constantine? É contraditório em um homem que é mais egoísta do que altruísta? É uma dedicação mentirosa? É uma dedicação hipócrita? É uma dedicação sensivelmente construída? É uma dedicação absolutamente preenchida de autêntica sinceridade? A resposta, as respostas, apenas na leitura das histórias de Constantine, este que pode convosco, leitoras e leitores virtuais, falar muito além dos balõezinhos. Apenas devemos ser claramente isentos de julgar precipitadamente todas as atitudes do personagem, tão bem moldado pelos seus roteiristas com uma densidade e uma profundidade de conteúdos isentos da superficialidade de muitos dos personagens do Universo Dos Quadrinhos. A principal preocupação é não contextualizar a personalidade do personagem nos moldes das contextualizações dos Seres Humanos que se especializam em visões moldadoras de como alguém é interiormente. É a mais viva das dádivas maiores uma análise de todo conteúdo de um personagem, ainda mais um grande personagem, muito bem aproveitado, como Constantine. Analisemos, então, a sua vida pessoal, mas sem a mítica simplória das fofocas das revistinhas vendidas nas bancas de jornal. Analisemos de uma forma livre de excessivos psicologismo, livre de sentimentalismos, livre de posicionamentos em caminhos simploriamente dotados de restos de auto-ajuda, a pior coisa existente na atualidade em termos de mentira psicológica. Analisemos, então, o que é a relação de Constantine com o Amor... Amor… Ele mesmo, O tal Amor que move o sol e as estrelas de todos os Universos conhecidos, como diria Dante Alighieri… Na conclusão deste leitor e admirador, fã e criatura compreensiva do Ser Constantine, este não nasceu para a formação de uma família sólida, quer dizer, uma esposinha amável e adorável, filhinhos amáveis e adoráveis, enfim, uma família amável e adorável para os grandes bons olhos da nossa sociedade! Brincar de família feliz, pensar apenas no que fazer para agradar esposa e filhos, se dedicar a uma comum vida entre tantas vidas comuns humanas, não é parte do roteiro de cada um dos passos dados por ele.
Esqueçamos Zed, Kit, qualquer outra mulher que vimos nos braços de Constantine em suas histórias. Esqueçamos e avancemos; como dito no parágrafo anterior, isto aqui não é uma estúpida e vazia matéria de uma revista de fofoquinhas como a Quem, a Marie Claire, a Caras, a Contigo, qualquer dessas bostas fodidas para mentes que não sabem raciocinar além do óbvio, superficial e vulgar ovacionados pelas páginas desses lixos. Equivale, assim, a constatarmos uma realidade que nem mesmo o personagem, visivelmente, consegue visualizar: a trilha do caminho dele, a verdadeira trilha dele, passa longe do Amor, o Amor que é o da sentimentalidade excessiva, guiando à carnalidade sendo satisfeita, culminando na união muito comum de um homem e uma mulher a fins de procriação e uma pacata vida feliz até que a morte os separe. Esse tipo de Amor é exatamente isto: mera desculpa esfarrapada para a procriação. E este é o tipo de Amor que é maior e mais justamente perceptível em Constantine se nos atermos aos seus fracassos em tentar ser uma pessoa devotada ao comum ser bem quisto pela Sociedade, o comum ser que casa e procria, simplesmente: O Amor À Humanidade, Amor que ele mesmo nega muito, mas Sabe que em si permanece. Como dito nas partes anteriores deste delinear da Ideologia Constantine, ele é trapaceiro, vigarista, canalha, capaz até de te trair pelas costas se for necessário, pisando até em seu sangue ao solo se duvidar; entretanto, o maior trunfo dele, e o menos visado por muitos leitores, está nas concessões que ele faz à Humanidade em determinadas situações reflexivas ou exteriores. Tais concessões ficam claras no início desta quarta e última parte de um trabalho crítico-analítico voltado para o Ser Constantine, no trecho citado da história A Horrorista. O trecho é um completo resumo das características principais de tais concessões, características de ideal anunciação do prazeroso estado de Ser um não-dado à indiferença total com relação aos demais Seres Humanos no conjunto pleno do todo social. No terceira parte deste estudo em série sobre a Ideologia seguida por ele, quando o mesmo se refere aos seus “colegas” em Ocultismo, ele declara que os mesmos fugiram da realidade, não estão acostumados com o contato íntimo demasiado à margem dos Rios e Oceanos e Galáxias e Universos e Criações Mais Abissais, tanto do Mundo Das Trevas e dos Infernos quanto do Mundo Humano.
Arte de Tomm Coker
Mundo Humano?
Humano?
Que Mundo Humano?
Onde vivemos é o charco mais fedorento deste Universo.
Afinal, nosso mundo, o mundo no qual Constantine poderia estar a caminhar, o mundo nos Quadrinhos no qual Constantine caminha, não é O Mundo Desumano, O Mundo Da Desumanidade Que Substituiu A Verdadeira Humanidade?
Aqui não é mundo de finais felizes como nos filmes da Disney, babacas.
Não somos nós, aqui deste mundo, mais desumanos do que humanos?
Todo dia um crime hediondo aliado à indiferença de muitos quanto ao mesmo é o menu que nos é servido nas mesas de refeições.
Não são os personagens do mundo de Constantine mais desumanos do que humanos?
No nosso mundo, os monstros organizam toda a vivência e existência cotidiana.
Somos bastante desenvolvidos, por um acaso?
Moscas e Vermes são mais evoluídos do que nós.
Somos seres superiores, por um acaso?
Ratos e baratas são melhores do que nós.
Os personagens do mundo de Constantine são bastante desenvolvidos, por um acaso?
São todos arquétipos de fracassados existenciais que esqueceram de ligar as luzes de suas respectivas almas.
Os personagens do mundo de Constantine são seres superiores, por um acaso?
São todos rastejantes que não sabem viver, apenas sobrevivem na terra selvagem urbana como predadores ou caças.
Entre O Humano e O Desumano, entre A Humanidade e A Desumanidade, entre A Glória Eterna e A Desgraça Contemporânea, Constantine caminha, vestindo seu sobretudo, fumando seus cigarros, realizando um feitiço à esquerda, enterrando inimigos à direita, fazendo seu nome esconder cada vez mais o Verdadeiro Nome que possui escrito nas Linhas do Livro Da Eternidade contidas em todas as histórias que lemos advindas do Mundo Da Imaginação… Ele te seduz, leitora virtual... Ele te seduz, leitor virtual... Para muitos, o mundo dele, o mundo de um Ser que não pode ser medido, pesado e conjugado como determinável diante dos padrões sociais e morais que apodreceram todas as chances de uma verdadeira evolução desta nossa Desgraçada Civilização, é uma coisa desprezível. Para outros, John Constantine e seu mundo são puro lixo, não o consideram um personagem importante para a História Dos Quadrinhos, não o vêem como um dos mais instigantes e interessantes e pulsantes da História Dos Quadrinhos. Para outros, ainda, o Louco Ser Constantine é um personagem esquecível, sem atrativos de maiores capacidades a torná-lo algo importante para a mesma História Dos Quadrinhos. A Terra é um mundo de liberdades, as do pensamento, as de opiniões, pelo menos. Para quem é fã do Superpoderoso Constantine, Superpoderoso a níveis de fazer o que muitos nos Quadrinhos não possuem a coragem e nem a capacidade e nem o interesse em fazer, ele é O Mago, Querendo Fazer, Sabendo Fazer, Ousando Saber, Admirável Mundo Estranho Sobre O Seu Saber…
Aqui conclui-se A Ideologia Constantine, esta série de artigos especiais sobre Hellblazer nos saudosos tempos da falecida Vertigo. Comentem, opinem, divulguem ou esqueçam o que leram assim como a fumaça do cigarro de John Constantine rapidamente esvai-se...
Saudações Inomináveis a todos vós, realistas leitores!
Arte de John Higgins
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Inomináveis Saudações, leitoras & leitores virtuais!
Se este escrito vos agradou, lhes convido para conhecerem meus outros inomináveis universos:
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