Dentre
os primatas, somos a espécie com o maior cérebro, com o maior volume
craniano, em relação à massa corporal. Um gorila macho adulto pode
atingir uma massa corporal equivalente a quase três machos humanos de
compleição mediana, de uns 70 kg; seu cérebro, no entanto, é quase três
vezes menor que o nosso - 1.200 centímetros cúbicos nossos contra os 470
do gorila.
O
que teria nos dotado de um cérebro de porte único e muito superior aos
de nossos primos mais próximos, os primatas? O que teria nos tornado em
verdadeiros Kids Bengala encefálicos?
Estudos
recentes - ao fim da postagem colocarei o link para eles - apontam para
um caminho inequívoco : o que possibilitou o desenvolvimento de nossos
cérebros ao nível em que hoje se encontram foi uma combinação entre a
criação de técnicas de processamento dos alimentos (corte e cozimento) e
a introdução de alimentos mais proteicos e calóricos em nossa dieta, no
caso, a carne.
O
gorila e outros de nossos aparentados têm dieta essencialmente
herbívora, alimentam-se de folhas - cruas, aos montes, em grandes
pedaços e quantidades. Não é a maneira mais eficiente do mundo de se
obter energia e matéria-prima para o organismo.
Um
gorila chega a passar de oito a dez horas do dia a mastigar e a engolir
grandes folhas; depois, já com bucho cheio, mais três, quatro horas
para digerir e processar tudo aquilo - a celulose é uma substância
rígida, de difícil mastigação, digestão e absorção pelo organismo. Todas
as custosas e poucas proteínas e energia assim obtidas são direcionadas
para o básico da sobrevivência do gorila, sua atividade muscular,
construção e funcionamento. Não sobram energia nem matéria o suficiente
para um incremento do cérebro do bicho. E ainda que sobrassem, ao gorila
não sobraria tempo para explorar um cérebro maior, para exercitar a
máquina.
Com
o desenvolvimento das ferramentas de corte, o ser humano passou a
dividir o alimento em menores porções, o que facilitou a mastigação,
diminuindo o tempo despendido nesta atividade; com o cozimento dos
alimentos, eles passam por várias transformações químicas, que os deixam
não só mais tenros, mas também mais acessíveis ao nosso equipamento
enzimático, eles se tornam mais fáceis de serem digeridos, absorvidos
por nossas células e, enfim, convertidos em energia, diminuindo, além do
tempo da mastigação, também o de processamento; finalmente, com a
introdução da carne à sua dieta, o ser humano juntou, aos menores tempos
de mastigação, digestão etc, um alimento com teores proteico e calórico
muito superiores aos dos vegetais.
Somados
os três eventos, temos : um tempo absurdamente menor gasto com
mastigação, digestão e absorção e uma quantidade de proteínas e de
energia dantes inimagináveis.
Com
mais proteínas, nosso cérebro pode melhor se construir, ganhar
estrutura, massa, volume - sim, ou você acha que o nosso cérebro é feito
do quê, caro vegetariano/vegano, de brócolis? Com mais energia, a nova
máquina pode ser posta a funcionar a todo o vapor - nosso cérebro é um
sumidouro de energia, chega a tomar para si, quando estamos em repouso,
20% de toda a produção do organismo. Com o tempo que nos sobrou, pois
não precisávamos mais ficar a ruminar toneladas de folhas, nos pusemos a
brincar com ele, a criar novas ferramentas e a desenvolver mais
intrincadas relações sociais - o segredo da hegemonia humana no planeta
não vem de nossa pouca força física, vem da habilidade de nos
organizarmos em grandes bandos.
As
relações sociais exigem o exaustivo e coordenado trabalho de milhões de
neurônios. Têm ideia da complexidade cerebral exigida para vivermos em
sociedade? Da beleza da imensa quantidade de conexões sinápticas
necessárias para contarmos uma simples e inofensiva mentirinha social e
cotidiana a bem da política da boa vizinhança? Que outro animal elabora
mentiras? A mentira é a base da sociedade humana. Não nos suportaríamos
sem ela, desfaríamos o bando, e, sozinhos, fisicamente ridículos que
somos, seríamos trucidados por outros animais.
Se
você, vegetariano/vegano, tem hoje uma caralhada de amigos em suas
redes sociais, agradeça ao seu cérebro hábil que lhe permite coordenar
estas relações, seu cérebro construído à base de carne.
Não
tivéssemos desenvolvido técnicas de processamento de alimentos nem
adicionado a carne à nossa dieta, possivelmente ainda teríamos o cérebro
muito similar em tamanho ao dos outros primatas, ou, ao menos, de
nossos ancestrais já humanos, o Australopitecus, o Homo erectus etc, e viveríamos ainda de forma muito parecida à deles. Provavelmente, nem a escrita teríamos desenvolvido.
E
talvez fôssemos mais felizes assim, mas esta não é a questão. A questão
nunca é a felicidade - também um conceito meramente humano, criado pelo
nosso cérebro bem dotado. A questão aqui é que toda a civilização, toda
a história da humanidade, todos os seus avanços (e retrocessos), todas
as suas conquistas científicas e tecnológicas que moldaram nossa maneira
de hoje viver (que remodelaram o planeta), que nos garantem um maior
conforto, uma maior expectativa de vida e, sobretudo, uma esmagadora
supremacia sobre toda e qualquer outra forma de vida conhecida, só foram
possíveis graças ao turbinamento, à otimização de nossos cérebros. E
esta otimização só foi possível a partir da introdução da carne na dieta
humana.
Temos
dentes próprios para cortar e perfurar a carne, os incisivos e os
caninos. Temos sucos digestórios repletos de enzimas para digerir a
carne, a pepsina e outras proteases. Até o tamanho de nosso intestino é
adequado ao correto tempo de trânsito da carne dentro de nós.
Se
toda a humanidade, a partir de hoje, adotasse o
vegetarianismo/veganismo, em alguns milhares de anos, perderíamos muito
de nosso volume cerebral enquanto espécie. Em poucos milhares de anos,
nossos cérebros seriam devolvidos ao nível - se com muita sorte - de um Homo habilis.
Em poucos milhares de anos, estaríamos de volta ao registro pictórico
nas paredes das cavernas. Em poucos milhares de anos, estaríamos de
volta aos sons guturais : Ah! Ah! Uh! Uh!
Encerro,
ou quase, a postagem com as falas de um pesquisador e de um poeta,
atividades humanas só possíveis devido aos nossos diferenciados cérebros
carnívoros.
Primeiro, o pesquisador, Manuel Domínguez-Rodrigo, da Universidade de Madrid : “Eu sei que isso soará horrível para os vegetarianos, mas a carne nos tornou humanos”;
Por fim, o poeta, o poetinha Vinicius de Moraes :
"Não comerei da alface a verde pétala
Nem da cenoura as hóstias desbotadas
Deixarei as pastagens às manadas
E a quem mais aprouver fazer dieta.
Nem da cenoura as hóstias desbotadas
Deixarei as pastagens às manadas
E a quem mais aprouver fazer dieta.
Cajus hei de chupar, mangas-espadas
Talvez pouco elegantes para um poeta
Mas pêras e maçãs, deixo-as ao esteta
Que acredita no cromo das saladas.
Talvez pouco elegantes para um poeta
Mas pêras e maçãs, deixo-as ao esteta
Que acredita no cromo das saladas.
Não nasci ruminante como os bois
Nem como os coelhos, roedor; nasci
Omnívoro; dêem-me feijão com arroz
Nem como os coelhos, roedor; nasci
Omnívoro; dêem-me feijão com arroz
E um bife, e um queijo forte, e parati
E eu morrerei, feliz, do coração
De ter vivido sem comer em vão."
E eu morrerei, feliz, do coração
De ter vivido sem comer em vão."
Abaixo, da esquerda para a direita, um cérebro humano e um cérebro vegetariano/vegano
link prometido no início da postagem, para maiores referências :
cenas
dos próximos capítulos : não é somente nosso cérebro, nossa massa
encefálica, que é o maior entre os primatas; os nossos paus, os nossos
caralhos, também são, proporcionalmente, os maiores entre a macacada. O
gorila é todo fortão, todo saradão, mas tem uma pingolinha de anjo
barroco, parece um desses caras de academia. O motivo de nossas rolas
serem as mais avantajadas entres os primatas? Também o consumo de carne,
porém, um tipo muito específico de carne. Mas isto será assunto de uma
próxima postagem, a Vegana Que Eu Gosto (3), que encerrará esta
ignominiosa trilogia.
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