Batman
Alucinado: O Cavaleiro das Trevas Viciado
A
Panini lançou recentemente a edição especial Batman – Veneno, que reúne as
edições 16 a 20 de uma das melhores séries mensais do morcegão: Lendas do
Cavaleiro das Trevas. Ela surgiu em 1989, época em que o personagem estava com
grande destaque na mídia graças ao sucessos de Batman – O Filme de Tim Burton, A Piada Mortal, O Cavaleiro das Trevas e Batman Ano Um - ambos de Frank Miller – e um dos maiores
motivos para ter sido muito bem-sucedida foi o fato de que as sagas eram
independentes da cronologia oficial. Os autores tinham a total liberdade de
criar arcos curtos, fechados e inspirados ou nos primórdios da carreira do
Homem-Morcego ou em tempos presentes e futuros gerando histórias marcantes como
Xamã, Gótico, Rostos, Presa e várias outras.
Essa
saga se situa nos primeiros tempos da carreira de Batman. Tudo começa com o
sequestro de uma garotinha, a investigação leva a uma galeria dos esgotos de
Gotham onde ela foi colocada presa em um local correndo risco de desabamento
devido a uma forte tempestade que cai sobre a cidade. Ignorando os avisos de
perigo, ele desce para tentar o resgate, mas o pior acontece: a passagem desaba
impedindo-o de alcançar a criança a tempo e, impossibilitado de remover as enormes
pedras no caminho, ele a perde.
A
situação cai pesada sobre os ombros dele e, quando vai a casa da família dar a
notícia, encontra o pai apenas lamentando o triste desfecho. Batman fica
chocado com a reação tão passiva do pai e questiona o que o sequestrador tanto
queria, o homem é um fármaco, cientista, e mostra a ele sua descoberta tão
valiosa: uma potente droga capaz de ampliar várias vezes as capacidades físicas
de um homem, deixando-o muito mais forte do que o normal. Ao invés de esboçar
qualquer reação pela perda da sua filha, ele simplesmente oferece ao Batman
algumas das suas pílulas miraculosas alegando que se ele estivesse fazendo uso
delas teria toda a força necessária para ter salvado a refém.
Enquanto
conversam o cientista tem sua casa invadida pelos sequestradores em busca da
super droga. Batman os persegue, mas eles conseguem fugir para depois, seguindo
algumas evidências, chegar ao esconderijo deles, apenas para falhar novamente
por não estar fisicamente forte o suficiente para detê-los. A soma de todas
essas falhas resulta na tentação do Homem Morcego se sentir incapaz de
solucionar o problema sem uma ajuda adicional e acaba aceitando experimentar a
droga. O efeito é imediato e Batman se vê dono de uma força excepcional,
tornando-o imbatível. Aí começam os seus problemas e ele se torna cada vez mais
dependente do vício para combater o crime, em vista da facilidade gerada pelo
uso da droga. O herói atravessa as fases que qualquer viciado experimenta:
Curiosidade, experimentação, repetição, uso abusivo, dependência até cair em si
e lutar para se libertar da abstinência de forma dura e resignada, é tocante
como Alfred é bem retratado no papel da pessoa que sofre junto com o seu filho
adotivo durante essa luta, para no final partir em busca de justiça.
Essa
saga escrita pelo veterano Dennis O´Neil peca no argumento devido a uma questão
básica que se resume no fato de que Bruce Wayne viajou o mundo inteiro, treinou
com os melhores, aprimorou mente e espírito para dar início a sua missão e acabar
cedendo aos apelos do uso de uma droga que dá força de Superman? Ele foi editor
do Batman por muitos anos, uma referência do mundo dos quadrinhos, então como
alguém que conhece tão bem o herói faz dele tão frágil de uma hora para outra?
Soou bastante incoerente para mim.
Fiz uma análise sobre a lendária passagem dele
pelo Lanterna Verde e Arqueiro Verde junto com o grande artista Neal Adams, que
saiu pela Panini em 3 edições de Lendas do Universo DC (https://planetamarveldc.blogspot.com/2017/01/colaboradores-do-planeta-leitura_29.html) e um dos pontos altos dessa fase foi a
polêmica revelação de que o Ricardito estava viciado em drogas. Comparando as
duas sagas pude entender que O´Neil usou um foco meio similar sobre como um
momento de fragilidade deixa uma pessoa suscetível ao vício, uma busca de superar
uma deficiência, como também foi visto nas páginas de Homem-Aranha quando Harry
Osborn usou drogas também. A fragilidade da trama está nesse ponto: Entendo que
adolescentes como Roy Harper ou Harry Osborn não tenham estrutura para resistir,
só que Batman não é um adolescente e é um homem que treinou habilidades para
superar desafios tanto físicos como psicológicos das maneiras mais radicais
possíveis.
Mesmo
essa escorregada argumentativa de O´Neil em relação ao Cavaleiro das Trevas –
Como o treinamento árduo de anos vai para o ralo em uma noite? – não tira a
qualidade dessa saga que apresenta a droga Veneno que viria a ser usada mais
tarde pelo Bane. Inclusive pode-se entender que essa história faz praticamente
a origem da droga em si, nos momentos finais da aventura Batman vai até Santa
Prisca em busca do cientista para o acerto de contas final, que é o local de nascimento
e juventude de Bane; Chuck Dixon e Doug Moench pegaram o gancho deixado por
essa história para criar o personagem e dar início a clássica A Queda do Morcego.
Vale
a pena a leitura desse material que tem na equipe de artistas os grandes nomes
de Trevor Von Eeden nos esboços, Russel Braun nos desenhos e a arte-final
marcante de José Luis García-López, artista que definiu os traços mais emblemáticos
de diversos personagens DC como o próprio Batman, Lanterna Verde e Superman,
este também teve duas edições de Lendas do Universo DC dedicadas a ele com o
traço de García-López.
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