Bem, eu não vou te contar aqui toda a história do Coronel Nicholas Fury, desde sua criação até aos dias de hoje, com sua participação na saga "Age of Ultron".
O que eu quero dizer aqui é que o antigo Nick Fury, chefão da S.H.I.E.L.D., que lutou na 2ª Guerra Mundial, no Vietnã, espião, e eternamente inimigo da HIDRA, IMA e outras mais, é muito mais interessante e original do que esse que nós vimos no filme dos Vingadores - que se inspirou na versão Ultimate do personagem.
O Nick Fury antigo era uma espécie de Clint Eastwood da Marvel. Sempre de cara amarrada, com um charuto na boca, pronto para meter bala no primeiro filho-da-puta que aparecesse.
Não tinha problemas em resolver as coisas da maneira mais fácil, mais rápida e nem sempre mais limpa.
Nick Fury se dava bem com os personagens mais undergrounds da editora, como Wolverine - numa época em que o mutante canadense ainda não desfrutava de tamanha fama - e Justiceiro - sempre visto como um anti-herói, o que de fato ele é.
Aliás, Millar está se provando um grande emulador de ideias, conquistando grandes benefícios e sagas interessantes. Mas não têm nada de original.
Você pega Os Supremos, Nemesis, Velho Logan, e até esse mais recente Legado de Júpiter, todos têm referências fortes a algumas das melhores obras já feitas.
Velho Logan, em especial, é chupinhado fortemente do filme Os Imperdoáveis.
Mas, enfim, voltando ao Fury--
O Nick Fury versão Sam Jackson, embora seja sacana, bem-humorado e casca-grossa, não chega a ser o filho-da-puta cujos fins justificam os meios, capaz de se relacionar sexualmente com a mulher de um Senador, de levar todo mundo à morte, de ir à Cuba e tentar destronar Fidel Castro.
O Nick Fury mais interessante foi escrito e desenhado por Jim Steranko; foi o cara que carregou os esquemas da Guerra-Fria, que peitou o Barão Strucker.
Eu só não gostava de Nick Fury justamente quando ele servia de "carta na manga" para as resoluções nas histórias de alguns super-herois.
O que a S.H.I.E.L.D. poderia fazer contra o Magneto? Ou contra Os Mestres do Terror, ou mesmo Terminus? Nada! No máximo, servir de transporte e monitoramento, enquanto quem tivesse poderes de verdade fazia o seu trabalho.
Fico pensando na risível cena de encontro entre o Fury do filme e Loki. O meio-irmão de Thor sendo interrogado por um cara que nada poderia fazer, caso o deus da trapaça resolvesse agir.
É tão ridículo quanto o Batman interrogar o Coringa, dentro da delegacia, em Cavaleiro das Trevas.
Nick Fury, assim como Wolverine, Justiceiro, Exterminador, Pistoleiro, enfim, não servem para esse tipo de histórias.
E há tantos temas "urbanos" a serem abordados, que dariam muito mais resultados do que essa mania desenfreada de botar esses personagens para confrontar deuses e seres superpoderosos.
E dou um exemplo: Fury - Minha Guerra Se Foi, minissérie escrita por Garth Ennis e desenhada por Goran Parlov. A história é uma espécie de "autobiografia" do ex-chefão da S.H.I.E.L.D., e ele conta como foi justamente tentar tirar Fidel Castro do poder. Mas a trama tem mais camadas do que se aparenta e tudo vai ficando mais complicado e, ao mesmo tempo, interessante e irresistível, principalmente quando ninguém menos que um caladão novato chamado Frank Castle entra em cena para ajudar Fury numa missão suicida.
É entretenimento puro.
Tudo é muito simples e gostoso de ler. Lá temos os maiorais, os políticos corruptos, as mulheres e seus dilemas, a guerra, os cascas-grossas, os fudidos e os grandes filhos-da-puta.
Não tem comparação.
Assim como não há comparação entre Garth Ennis e Mark Millar. Enquanto um cria tramas fantásticas e reais, com um toque de humor, o outro emula tudo o que há de pop e bota uma roupagem mais bonita.
Bem, tanto a Marvel quanto a DC vêm fazendo isso há tempos, quando a "Casa das Ideias" virou as costas para Jack Kirby; quando processou o criador do Motoqueiro Fantasma, Gary Friedrich, cobrando-lhe 17 mil dólares por ele ter vendido artes e camisetas do personagem, em convenções; e, finalmente quando confiou a missão de contar a história de Thanos a outra pessoa e não o seu criador, Jim Starlin, grande roteirista, desenhista, arte-finalista, criador de sagas grandiosas e fantásticas, como a Trilogia do Infinito, Odisseia Cósmica, Adam Warlock, a Morte do Capitão Marvel, além de Dreadstar - sua criação máxima - só para dizer algumas. Starlin, aliás, teve que pagar o próprio ingresso de cinema para ver sua criação nos minutos finais do filme.
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