Uma geração perdida, diz Pondé, sempre polido e cortês. Uma geração de merdas, asseguro-vos eu. De inúteis. De pesos mortos.
"O mercado de
trabalho que se prepare porque as universidades estão gestando uma
geração mimimi raivosa, que não vai prestar para muita coisa. Esse
diagnóstico é feito por especialistas americanos sobre universidades
americanas. Mas, como toda moda americana pega, ela já chegou aqui.
O fetiche com
relação aos jovens serem “mais evoluídos” continua em ação. Um pouco
pela vaidade dos pais, um pouco pelo marketing das escolas e
universidades, um pouco porque pessoas mais velhas querem fazer
sexo com esses jovens, e o blábláblá de que são legais funciona melhor
quando você quer levar um deles ou uma delas para a cama.
Greg Lukianoff,
psicólogo cognitivista, e Jonathan Haidt, psicólogo social, escreveram
um livro em 2018 que está impactando não só o mundo acadêmico como o
mundo corporativo. “The Coddling of the American
Mind” (Mimando a mente americana, Penguin Press) é de urgente leitura
para quem trabalha com jovens. Mas, se fôssemos medir o nível de leitura
de quem trabalha em escolas e universidades, provavelmente não
passariam de 10% aqueles que ainda têm tesão pelo
estudo.
“Coddling” significa
mimar. A realidade desse processo já foi apontada, de formas diversas,
por especialistas como Jean Twenge e Frank Furedi em livros recentes.
Ela com o “iGen”(traduzido no Brasil) em 2017,
ele com “What’s Happened to the University?” (sem tradução por aqui) em
2018.
A obra descreve
casos recentes e escandalosos de universidades americanas que
mergulharam no caos e na violência estudantil de esquerda a partir de
emails nada especiais, enviados por seus professores, alunos
ou por membros da administração.
A
pesquisa também relata provocações de membros da direita agressiva
off-campus e o comportamento canalha de colegas professores que, apesar
de no
particular se solidarizarem com os colegas levados à fogueira por esse
alunos furiosos, no público juram pureza ideológica a favor dessas
mesmas fogueiras (universidades são um dos espaços onde canalhas crescem
aos montes). Os autores se referem a esse fenômeno
como “caça às bruxas” —quem já viu ou viveu esse tipo de ataque por
parte de alunos e redes sociais sabe o que é.
As universidades
americanas estão se transformando em tribunais da inquisição, muitas
vezes liderados por professores e justificados por uma teoria conhecida
como “interseccionalidade”. Segundo esta teoria,
existem dois grupos básicos no mundo, os opressores e os oprimidos. Mas
o gradiente é móvel: ele vai do mais opressor ao mais oprimido.
Na ponta do
opressor, homens brancos, heterossexuais, bem-sucedidos. Na ponta do
mais oprimido, encontramos um “mau infinito”: talvez uma mulher, negra,
lésbica, pobre. Bruce Bawer, crítico literário americano,
já havia apontado esse “mau infinito” na sua obra “Victims’
Revolution”, em 2012.
Um traço dessa tese é
que, mesmo que o “agressor” não tenha tido a intenção de cometer a
“agressão” de que o acusam, se a “vítima” se sente agredida, ele deve
ser demitido, execrado em praça pública, condenado ao ostracismo. A tendência a desconvidar pessoas para conferências em universidades nasce dessa tese.
Um dos riscos desse
fenômeno é que os alunos são estimulados a recusar o contato com
questões das quais eles podem discordar, mas que deveriam ser
estimulados a refletir e debater. As universidades mimam esses
alunos, criando pequenos Torquemadas ofendidos.
Na parte dedicada a
investigar as causas que nos levaram a essa situação, os autores
elencam: polarização política, pais paranoicos superprotetores, obsessão
por um mundo mais justo, ansiedade, suicídio e
depressão em crescimento, o declínio do brincar em espaços abertos,
mídias sociais e a burocracia para construção de um mundo cada vez mais
“seguro psiquicamente” nas escolas e universidades. Você reconhece
algumas dessas causas perto de você?
Segundo os autores, a
única solução será as universidades que quiserem apoiar um viés
político claro se tornarem instituições como as religiosas, que pregam
ao invés de formar adultos livres, assim como faculdades
de teologia que assumem sua denominação religiosa. E aquelas que
quiserem formar jovens que pensem o mundo livremente devem abandonar o
projeto de confundir filosofia e ciências humanas com uma igreja a favor
dos oprimidos.
Pensando nas
universidades que conheço aqui no Brasil, só nos restarão as que optam
por ser igrejas que se acham salvadoras do mundo."