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Normalmente,
eu acabo assistindo/lendo/jogando alguma coisa bem depois que ela foi lançada,
seja por falta de tempo ou disposição, seja por dificuldade de acesso. Isso,
por outro lado, é benéfico, pois permite apreciar um produto sem nos contaminar
com todo o hype ou o hate que ele recebe pouco após o seu
lançamento, e assim fazer uma análise mais imparcial. Foi o que aconteceu
comigo em relação a Goblin Slayer, um dos animes mais polêmicos do ano passado,
o qual terminei de assistir recentemente.
Goblin
Slayer vem de uma light novel
(romance ilustrado) de autoria de Kumo
Kagyu e Noboru Kannatsuki, o qual recebeu uma adaptação em mangá com
roteiro e desenhos por Kosuke Kurose
na revista Monthly Big Gangan. Posteriormente, ganhou uma adaptação em anime,
com produção do estúdio White Fox,
que também é responsável pelos animes de Steins;Gate e Akame Ga Kill, estando a
série completa disponível atualmente no Crunchyroll.
A
história se passa em um mundo de RPG medieval – literalmente, não só pela
ambientação, mas pelas adaptações dos clichês básicos dessa mídia: os
personagens são divididos em classes, como guerreiros, magos, elfos e clérigos,
e precisam realizar missões para subir de nível, comprar itens melhores,
adquirir novas habilidades e poder aceitar quests
mais perigosas. Nos finais dos episódios, aparecem dados sendo rolados, o que
reforça ainda mais essa ideia.
Nosso
protagonista, conhecido por todos como Goblin Slayer (“Matador de
Goblins”), é um guerreiro de nível relativamente alto, cujo propósito de vida é
eliminar goblins, algo que ele sabe
fazer como ninguém. Por conta de sua expertise no assunto, ele é sempre o
primeiro a ser convocado por sua guilda quando há uma missão envolvendo essas
criaturas, mesmo tendo capacidade de aceitar tarefas mais difíceis. E, ao
contrário de outros aventureiros mais experientes, o GS somente aceita esse tipo
de trabalho.
O
primeiro episódio nos dá uma plena noção de como o mundo de Goblin Slayer pode ser cruel. Como em
todo RPG, os goblins são criaturas
fracas se enfrentadas sozinhas, mas podem representar um grande perigo quando
se reúnem, atacando de forma voraz e impiedosa, inclusive abusando sexualmente
de suas vítimas – uma vez que não há goblins fêmeas, sendo esta sua forma de
reprodução. O anime faz um bom trabalho nesse quesito, criando no espectador
uma repulsa por esses monstros, o que, de certa forma, justifica a violência
extrema empregada pelo GS contra eles.
No
entanto, passado esse impacto inicial, o anime tira o pé do acelerador e passa
a ficar bem mais tranquilo. Claro, ainda se fazem presentes a violência
acentuada e nudez parcial, mas nada tão pesado quanto mostrado inicialmente.
Pelo contrário, a narrativa fica mais lenta, dando bastante foco aos diálogos e
às interações entre os personagens, mas com poucos momentos de ação real, dando
a impressão de estar nos enrolando para chegar a seus 12 episódios. Ao final,
percebe-se que nada de muito significativo aconteceu, como se estivéssemos
acompanhando uma missão secundária da história principal durante todo esse
tempo.
Por
outro lado, se o enredo não é tão interessante, os personagens carregam o seu
charme. O personagem-título é um homem estóico, de poucas palavras, que não
consegue levar uma conversa normal com alguém se o assunto não for goblins – o que inclusive é satirizado
pelos demais personagens, que incluem uma jovem clériga que nutre uma grande
admiração pelo GS, uma elfa nervosinha, um anão fanfarrão e um sábio
homem-lagarto. Um detalhe curioso sobre os personagens é que eles não têm nomes
próprios, referindo-se uns aos outros por suas classes ou por “apelidos
carinhosos”, uma vez que qualquer pessoa pode estar controlando-os dentro de uma partida de RPG.
Quanto
à animação, o estúdio não deixou a peteca cair, baseando-se no traço do mangá
(que é excelente, diga-se de passagem), dando bastante atenção aos detalhes nos
trajes e equipamentos dos personagens e, claro, na violência gráfica. Apontaria
apenas dois defeitos na direção do anime: o uso de ecchi
(sexualização gratuita) de forma bem desnecessária em alguns momentos, e o fato
de utilizarem um modelo 3D do Goblin Slayer, principalmente em algumas cenas
mais breves, o que fica meio deslocado em relação ao resto da animação.
Em
suma, vale a pena assistir Goblin Slayer? Eu diria que é um
anime que se valeu muito mais da polêmica em si para fazer sucesso. Se não
fosse pelo seu conteúdo explícito e pesado, especialmente no primeiro episódio,
creio que não chamaria tanta atenção. É uma história bem básica, com uma
construção de mundo interessante e boas interações entre os personagens, mas
nada além disso. Se você curte obras de fantasia medieval com um tom mais
maduro e violento, pode acabar gostando desta. Mas, se não for o seu estilo,
melhor passar longe.
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conhecia a série? Se sim, o que acha dela? Pretende conferir? Deixe seus
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