Resenha: Goblin Slayer 1ª Temporada (2018)


[Texto da tag “Escritor Convidado”, escrito POR: King, publicado originalmente em:

Normalmente, eu acabo assistindo/lendo/jogando alguma coisa bem depois que ela foi lançada, seja por falta de tempo ou disposição, seja por dificuldade de acesso. Isso, por outro lado, é benéfico, pois permite apreciar um produto sem nos contaminar com todo o hype ou o hate que ele recebe pouco após o seu lançamento, e assim fazer uma análise mais imparcial. Foi o que aconteceu comigo em relação a Goblin Slayer, um dos animes mais polêmicos do ano passado, o qual terminei de assistir recentemente.


Goblin Slayer vem de uma light novel (romance ilustrado) de autoria de Kumo Kagyu e Noboru Kannatsuki, o qual recebeu uma adaptação em mangá com roteiro e desenhos por Kosuke Kurose na revista Monthly Big Gangan. Posteriormente, ganhou uma adaptação em anime, com produção do estúdio White Fox, que também é responsável pelos animes de Steins;Gate e Akame Ga Kill, estando a série completa disponível atualmente no Crunchyroll.

A história se passa em um mundo de RPG medieval – literalmente, não só pela ambientação, mas pelas adaptações dos clichês básicos dessa mídia: os personagens são divididos em classes, como guerreiros, magos, elfos e clérigos, e precisam realizar missões para subir de nível, comprar itens melhores, adquirir novas habilidades e poder aceitar quests mais perigosas. Nos finais dos episódios, aparecem dados sendo rolados, o que reforça ainda mais essa ideia.

Nosso protagonista, conhecido por todos como Goblin Slayer (“Matador de Goblins”), é um guerreiro de nível relativamente alto, cujo propósito de vida é eliminar goblins, algo que ele sabe fazer como ninguém. Por conta de sua expertise no assunto, ele é sempre o primeiro a ser convocado por sua guilda quando há uma missão envolvendo essas criaturas, mesmo tendo capacidade de aceitar tarefas mais difíceis. E, ao contrário de outros aventureiros mais experientes, o GS somente aceita esse tipo de trabalho.



O primeiro episódio nos dá uma plena noção de como o mundo de Goblin Slayer pode ser cruel. Como em todo RPG, os goblins são criaturas fracas se enfrentadas sozinhas, mas podem representar um grande perigo quando se reúnem, atacando de forma voraz e impiedosa, inclusive abusando sexualmente de suas vítimas – uma vez que não há goblins fêmeas, sendo esta sua forma de reprodução. O anime faz um bom trabalho nesse quesito, criando no espectador uma repulsa por esses monstros, o que, de certa forma, justifica a violência extrema empregada pelo GS contra eles.

No entanto, passado esse impacto inicial, o anime tira o pé do acelerador e passa a ficar bem mais tranquilo. Claro, ainda se fazem presentes a violência acentuada e nudez parcial, mas nada tão pesado quanto mostrado inicialmente. Pelo contrário, a narrativa fica mais lenta, dando bastante foco aos diálogos e às interações entre os personagens, mas com poucos momentos de ação real, dando a impressão de estar nos enrolando para chegar a seus 12 episódios. Ao final, percebe-se que nada de muito significativo aconteceu, como se estivéssemos acompanhando uma missão secundária da história principal durante todo esse tempo.

Por outro lado, se o enredo não é tão interessante, os personagens carregam o seu charme. O personagem-título é um homem estóico, de poucas palavras, que não consegue levar uma conversa normal com alguém se o assunto não for goblins – o que inclusive é satirizado pelos demais personagens, que incluem uma jovem clériga que nutre uma grande admiração pelo GS, uma elfa nervosinha, um anão fanfarrão e um sábio homem-lagarto. Um detalhe curioso sobre os personagens é que eles não têm nomes próprios, referindo-se uns aos outros por suas classes ou por “apelidos carinhosos”, uma vez que qualquer pessoa pode estar controlando-os dentro de uma partida de RPG.



Quanto à animação, o estúdio não deixou a peteca cair, baseando-se no traço do mangá (que é excelente, diga-se de passagem), dando bastante atenção aos detalhes nos trajes e equipamentos dos personagens e, claro, na violência gráfica. Apontaria apenas dois defeitos na direção do anime: o uso de ecchi (sexualização gratuita) de forma bem desnecessária em alguns momentos, e o fato de utilizarem um modelo 3D do Goblin Slayer, principalmente em algumas cenas mais breves, o que fica meio deslocado em relação ao resto da animação.

Em suma, vale a pena assistir Goblin Slayer? Eu diria que é um anime que se valeu muito mais da polêmica em si para fazer sucesso. Se não fosse pelo seu conteúdo explícito e pesado, especialmente no primeiro episódio, creio que não chamaria tanta atenção. É uma história bem básica, com uma construção de mundo interessante e boas interações entre os personagens, mas nada além disso. Se você curte obras de fantasia medieval com um tom mais maduro e violento, pode acabar gostando desta. Mas, se não for o seu estilo, melhor passar longe.


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