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“Escritor Convidado”, escrito por Gabriel Ténisson, publicado originalmente em: http://rapaduradoeudes.blogspot.com/2017/01/marvel-2057.html]
Do lado de fora do prédio, demonstrando ódio fofo, uma
multidão de militantes protesta contra a falta de diversidade nas HQs da Casa
de ideias.
Stan Lee, com a consciência armazenada num computador,
reassume o cargo de editor chefe após a máquina ser iniciada.
Stan Lee: Mas o que está acontecendo? Eu criei personagens cegos, nerds, negros, usei analogias para lutar
contra o preconceito racial nos anos 60. Sempre apoiei a diversidade numa época
em que ninguém ganhava likes por
isso. Por que têm cartazes lá fora me chamando de fascista?
Desenhista: os tempos mudaram, mestre Lee. Precisamos de mais pluralidade,
mesmo que elimine toda a nossa cronologia. Pretendo reformular os Vingadores
ainda hoje com o Brian Michael Bendis Neto.
Stan Lee: Mas, nós tínhamos um Homem Aranha gay, negro e latino. O
Estrela Polar casou com seu namorado numa edição histórica. Na morte de
Hércules, inclusive, deixamos claro que ele era bissexual e teve um caso com
estrela Polar. Xavier é cadeirante. Pantera Negra e Ororo governam a nação mais
avançada do planeta. O que fizemos de errado, qual motivo para tanta fúria?
Desenhista: Ah, senhor. As posições acrobáticas são irrealistas demais
e acabaram ofendendo os leitores com problema de lordose que não se sentiam
representados.
Stan Lee: Meu Deus, não quero nem imaginar o que fizeram com o
Justiceiro!
Desenhista: Hoje Frank Castle é um pacifista que combate o crime
organizado reabilitando mafiosos com aulas de artesanato e capoeira. Pensamos
em colocá-lo como um hacker, mas lembramos que a Oráculo da DC foi censurada.
Conhecimentos de informática e hacking
podem ser interpretados como apologia ao roubo de nudes no computador alheio. Hoje, Barbara Gordon é uma personagem
que escreve textões no Facebook,
pedindo mais amor e mais empatia pelas pessoas insanas do Asilo Arkham.
Stan Lee: Mas, por que essa geração é tão sensível?
Desenhista: Em 2005, Houve um vazamento numa fábrica de alimentos
infantis, senhor. Lençóis freáticos e rios que abasteciam as metrópoles foram
contaminados com altos índices de papinha de bebê. Isso gerou a síndrome do
mimimi, uma doença que faz o paciente acreditar que a órbita terrestre gira em
torno do seu umbigo.
Stan Lee: Parece ser grave... o que podemos fazer para aliviar essa
doença?
Desenhista: Recriar todo o universo Marvel numa saga. Depois faremos o reboot e daremos um nome novo, o selo
MMM
Stan Lee: MMM?
Desenhista: Melhore, Marvel, melhore.
Stan Lee: O que houve com o Hulk, Homem Aranha, Capitão América?
Desenhista: morreram nas Guerras Héteras. A nova equipe de Vingadores é
composta por Transhulk, Capitão Cuba, Feminista de ferro, Aranha Vegana e
Wolverinx. Ah, também vamos substituir o Thor por Alá.
Stan Lee: Mas a gente não pode desenhá-lo!
Desenhista: pode sim. A proibição é contra desenhar Maomé.
Stan Lee: Coloque o Dr. Estranho na equipe.
Desenhista: Olha, usar o adjetivo "estranho" para designar
uma pessoa é extremamente ofensivo nessa época. Podemos rebatizá-lo de Dr.
Diferentão.
Stan Lee: E quanto aos X-Men e o Quarteto Fantástico? O que fizeram
com eles?
Desenhista: Para não ofender pessoas de outros gêneros, os x-men
passaram a se chamar X-mxn.
Stan Lee: como diabos se pronuncia isso?
Desenhista: usando o dialeto do Mussum.
Stan Lee: E o Quarteto?
Desenhista: O Quarteto se tornou uma família adepta do poliamor,
formada por Sue, Reed Richards e Namor, que adotaram um garoto que sofre de
combustão espontânea. Ah, também adotaram uma Pedra.
Stan Lee: uma pedra?
Desenhista: A pele rochosa do Coisa causou mal estar em pessoas que
sofrem de dermatite crônica. Hoje ele é apenas uma pedra com um sorriso
desenhado.
Stan Lee: Tipo a bola Wilson do Tom Hanks?
Desenhista: Exatamente.
Stan Lee: Qual será o Plot da nova primeira edição de Vingadores?
Desenhista: Galactus, o desconstrutor de Mundos, invade a Terra e mata
todo mundo que assiste a FOX News. Os Vingadores tentam intervir, mas acabam
sendo desconstruídos também.
Stan Lee: Podemos colocá-los para lutar contra o Dr. Destino na
segunda edição.
Desenhista: Olha, Dr. Destino governa a Latvéria, uma nação oprimida
pelo Ocidente. Pelo Novo Comic Code of defecation rules, os Vingadores não
podem revidar. A violência do Dr. Destino é reação do oprimido, portanto,
justificável.
Stan Lee: E quanto ao Thanos?
Desenhista: Thanos está disposto a destruir o universo para
agradar a Morte. É assédio sexual; as jóias do infinito não podem ficar na mão
de um machista.
Stan Lee: Mandarim?
Desenhista: Mandarim é asiático. Vilões que se encaixam em minorias
estão permanentemente proibidos. Se o senhor quiser, transformo o Mandarim num
branco católico conservador.
Stan Lee: Ainda existe liberdade criativa?
Desenhista: Claro, senhor. Ela só precisa passar pela Comissão Federal
de Empatia. Depois é enviada ao Supremo Conselho dos Cidadãos Ofendidos. Se for
aprovado, aí podemos publicar.
Stan Lee: Pelo menos a instituição Vingadores ainda existe, né?
Desenhista
(coçando a cabeça): Olha, pra ser
honesto, a palavra "Vingadores" é muito pesada, sugere vingança, como
se o grupo apoiasse "bandido Bom é bandido morto". Nós não queremos
ser confundido com a DC que republica o fascista e censurado The Authority.
Stan Lee: E qual será o novo nome?
Desenhista: Os Problematizadores.
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