Relações abstratas e pós-modernas entre Deus e um funcionário do balcão de informações





No balcão de informações
um sujeito se embriaga de café
sua função é estar ali, parado,
alheio ao que não seja informar,
dez horas seguidas de uma bunda quadrada
mas cheia de informações.

Sabe de tudo, e de todos,
tal como uma divindade que engorda
a cada virada de seu globo ocular.

Talvez o que chamam de "deus"
seja isso: uma espécie de porteiro sem função,
deslocado no espaço-tempo
pronto a nos servir e manter-nos ali
no balcão de informações

a diferença - sempre há - é que o rapaz do balcão citado
oferece café (o rapaz é meu tio), e é um bom ouvinte.
Agora, a tal da entidade - aprisionada no seu canto - por mais tempo
que quem espera a tão sonhada aposentadoria,
deixou-se levar pelo tédio, pela agonia da solidão,
e, de maneira justificada, nada nos informa:
nem aos fiéis nem aos descrentes nem aos irônicos difamadores de vosso catolicismo ou de quaisquer dessas religiões que pregam a paz e que, um dia, pregaram o filho do tal salvador.


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