Não sei se a ministra Damares, titular da pasta do "importantíssimo" Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (quer dizer que a mulher é um ser celestial, que não faz parte, ou está além, da família e do gênero humano?) é chegada numa cachacinha, naquela que "matou o guarda".
Provavelmente, não; uma vez que evangélica. Se bem que isso de evangélico não tomar bebida alcoólica, para mim, é puro mis-en-scène,
pura fachada. É bem verdade que em suas festas e celebrações, quando é o
evangélico quem está bancando o aniversário, o casamento etc, realmente
não há birita, eles economizam uma boa grana em nome de Jesus; e depois
dão tudo pro pastor. Mas já vi muito "irmão" entornar bem, quando a
festa é patrocinada por outrem.
Mas
tenho a certeza de que a ministra Damares, mesmo que não seja adepta de
uma "branquinha", recomendaria, veementemente, feito aquelas atrizes
que fazem publicidade de produtos que, notadamente, não consomem, a
cachaça abaixo, fabricada em Aracaju, Sergipe : a CURABICHA.
E
farei aqui algo que os leitores do Marreta não estão acostumados a ver :
elogiarei a inteligência do brasileiro. Alguns pensarão : ora, Azarão,
por certo perdeste o senso. E eu vos direi, no entanto : meu elogio não é
bem à inteligência em si do brasileiro, sim ao tipo da inteligência
brazuca. Que, sabemos, não é das mais profundas, dedicadas e pujantes.
Não é inteligência de cátedras acadêmicas, de, um dia, abiscoitar um
Prêmio Nobel, a não ser, quem sabe?, a picaretagem do Nobel da Paz. Porém,
no quesito da irreverência, da galhofa e da gaiatice, não há quem nos
bata. É a inteligência da sacada rápida, da tirada espirituosa, do
chiste, feito a do gênio que batizou esta cachaça.
É
inteligência de fôlego curto, de explosão, não de resistência : de
curta distância. Numa Olimpíada de Inteligência, correríamos muito bem
os 100 metros rasos e os 400 metros (sem barreiras); dos 800 metros em
diante, só com revezamento. A maratona, jamais.
Não
é inteligência de produzir novas tecnologias, de levar o homem a Marte,
de curar o câncer e a paumolescência. É inteligência lenitiva e
paliativa, de trazer uma fugaz alegria ao prosaico da vida. Feito o
anão, a quem a única vingança possível é pisar na sombra do gigante.
Nossa
inteligência é Phd em disciplinas e conteúdos não acadêmicos. Na
modalidade apelidos, por exemplo. Como são os apelidos dos ingleses, dos
estadunidenses? Thomas vira Tom; Franklin, Frank; Christopher, Chris;
Robert, Bob; William, Bill; Antonhy, Tony; Nicholas, Nick... E a chatice
prossegue infinitamente por essa linhas.
No
Brasil, não. Por aqui, até tem destes apelidos diminutivos. Tem o Zé, o
Tião, o Mané, mas a maioria das alcunhas tem inspiradíssima inspiração
nos atributos físicos mal-acabados do sujeito. O narigudo vira
"sequestrador de oxigênio"; o gordo, rolha de poça, pudim de banha,
chupeta de elefante; o baixinho, gandula de pebolim, salva-vidas de
aquário, jardineiro de bonsai, meia-foda, salário mínimo, piloto de hot
wheels; o vesgo, um olho no peixe e outro no gato; o magro, tripa, vara
de cutucar estrela, puro osso, chassi de grilo; o feio, espanta-bebê,
manequim de funerária; o que usa óculos, quatro-olhos, Mr. Magoo, Steve
Wonder.
Ou seja, o brasileiro inventou o bullying! O americano só o capitalizou - como sempre.
E na questão, então, da cachaça da Damares? Alguém suporia um escocês, ou um inglês, batizando um uísque de Virgin Pee (Xixi de Virgem)? Ou Cry on The Dick (Chora no Pau)? Um russo registrando uma vodka com o nome de за сумкой (Atrás do Saco)? Um italiano a nomear uma grappa de Domare o Cornuto (Amansa Corno)? Um alemão dar a uma cerveja o nome de Thread Brennen (Queima Rosca)? Ou um japonês rotular um saquê de 暖かいセーター (Esquenta Xereca)? Só no Brasil!
Além
do brilhantismo do nome, o rótulo traz informações de grande sutileza
sobre o produto, praticamente uma bula. Como uma cachaça, alguém poderia
perguntar, seria capaz de curar uma bicha? A resposta está no rótulo :
aguardente de cana mole. Mas é lógico. Se toda cana fosse mole, o boiola
desistia da profissão.
E o melhor : a cachaça da ministra Damares vem, é claro, com o rótulo impresso em azul.
Pãããããããta que o pariu!!!!!
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