Ele tem 18
anos, e acabou de ganhar seu primeiro estadual da LBX nas categorias “clássico”
e “Blitz”. É um adepto do genuíno xadrez romântico e arriscado (deixado de lado
por boa parte da elite atual do xadrez, que luta por posições mais sólidas e
igualadas), e todo esse progresso em apenas quase 3 anos! Entrevisto hoje um
jovem campeão que tem inspirado vários jogadores a melhorarem ainda mais!
1 – Fale um pouco sobre si, e claro, uma
pergunta que não pode faltar, como começou sua carreira no xadrez? E o que lhe
impulso a competir em clubes, chegando a esse ponto alto de vencer um estadual,
que mesmo não lhe fazendo um “GM”, lhe põe indiscutivelmente em um nível acima
da maioria dos jogadores de clubes.
Tal: O Mago de Riga. Provável que o jogador de ataque que já existiu na história do xadrez. |
Bom, meu
nome é Rafael Oliveira Andrade de Souza. Tenho 18 anos e moro na capital do
estado do Espírito Santo. Nasci em Barra mansa, Rio de Janeiro. Mas logo minha
família se mudou para Volta redonda. Sempre viajei muito, já morei em Curitiba.
Porém a maior parte da minha vida, desde então, foi no Espírito Santo. Minha
infância foi boa, mas infelizmente não conheci o xadrez naquela época. O xadrez
chegou a minha vida no final de 2015, meio sem querer. Um amigo meu entediado
resolveu pegar o xadrez da escola e me convidou para uma partida. Lembro que
aprendi os movimentos de 2 ou 3 peças em Curitiba, no computador. Ele me venceu
com facilidade, éramos dois capivaras jogando no meio de uma aula vaga, mas ele
sabia mais do que eu. Até que surgiram espectadores. E eu perdi todas. E ele
saiu como o “gênio”. Até que aquilo ficou no meu subconsciente e resolvi ver
algumas partidas ao chegar em casa. Quando fui ver, EU ESTAVA VICIADO no
xadrez. E fui gravando jogadas... Até que eu o venci, e como ele era supercompetitivo,
começou a estudar também. E quando a gente foi ver, estávamos em um ótimo nível
de xadrez.
"Quando escuto alguém dizendo que o Romantismo morreu.. xdd #Chess #agressivo" |
2 – Como consistiu seu treinamento para
chegar forte no estadual? (lógico, sem dar detalhes chaves que possam lhe
comprometer com seus adversários mais assíduos). Haviam exercícios físicos?
Treinador ou parceiro de treino? Livros? Vídeos? Exercícios táticos e pura
jogatina de horas?
Fischer: Referencial de gerações, e imortal aos 13 anos! |
Quais livros já leu recomendaria? (E
é um bom ponto de vista o treino sozinho, já tive ilusão de treinar por
pessoas, e acabou não tendo muito progresso.)
Confesso
que não li muitos, mas gosto muito dos livros: Gigantes do xadrez agressivo; Minhas
60 Melhores Partidas (Bobby Fischer);The
Life and Games of Mikhail Tal (Tal) e é claro os livros de Nimzowitsch.
3 – Quais jogadores brasileiros lhe
inspiraram a melhorar? Além é claro dos demais jogadores da história do xadrez?
Ouve algo em especial sobre algum que lhe fez entrar mais de cabeça no xadrez?
E, entretanto, há jogadores que não tenha gostado, seja pelo “estilo” que eles
tinham, ou mesmo personalidade?
Eu cresci
dentro do xadrez mais vendo vídeos e pesquisando do que com o treinamento
propriamente dito. Sempre adorei saber a história de cada jogador, sempre quis
saber o que se passava na mente de cada um. Há muitos jogadores talentosos no
país, mas nunca tive nenhum jogador que me chamava atenção aqui no Brasil. Estudei todas as eras do xadrez. Mas, em
particular, a Era Romântica é minha
favorita! O estilo agressivo e sem cuidado é algo que me fez se apaixonar pelo
xadrez desesperadamente. Quando li sobre Paul Morphy eu não parava de imaginar
como seria o cotidiano dele... Enfim, eu venero os jogadores de ataque no
xadrez, seja ele bom ou ruim. Gosto de
enxadristas sem medo, sem apego as peças, aquele que bota tudo a perder. Não há
nenhum jogador que eu não goste e nem estilo.
Paul Morphy! |
4- Há planos para buscar titulações chegando
a ser GM? Na sua visão, porque temos tão poucos GMs no Brasil? Há chances de uma termos o xadrez na escola de forma
tão presente quanto o futebol?
Há 2
certezas na vida: A morte e que me tornarei GM! Infelizmente o xadrez é muito
mal valorizado no Brasil, as pessoas crescem com a mentalidade que é jogo de
velho, ou monótono demais. É por isso que temos poucos GMs, porque há poucos
jogadores. Infelizmente, acho que o xadrez nunca será devidamente valorizado no
país.
5- O que recomendaria aos leitores e
jogadores (incluindo a mim) para ultrapassarem em 2 anos a barreira dos 2000 de
rating e entrarem para o top das
federações estaduais onde jogam?
Responderei
com um pouco de analogia. Eu vejo o xadrez como uma mulher de beleza
adormecida. Uma mulher que se deixou levar pelo tempo por não ser devidamente
valorizada. Uma mulher difícil de compreender. Uma mulher que as vezes é calma
e outras vezes uma fera. Uma mulher que se amada e valorizada corretamente, aos
poucos se torna a mulher mais linda do mundo. Você passará a compreendê-la, a
admirá-la e entenderá todos os seus problemas. Irá resolvê-los juntos e mesmo
que pareça impossível, lembre-se: Com amor tudo se torna possível! Portanto, se
você amar o xadrez com todo o seu coração e valoriza-lo devidamente... Logo,
logo serás um forte jogador! Esse é a peça chave para ser o bom jogador. Nunca
se esqueça do xadrez e não o deixe de lado. Tire alguns minutos do seu dia para
jogar ou ler se quiser ser um bom jogador, mas se quiser ser o melhor: Viva-o.
Sua declaração é parecida com uma frase do
Fine, "Uma partida de Xadrez se assemelha a uma mulher: cada qual a superestima
ou menospreza, mas ninguém é capaz de julgá-la fria e objetivamente." Muito
obrigado pelo seu tempo, espero que possamos jogar em breve, além de tê-lo aqui
no blog escrevendo quando puder sobre o xadrez.
E ai? Gostou? Odiou? Deixe nos comentários e compartilhe o post.
Até o próximo.
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