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Um exemplo de expansão crescente
Pouco tempo depois
do centenário do primeiro vôo dos irmãos Wright em Kitty Hawk, Carolina do
Norte, em abril em 2004, dei uma palestra denominada “Atingindo seu potencial”,
para uma platéia de executivos, em Interlaken, resort na região dos Alpes
suíços. Como exemplo ilustrativo do perigo da falta de visão estratégica,
escolhi os irmãos Wright e sua famosa invenção. Centenas de engenheiros
morreram tentando inventar uma máquina voadora, e Orville e Wilbur serão
lembrados pela posteridade.
Apesar disso, eles
nunca acreditaram que o avião significaria muito mais que uma novidade e um
esporte. Essa ideia era compartilhada pela comunidade científica americana, uma
ideia que logo deixou os Estados Unidos bem para atrás no setor de aviação. Os
irmãos Wright não previram o potencial de sua criação, e foram outros que
exploraram a capacidade de vôo para fins comerciais e militares. A esse relato
de advertência, acrescentei um final, salientando que hoje não voamos nas
aeronaves dos Wright. Os Estados Unidos precisavam de alguém que combinasse
visão de profissionais empreendedores e talento de engenharia, e esse homem era
William Boeing. O nome conhecido recebeu um sorriso de aprovação da platéia,
mas depois descobri que esse exemplo era mais esclarecedor do que eu havia
imaginado. Mais do que apenas um estrategista, Boeing era também um tático
criativo.
Em 1910, a revista Scientic American escreveu que declarar
que o avião poderia revolucionar o mundo “é ser responsável pelo mais delirante
dos exageros”. Na época, William Boeing nem sabia pilotar e morava em Seattle,
Washington, longe da Costa Leste, onde era realizada a maior parte da pesquisa
aeronáutica. Boeing, que abandonou a faculdade de engenharia em Yale, não possuía
o conhecimento técnico dos irmãos Wright. O que ele tinha era uma visão do
potencial da aviação e a capacidade de elaborar uma estratégia para alcançá-lo.
Boeing percebeu o
potencial antes do mercado, e entendeu que a excelência tecnológica era a base
necessária para uma empresa nessa área. Para executar sua ideia de empresa de
aviação comercial bem-sucedida, vários obstáculos técnicos tiveram que ser
superados. Ele apostou as economias de uma vida inteira em que a tecnologia
alcançaria sua visão antes que ele fosse à falência. Ele não ficou esperando
isso acontecer. Estratégia: melhor tecnologia. Tática: mandou construir um
túnel de vento em uma universidade local, para produzir os engenheiros que
precisava.
Em 1917, as forças
armadas dos Estados Unidos estavam se armando para entrar na Primeira Guerra
Mundial. Elas precisavam de aviões, e Boeing tinha um novo projeto que achava
que elas poderiam usar. O problema era que a Marinha estava testando novos
aviões na Flórida, a 4.800km de distância, muito longe para vôo dos pequenos
aviões. Boeing sabia que essa era a oportunidade decisiva e mandou desmontar os
aviões, encaixotá-los como se fosse pizzas e enviá-los de um lado a outro do
país, uma brilhante manobra tática.
Esse modesto
sucesso permitiu que Boeing prosseguisse durante mais alguns anos, período em
que sua claudicante fábrica de aviões também produziu barcos e – acredite se
quiser – móveis. Ele continuou contratando os engenheiros mais talentosos e
investindo em pesquisa. Quando os despachos postais e o transporte de
passageiros, mais o vôo sensacional de Charles Lindberg de Nova York a Paris,
provocaram um verdadeiro boom, Boeing
e sua tecnologia superior estavam preparados e esperando para dominar o setor.
Mais tarde, naquele
mesmo ano, fiz palestras em dois encontros de executivos no Brasil, e pude
acrescentar outro capítulo nessa história. O Brasil tem seu próprio “pai da
aviação”, o inventor Alberto Santos-Dumont, que já voava em público, antes dos
irmãos Wright, com uma aeronave do tipo mais-pesado-que-o-ar. Suas proezas
ousadas e personalidade extravagante o tornaram, talvez, a pessoa mais famosa
no ano de 1900, embora hoje esteja quase esquecido na maior parte do mundo.
Para o público brasileiro, o nome esvaecido de seu herói Santos-Dumont forneceu
uma comparação ideal com a celebridade Boeing. Além do sonho utópico de paz
mundial gerado pelo transporte global, Santos-Dumont tinha pouco interesse nas
implicações de suas invenções. Ele ficou horrorizado com o uso dos aviões em
tempos de guerra, o que, supostamente, teria contribuído para seu suicídio em
1932.
Se a estratégia
representa os fins, as táticas são os meios. Boeing empregou inúmeras táticas e
manobras inteligentes a serviço de seu plano de longo prazo. Quando temos um
conjunto bem definido de metas e objetivos intermediários, podemos avaliar
táticas e combinações potenciais em relação a eles. Quanto mais fizermos isso,
mais fácil se tornará; nossas memórias estratégicas ficam incorporadas em nosso
pensamento tático. Nossas reações serão mais rápidas e, ao mesmo tempo, mais
precisas, e velocidade é sempre vital.
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Até o próximo.
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