O VALOR DA BATALHA!


Sábado foi um dia diferente para mim (19/11). Geralmente minha vida, para o “espectador comum” é uma das coisas mais chatas. Eu raramente vou em alguma festa, cinema, ou qualquer outra “diversão”. Me livrei de ter celular há dois anos, e sei lá há quanto tempo não vejo meus amigos mais próximos, acho que a última vez foi na sessão de Cap. 3, em maio. Há três anos, eu nem mesmo comemoro o meu aniversário. Disse a mim mesmo, que só vou comemorar, quando eu vencer verdadeiramente em algo. E assim seguem os dias, sempre buscando um novo problema treta para resolver e tentar se sentir minimamente útil no final do dia, através de pequenas conquistas, como ser pontual, ou disciplinado com algumas atividades que me doutrino.

Como eu disse aqui, eu tive já grandes problemas com inveja, isso me atrasou por pelo menos meus primeiros 17 anos de vida. E sábado agora, pude me provar duas coisas: Posso perder, mas conseguir vencer meus medos, e posso sentir a mais pura felicidade momentânea e orgulho por ter colaborado para algo que deu certo para alguém que eu goste muito. Estou falando sobre um torneio aberto de xadrez, que fui na minha cidade. Foram comigo, cinco “crianças” que treinam comigo quase todos os dias. São um rapaz de 11, três rapazes de 13, e uma moça de 13 também. E o torneio foi mais longo do que eu esperava, acabei quase sem somar 2+2 de tanto que me cansei, como eu não me cansava há muito tempo.
A competição começou as 14, em um ritmo de jogo de 20 minutos para cada, por 6 rodadas. Eu tentei chegar já com a mente bem “vazia” para aguentar o tranco. Mas esses meninos eram elétricos! Ficavam disputando entre si antes de começar as batalhas, e disputam entre os intervalos delas! E eu mal conseguia aguentar cada uma.
Meu primeiro jogo, foi contra um veterano que eu respeito muito. Ele deve estar próximo aos seus 60, mas é ainda um excelente jogador. Tenho 22, e desde dos 17 eu tento derrotar ele, já entrei com certo receio. De peças pretas, pressionei ele bastante, e assumi boa parte da iniciativa do jogo, tanto que uma Torre dele ficou trancada até quase o final da partida. O Rei dele perdeu o roque, e continuei torturando (ao preço de um enorme dor de cabeça que estava começando ali, pelo meu excesso de cálculos já no primeiro jogo). Em dado ponto, eu tinha um peão passado, há três casas de promoção. Mas o que aconteceu? Eu compliquei demais a partida, e na hora de simplificar, não quis, temendo dar vantagem técnica a ele. Ele virou o jogo, e a derrota já me abalou ali.


Sabe no Pawn Sacrifice, quando o Bobby ainda criança perde o jogo e ficam as jogadas vindo em flashback preto e branco o tempo todo na mente? Foi a mesma coisa. Os meninos tinham perdido também. O começo não foi promissor. Ainda joguei um amistoso com um dos meninos, e ele ganhou fácil de mim. Eu realmente tinha saído do eixo já no primeiro round.

Tomei um ar. E refleti por uns 6 minutos. Lavei o rosto. Hora do segundo round. Meu oponente fez um jogo bem posicional contra mim, me privando de várias casas, e eu, tentando fazer o mesmo contra ele. Eis que ele vem sufocar meu roque menor com um ataque concentrado por peões, Cavalo, Torre e Dama. O que eu faço? Sacrifico uma Torre por um Cavalo dele, e um peão que ele tava querendo passar. Assim meu Rei consegue espaço para fugir, e trago ele para o meio do campo. Meu Bispo agora, graças a esse peão eliminado, conseguiria recuperar alcance. Uso a outra torre para invadir pelo outro flanco, e vou com tudo num contra ataque. Ele tenta voltar suas forças para o centro, mas espere, mesmo no centro, meu Rei agora está segurado! E o Rei dele, bem no cantinho, em h1, me parece um tanto assustado! Ele dá xeque com a Dama no meu Rei, e defendo recuando meu Bispo, para uma estrutura de peões centrais, ao tempo que esse Bispo que veio em defesa do meu Rei, está dando xeque nele! E ele não viu! Mexeu em sua Torre para querer trocar pela minha. JOGADA IRREGULAR. O cara na hora, deu pra ver pelo rosto dele, que quase deu uma porrada na mesa, depois ele se recompôs, e apertou minha mão. A confiança foi recuperada. Após ter agüentado todos os golpes e incursões, eu ainda estava de pé.

Teste 1: Ache o Ozymandias Realista na foto.

No terceiro jogo, eu enfrentei uma moça, que tinha chamas nos olhos, e um ataque incessante. Por descuido, em menos de dez lances, perdi minha Torre por um xeque-duplo de Cavalo. Truque corriqueiro, que eu deixei entrar sem atenção. Fui recuperando espaço, e depois eliminei a Torre dela. Igualdade. Ela o tempo todo preparando armadilhas, e com Dama e Bispo tentando entrar no flanco do Rei. Fui segurando, segurando, e ficamos com 6 peões, uma Dama para cada, Uma Torre para cada, eu com um Cavalo, e ela com um Bispo. Fui eliminando estrategicamente três peões dela e explorando o terreno de longe com a minha Dama, enquanto peões, Cavalo e Torre defendiam o Rei. Fui matando pelo cansaço, até que ela se precipitou atacando, levou um golpe tático e tchau Dama, Bispo e Torre. Xeque-Mate.
Teste 2: Segunda chance pra achar o Ozymandias...


Consegui, nas partidas seguintes, ganhar mais uma partida, e perder mais duas. Marquei 3 em 6, e fiquei em 15º entre 31 jogadores. E ai já eram quase 18 horas. Tava acabado, tinha ido com toda a força, jogando as partidas até o fim, causando o máximo de incômodo. Foram anunciados os vencedores, e que haveria mais um torneio logo após, agora com nove rodadas de Blitz. Eu já estava pensando em desistir, quando vi dois que vieram comigo ganharem medalhas. Um de sub-11 e o outro sub-14.
Acho que foi um dos melhores momentos do meu ano. Uma sensação de vitória, em ver que aqueles meninos tinham evoluído a ponto de jogar um aberto contra pessoas de todas as idades, e ainda ganharem premiações pela idade deles. Vamos pro Blitz!

Nesse eu fiz 4/9, mas joguei muito, muito mal. Já tava esgotado, tava no puro instinto. A partida 8 eu nem lembro o que joguei, só que entreguei a Dama sem nem saber pra onde ela tava indo, e na 9 eu quase consegui um empate, mas não quis nem raciocinar e entreguei logo. Dessa vez, a moça que foi com a gente ganhou a medalha de melhor feminino – vencendo a outra moça que quase tinha ganho de mim -, outro que veio com a gente, conseguiu a medalha do sub-14, e o mesmo que tinha ganho a do sub-11, ganhou mais uma vez. 6 horas e meia de competição depois, e quatro dos cinco que foram no nosso “team” ganharam medalhas. Nessa segunda eu fiquei em 18º de 29, e o que ganhou a medalha de sub-14, acabou até ficando em 16º. Eu novamente perdi bastante, mas ganhei mais do que das outras vezes, e o mais importante, apesar de sentir que eu ainda não joguei na minha carga máxima, eu consegui jogar com parte dela, e quase todos que ganharam de mim, tiveram que fazer a cabeça doer também...


Xadrez Rápido: 15º/ 31º, com 3/6.

Xadrez Blitz: 18 / 29, com 4/9.

Dor de cabeça: 7/10.


Motivação: 8/10.


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