Iria
lançar esse emaranhado há duas semanas atrás. Porém tava sem pique, e estava
escrevendo de forma lenta. Ai resolvi dar cabo tudo em uma madrugada. Isso aqui
não é uma crítica analítica como fez o Sr. W sobre a animação da Piada Mortal,
mas como achei interessante a estrutura do texto dele, e se tratando de uma
série de 13 episódios envolvendo longas horas de projeção, fico adepto por
enquanto do modelo de tópicos. Segue abaixo meus 2 centavos sobre essa série.
Mas leia sabendo que são 2 centavos de verdade, e não redondos e úteis 5 ou 10
que compram Big-bigs.
1.
INTRODUÇÃO:
1.1 O QUADRINHO
Minha
leitura de Cage, excetuando algumas participações rápidas dele na revista
antiga do Hulk (contratado para prender Hulk) ou nos quadrinhos do Justiceiro
(quem é das antigas vai lembrar do Frank Castle ficando negro para se
disfarçar, e sendo sócio do Cage por um tempo nas ruas), foi em Novos
Vingadores. E por mais que existam saudosistas de uniforme com tiara, e ele com
Black Power, foi a versão dele mais... que ficou. Luke tem consciência social,
é malandrão das ruas, porém de bom coração, e não se conecta com a maioria dos
supers aclamados pelo grande público como Quarteto-Fantástico ou Vingadores. É
pertencente a classe dos urbanos marginalizados mesmo, tal qual o Aranha e o
Demolidor. Nem mesmo sua mudada de lema nos negócios ao parar de “receber para
proteger” mudou tanto a sua essência.
1.2 PROPOSTA DOS TRAILERS
De acordo com os trailers,
Luke seria um recluso, de passado a se descobrir. Tranquilão, “na dele”, sem
roupas chamativas ou frases de efeitos, só um bom cidadão injustiçado como
vários em áreas pobres, que não quer se diferente dos demais, embora chegue uma
hora que algo o pressionaria a “sair da moita” e “tomar partido”, ou seja, ir
lá e resolver tudo na porrada e pronto, ao som de muito hip-hop e um passeio
turístico pelo Harlem e a “Black Culture” para as massas. Foi isso que
aconteceu, produção?
-- Bem, até certo ponto,
Silvio. – Eterno Lombardi responde.
1.3 A PROPOSTA INICIAL DA SÉRIE
Harlem e nossos heróis? Os
trailers já prometiam. O “compartilhamento cultural” me atraiu bastante, e o
tive em boas doses... infelizmente só nos três primeiros episódios da série. Do
quarto em diante, pegaram um caminho bem diferente do que eu esperava. Foi uma
“regressão” para se contar a origem do personagem, mas acredito que levaram o
conceito de “regressão” muito a sério, deixando com um ritmo no episódio #4 bem
similar ao da Jéssica Jones. Se eu não tiver sido claro, isso não foi um
elogio.
Tirando um flerte meio que
perdido, mas que acabou funcionando entre a Misty e o Luke, a série monta suas
bases muito bem nesses três episódios, sabemos já “quem é quem”, que há todo um
contexto maior que o Cage traduzido pela excelente sacada “Você pode ser invulnerável,
mas o Harlém não”, não consegue-se fazer uma comunidade tão crível como na
série do Demolidor (e numa série como a do Luke, onde foi tão prometido tanta
“personalização”, isso seria o obvio), mas funciona melhor que os coadjuvantes
de Jéssica Jones –sempre ela- por exemplo. Ao menos nesse começo de série, a
persona de Luke tem seu devido tempo de tela, mas não sufoca todo o resto, há
mais do que ele, e sendo direto, personagens melhores escritos, como “Boca de
Algodão”.
1.4 TRILHA SONORA E AMBIENTAÇÃO
As duas melhores canções da
série aparecem nos trailers, mas não na série. Pronto, falei. Isso não destrói
claramente toda a , só deixa um espaço vazio, um injusto espaço, ainda mais na
cena da “invasão de QG” onde não toca Shimmy Shimmy Ya. É semelhante a
sensação de ta faltando algo com a cena em que Tony Stark se liberta do
cativeiro em Homem de Ferro 1 e não toca “Ironman – Black Sabbath” como havia
tocado NOS TRAILERS. Lembra de toda a parada da “cidade ser um personagem” aos
moldes do citado “Demolidor” ou mesmo a trilogia do Batman? Como eu consigo
explicar isso... Bem, a cidade está lá, mas ao mesmo tempo não está. Temos as
boates, a música soul, “quase ninguém
caucasiano no elenco”, mas em dado momento, as gangues, a diversidade, não
recebe o devido espaço, ficando um excesso de projeção em cima do Luke Cage e
sua “motivadora enfermeira” vai Luke, Just do it e o Kid Cascavel, cuja
origem, métodos, e motivações, conseguem serem pior que seu próprio nome. Quer
dizer, acho que o “uniforme” dele ainda supera tudo isso. Ficando a parte mais
humana e representativa do bairro mesmo, com a personagem detetive Misty.
Quem precisa de Mary Jane ou Lois Lane? |
1.5 O CAMINHO DO HERÓI E SEU ANTAGONISMO
Com donos de barbearias
ex-criminoso e de bom coração, vem barbearia e... Um bairro de herança? Ok. Até
a parte de botar o terninho e virar o zelador do bairro eu estava entendendo.
As cenas com o Boca de Algodão eram sensacionais, credito mais ao esforço do
ator Mahershala Ali, que verdade seja dita, esmaga em atuação Mike Colter. Não que
Mike seja ruim, é até um ator esforçado, mas Ali é o tipo de cara que realmente
convence. E quando exposto suas escolhas arbitrárias e seu sonho perdido, o
personagem fica ainda melhor. Embora na visão dos roteiristas, não digno de
continuar, o que no meu ver, foi o PRINCIPAL ERRO de toda a série.
Eu tenho aqui um aqui dezenas de cartas de fãs que queriam o "Pai do Chris" como Luke Cage. |
Sua prima é tão boa quanto,
mas sem Boca de Algodão, a vejo de certa forma incompleta, por mais que dentro
do contexto a “ascensão” dela deva-se ao “fim de arco” do primo. E claro, há o
Shades. Até a parceira do blog AQUI não gostou dele, mas confesso que gostei
dele no que ele se propõe ser. Desde que apareceu, vi que ele é o tipo de
“rato” que sobrevive até a uma explosão nuclear. O tipo de covarde que consegue
se esconder e ir comendo pelas beiradas até se tornar um vilão principal, e
nisso ele cumpre. A canastríce do “tira óculos – bota óculos” é bem proposital,
já para mostrar o quanto ele é o típico “patético que paga de fodão”, e não se
enganem, há um Shades em cada esquina, o último Shades notório no nosso Brasil foi um que assumiu provisoriamente a
Câmara dos Deputados antes do Cunha sair. “Entendedores entenderão”.
2.
MEIO DO JOGO, E AI?
"Quem tu chamou de pagodeiro fiadumaputa?" |
E
ai que passada a bala no couro onde ela não devia passar, passa-se também um
ciclo da série. O que era uma coisa bem coletiva, centra-se de modo enfadonho
no Cage e mais de sua... He He... Origem. Ai o Cage manda seus mantras como
“não sou um herói”, “Não pedi por isso”, “ela ainda estaria viva”, “acho que
sei quem está por de trás disso”... E claro, vem a tona a história do pai dele,
um revendo safadão. Agora uma sugestão amiga: Não seria bem melhor para
narrativa, que a história fosse realmente contada como foi a do Boca de
Algodão? Novamente pego a série do Demolidor. Ela faz uma construção brilhante
do Wilson Fisk, de igual com a de Matt Murdock, e não obstante, dedica um
episódio inteiro para explicar o enraizamento de suas pretensões que eram
puramente ligadas ao próprio pai, como também é o caso aqui. Não a toa, um
psicólogo que conheço assim que terminou de assistir Demolidor disse “essa
série é psicanálise pura”. Aqui nem mesmo o catalisador de tudo, que é o
“reverendo safadão” tem uma perspectiva bem exposta. Foi um recurso dos
roteiristas para referi-lo como “pai autoritário e ausente”, mas tão ausente,
que sua presença se tornou vaga. E o telespectador pode ter feito pausas para
assistir outras coisas ou mesmo ter desistido logo ai.
2.1 AS COISAS NÃO SÃO O QUE PARECEM?
"Como assim você não assiste o pastor Silas Malafaia?!!!" |
Pois
é, possivelmente o personagem mais interessante da série, é cortado no meio do
caminho, em pró do crescimento de outros. E esses outros, acabam sendo cortados
em determinado ponto, em pró de Kid Cascavel, que não satisfeito, ainda tenta
ofucar o resto das gangues com sua presença. “Tenta” é a palavra certa, porque
não há peso no personagem, não há fascínio que o interligue para que ele seja
aclamado por quem assiste como “dono do lugar”. Em Jéssica Jones, cujo só
agüentei ir até o episódio #03, há
uma cena em que Killgrave entra em
uma casa, fazendo as pessoas “o convidarem a entrar”. Bastou aquela cena para
convencer da gravidade do cara. UMA CENA. Kid Cascável com todas as “matanças”
e leituras de sua bíblia passa mais a ideia de algum vilão secundário de algum
fanzine que eu não lembro o nome, do que o real antagonista. PQP.
"Bons tempos aquele arco "Blecaute" dos Novos Vingadores, hein, Luke?" |
3.3
REMAKE DE ROCKY V, Não adianta esconder, Luke
E agora, mestre e alunos
desiludidos um contra o outro, digladiam-se em frente a toda a vizinhança. Com
um deles, é claro, a principio se contendo para não machucar o outro. Golpes de
boxe e gritaria nas ruas. O nome do nosso herói sendo gritado, onde eu vi isso?
Ah sim... ROCKY V!!! Tive que acelerar a fita. Considere todo esse enorme traço
acima como quando acelerávamos o VHS. Parabéns a todos nós que chegamos até
aqui e gastamos o tempo de projeção de uns seis filmes. Lembrando que há
guerreiros mais fortes que a gente, que encaram de frente coisas como Arrow e
Agents of Shild há mais de 4 anos.
Se apontar qualquer semelhança, será chamado de hater. Depois não diga que eu não avisei. |
3.4 FUGA DO FINAL FELIZ?
Já
tava com a caneta
vermelha na mão para dar a nota após o “momento Rocky V” (e olha que ao contrário de 99% dos fãs de Rocky,
eu gosto de Rocky V), quando vi que ao menos toda a série não foi empacotada em
um final “sessão da tarde”. Certo, não foi um final do tipo “Vamos caçá-lo, porque ele agüenta, já que
ele é um guardião noturno silencioso, um Cavaleiro das--...”, mas foi
interessante, ainda mais pela fechada de ciclo dos demais personagens, ainda
mais dos vilões. Deu um ar mais real de como as coisas funcionam com as lacunas
de poder. Eu sei, posso ter sido bem implicante com a série, mas o faço porque
ela tinha potencial de ser mais, bem mais. Os trailers prometiam que ela seria
a melhor série de todas, e os realizadores prometiam um estilo bem diferente
nela, ou seja, veríamos um material ainda mais autoral, divergindo e muito dos
clichês do gênero. Faltou a ginga do
Brian Azzarello aqui. Fosse como quando ele escreveu uma mini pro CAGE, ou do seu famoso 100
Balas. Faltou um clima como nesse quadrinho pra série, uma atmosfera mais
bruta, marginal, informal, sem tanta definição de “herói e vilão” e sim vítimas
e sobreviventes. Para os “realizadores” que disseram em entrevistas que um dos
filmes preferidos deles era o nosso “Cidade de Deus”, acho que eles se seguraram
bastante, e disfarçando, entraram muito na formula.
Nota: 6.3
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