JACKED


Para onde vão as aspirações quando os heróis de infância não me lhe trazem nenhum otimismo? Acrescentando a chegada desanimadora da meia-idade, sabendo que todos os sonhos e pretensões não foram alcançados? Que você é um sujeito “comum”, e não haverá “reboot” na sua vida? Essa é uma das várias questões que o estreante Eric Kripke (?) autor aborda nesse quadrinho simpático e despretensioso, com a arte ultra-detalhista de John H., esse um veterano na Vertigo, tendo ilustrado as primeiras edições de Hellblazer, só para citar. Parece que em tudo eu cito Hellblazer agora.

Vamos ao coroa padrão decadente do século XXI: Um desempregado, sem ser respeitado por seus filhos, com ejaculação precoce, insatisfação sexual, falta de voz para resolver as banalidades do dia a dia, refém da televisão, do ócio e da pornografia. Barriguinha saliente do excesso de cerveja e calvície preponderante. E "voa lá", temos aqui um ótimo espécime de protagonista para prender a atenção do leitor, que convenhamos, busca na leitura uma degradação básica, para ver como o “mocinho” vai sair dela. Um filme como “Beleza Americana” tem um começo similar, ou mesmo o fenômeno de audiência “Breaking Bad”, apesar de não ser tão firme como esses exemplos, Jacked consegue manter a atenção, e me foi uma leitura bem fluída. O diferencial aqui, é “o coroa” ter acesso a pílulas que lhe ativem “superpoderes” momentâneos, que enquanto ativados, o fazem ter contato com aspirações da sua vida que deixou passar, ou seja, as fantasias heroicas de que iremos mudar o mundo, nutridas entre a infância e adolescência, que são esmagadas pela descrença e cinismo da vida adulta. As pílulas também lhe fornecem viagens de LSD que flertam com fantasias mal resolvidas, como a de todo garoto que já sonhou em... Hmmm... Ter contatos mais íntimos com algumas de suas professoras da escola.

Ao contraste de uma odisseia que seres que adquirem poderes conseguem de brinde, nosso herói aqui acaba ganhando um problema bem “comum” com um de seus vizinhos, que conforme se intensifica, faz ele ver quais são “os grandes poderes e grandes responsabilidades” do mundo real, além de quão frágil e torpe pode ser a existência de seus “inimigos”. Lido como mais um quadrinho de super-herói, sua leitura será frustrante, porém lida – como no meu caso – as entrelinhas, é fácil gostar de ver o quanto esse autor consegue zombar de todos os pontos cruciais de muitos filmes que vemos por ai com formula pronta aos moldes de: Ganha poderes > Encontra um vilão com poderes > O Vilão o derrota e leva seus entes queridos > O herói busca sua forra e o resgate dos inocentes > Detém o vilão e fecha esse valioso arco para sua jornada.

Agora decadente mesmo, embora ainda coeso, são as capas do Glen Fabry. Claro que ele não começou a desenhar tudo errado, mas falta “magia” nos trabalhos dele como capista de uns anos para cá. Até mesmo demorei para reconhecer que as capas eram trabalhos seus. Esse cara já foi um dos melhores, se não o melhor, capista dos anos 90. Seus trabalhos em Hellblazer e Preacher são insuperáveis.



Nota: 6.7


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