O que ninguém está falando sobre Metal Gear Solid V


Esse post será pesado e cheio de spoilers. Desde o lançamento de Metal Gear Solid 4: Guns of the Patriots, Hideo Kojima e sua equipe na Konami vinham trabalhando na tecnologia Fox Engine, que permitia trazer aquele nível de gráfico em um game tão grande que apesar do tamanho ainda poderia ser portado para várias plataformas (MGS4 só podia rodar em um PlayStation 3 mesmo). O resultado é impressionante, há três cenários inacreditavelmente gigantescos, mais a área do Ground Zeroes, que foi lançada separadamente. Há uma infinidade chocante de possibilidades de ação, técnicas, estratégias, customizações, só Deus sabe o quê mais. Eu não vou ficar falando sobre isso tudo porque já estão falando em todo lugar. Eu vou falar sobre o chocante fato do jogo ter sido em muitos pontos horrível.


Além de terem mudado os dubladores clássicos como David Hayter, deu para notar logo em Ground Zeroes a falta daquela animação cartunesca e diálogos carregados nas cutscenes que marcavam a série. Em Phantom Pain isso não muda ou melhora. Mas até então estamos todos prontos para Hideo Kojima nos surpreender com o seu imenso talento para narrativa imersiva. Mesmo que seja de uma forma diferente. Bem... é difícil, eu não sei por onde começar, mas eles desapontaram em diversos pontos. Vamos voltar pra antes de Metal Gear Solid V então, antes mesmo de eu começar a escrever resenhas na Internet... Vamos voltar para...


Dá pra eu falar desse jogo tranquilamente porque tenho uma memória bestial. Já faz tempo, 7 anos, o hype passou, mas lembro muito bem como ele foi um marco inesquecível. Guns of the Patriots teve trailers e demonstrações de gameplay por anos desde quando foi anunciado, mas diferente de... Final Fantasy Versus XIII e The Last Guardian... ele realmente foi lançado e era inacreditável como além da grande qualidade da ação e do stealth, os caras conseguiram conectar um monte de personagens e acontecimentos do enredo que por 20 anos se estendeu em um período fictício de 50 anos (1964-2014). Foi único, a série havia sido fechada com uma chave de ouro insuperável. Mas nesse período fictício de 50 anos havia muita coisa que ainda podia ser contada sobre outros personagens como Raiden e Big Boss. Assim sendo, não demorou para anunciarem Rising e Peace Walker. Mas então... MGS 4 era um jogo praticamente perfeito, mas me lembro de uma coisa ou outra que seu designer disse não ter gostado em entrevistas da época.

-O game acabou tendo muito vídeos, parecendo um tipo de filme enorme com algumas partes que você joga (no próprio 4 e em PW é possível notar a possibilidade de interações meio que desnecessárias durante as cenas).
-Ele queria que houvessem interações com o tempo, coisas como cair água em um lugar, e ao passar de muitas horas uma planta ter se desenvolvido a partir da semente que foi molhada. Em Phantom Pain há fortes influências da passagem de tempo.
-O jogo mesmo sendo olímpico não ficou tão popular por causa da exclusividade com o PlayStation 3. Assim sendo, a Fox Engine passou a ser desenvolvida para que o próximo pudesse sair pra várias plataformas. O novo saiu pra nova geração e até para o Xbox 360, que antes não suportava Guns of the Patriots.

Ou seja, dá pra notar diversos concertos que ele aplicou na sua fórmula de sucesso. O problema é que isso veio acompanhado de um monte de problemas. Grande parte do respeito à série vem da consideração que ela tem com os fãs, sempre ouvindo aos seus pedidos e reclamações, isso pode ser identificado infinitamente por todo o percurso da saga. O foda é que agora com o quinto game eles deram uma série de tiros no pé. Cara... acho que não sobrou pé nenhum.


Primeiro que já tão falando há 500 anos... A voz do Kiefer Sutherland não compensa a saída de Hayter. Mas por alguma razão isso se expandiu a todos os personagens e na verdade... o Snake praticamente não fala! E ele é o protagonista do game! Mas a equipe falou que a ideia era que o jogador se sentisse no lugar do protagonista como em Fallout, Half-Life, Zelda... Bem... PRIMEIRO TIRO NO PÉ! O Snake já é um personagem há muitos anos e dos mais marcantes. De repente ele é praticamente um mudo, chega a reencontrar personagens antigos que da última vez estavam tentando atirar nele e não solta um único comentário quanto a isso, chega a ser bizarro. Simplesmente ficou estranho, não trouxe uma nova experiência de narrativa recompensadora. Nã-não... Infelizmente não...


Pega aí muitos momentos que enriqueciam a série como personagens se reencontrando depois de décadas (muitas vezes nem imaginando que o outro estava vivo) e nesse Snake finalmente revê o Ocelot(Troy Baker) naquela sequência do hospital que já ficou famosa logo no trailer, mas comenta absolutamente nada sobre isso. Aliás, nenhum dos dois comenta. E olha que eles estão fugindo de um Volgin feito de fogo... Antagonista de Metal Gear Solid 3 que tava "mortinho da silva" como dizem.


Aquela introdução do hospital é extremamente longa, lenta e cansativa, além de mostrar nada que não dava pra ver no trailer. Foi tranquilamente a pior introdução da série. Ainda por cima me lembrou "The Evil Within", game de terror que eu não tive paciência de jogar mais de duas horas porque não fazia o mínimo sentido (gente, eu to ficando velho... mas meu irmão mais novo de 17 anos teve as mesmas reclamações que eu, então acho que isso não influenciou, hehe). Conforme o game se desenvolve há uma diversidade de missões secundárias, como em Peace Walker, afinal, agora é uma experiência de mundo aberto. Não falta o que fazer, afinal você tem todo um exército para criar e treinar do zero; com direito há animais ajudantes, recrutas, remédios, veículos... como eu já disse no início do texto, uma infinidade de coisas. Acontece que nas missões principais relacionadas ao desenvolvimento do enredo e os mistérios, há um certo desapontamento. Mas tudo bem, até aí você se contenta e imagina que deve vir mais depois. Bem... não vem.


Cara, é muito difícil escrever isso... E olha que vi o Omelete dizendo que era o melhor título da série. Em uma diversidade de pontos ele é o pior, principalmente nos que o avaliam como um fragmento dentro de uma série maior.

O fato de haver um "5" no título trás uma impressão de supra relevância, já que há títulos como "Rising", "Peace Walker" e "Portable Ops", que mesmo mostrando a jornada de personagens importantes da franquia não são colocados entre os títulos principais. Eis que Phantom Pain é anunciado como a ponte entre todos esses acontecimentos dos games que se passaram no séc. XX com os do séc. XXI. E não posso deixar de lembrar que tudo que rolou já havia sido contado!


No inesquecível último capítulo da saga toda a tramóia é explicada pelo menos 3x em longuíssimos vídeos, sempre por alguns dos personagens mais antigos que protagonizaram "Snake Eater", que se passava em 64. A mais marcante e surpreendente é Big Mama, a versão idosa da personagem EVA que cuida de um grupo rebelde na Europa onde ela recolhe vítimas perdidas da guerra. Ela explica pro seu filho Snake uma série de acontecimentos importantíssimos que jamais haviam sido vistos pelo protagonista, pois na real, nem durante o período que os jogos se passavam isso estava rolando. Nisso se inclui a manipulação de vários personagens, a criação dos "Patriots", o projeto de clonagem "Les Enfants Teribles", a criação da Fox-Hound e até uma guerra sombria entre Zero e Big Boss! Até então o jogador nem imaginava que os dois haviam se tornado inimigos!


Esperava-se naturalmente que um último jogo protagonizado pelo Big Boss mostraria todas essas coisas, inclusive os encontros com personagens como EVA, Ocelot e Gray Fox, que eram mencionados como próximos do protagonista mas só tinham se cruzado uma ou duas vezes na estória passada. Como eu já disse... os personagens quase não se falam (nem o Snake!) então isso passa longe de rolar. NADA! Não passa perto de haver cenas marcantes mostrando o rompimento dos Patriots ou a descoberta de que Liquid é um clone. Considere também que os únicos personagens (e elementos em geral...) do game já apareciam nos trailers. Ou seja...


Não tem Gray Fox.


E não tem nem EVA.

Realmente não tem, algo que era obrigatório, praticamente. Outros que haviam surgido em PW como Strangelove e Cécile também quase não dão as caras, apesar de nenhum deles deixar de ser mencionado, é de forma bem artificial. Me lembrou a forma quase obrigatória que algumas coisas aconteciam no último filme dos Vingadores, como a luta entre o Homem de Ferro e o Hulk. Leva em consideração que há personagens misteriosos que ninguém imaginava que estariam presentes como Psycho Mantis e Volgin. A PRESENÇA DELES MAL É COMENTADA!


Como poderia o Kojima não ter notado em tantos anos que qualquer referência, frase, ou sombrinha do mais insignificante personagem já faz todos os fãs da série pirarem com a possibilidade dele estar presente em um novo game??? É sempre assim, leva muitos anos entre um título e outro e os personagens insanos sempre marcam nas nossas recordações. Lembro que o pessoal sempre enlouquecia, podia ser o Master Miller em Peace Walker, um personagem que no game que mais aparecia no fim das contas era só o vilão que tava disfarçado dele (o cara mesmo tava morto) e já fica todo mundo na maior expectativa. O game inteiro o Mantis não solta um pio, faz nada de mais expressivo, é um terrível exemplo de fan-service. Ele era o vilão que lia a droga do seu memory card e com base nisso dizia se você curtia jogar FIFA ou Castlevania... como pode colocar ele criança pra ter uma participação inexpressiva(nem chega a falar)? Isso se estende até Revolver Ocelot, que sempre havia sido um dos personagens mais inteligentes e sacanas da série, de repente se você para pra pensar percebe que podia ser qualquer outro personagem no lugar dele. E isso... é assustador.

E é odioso também!
Ou seja, não há surpresas quanto aos personagens e os acontecimentos grandiosos que nós esperávamos jogar não rolam. O que é um Metal Gear com enredo ruim? Eu lhe digo: é o primeiro Metal Gear com enredo ruim. Uma das promessas era que o game seria essa ponte na trama... Balela, não é ponte porcaria nenhuma, simplesmente não é. Eles criaram outras problemáticas que até então possuíam relevância nenhuma e ignoraram temas que cativavam mais os fãs. O meu irmão mesmo falou que pra ele tava parecendo mais um spin-of do que um título principal. Veja que pesado. E pior que é verdade. A decepção não só continua como se concretiza ao final do game, que tem nada de definitivamente conclusivo. Você poderia até considerar Phantom Pain um anti-Guns of the Patriots (cara, meus dedos vão sangrar escrevendo isso). O vídeo abaixo é o final do jogo, e você pode assistir porque não vai vê-lo de qualquer jeito. Eu te explico no próximo parágrafo.


O jogo não foi terminado.

Sim.

Ele

não tem

um maldito

fim...................


O jogo não possui a cena final e nem um chefe final. E isso explica todo o mistério por trás da demissão do produtor Kojima. Entenda que o jogo é dividido entre capítulos "1" e "2". Quem divide um jogo em dois capítulos??? Com a quantidade de temas mal desenvolvidos e pontos abertos, acredita-se que um capítulo inteiro deixou de ser feito. E cara, o game além de difícil é muito longo. Apesar de ninguém ter afirmado isso com todas as palavras, o que ficou escarrado é que o game estava ficando tão poderoso que eles acabaram gastando dinheiro demais investindo nele e tiveram que parar bruscamente. Mesmo agora já tendo vendido mais de 3 milhões de cópias como seu antecessor, o prejuízo da Konami continua, levando a inevitável demissão de Kojima e o cancelamento de Silent Hills. Pois é... muito tenso.


Uma coisa é você ter a impressão que um jogo foi terminado com pressa por alguma razão. Por exemplo, "Batman: Arkham Asylum" deve ter sido terminado com pressa porque o jogo todo é sensacional, mas o último chefe e a última cutscene são uma bela de uma porcaria. Eu tenho a impressão que o primeiro "Kingdom Hearts" foi terminado com pressa porque aquele diálogozinho sem vergonha que ele tem com a Kairi antes dos créditos só pode ter sido enfiado em cima da hora. Além do último chefe ser bem simples prum jogo que era consideravelmente complicado. Agora outra coisa é você ter a impressão que faltam alguns PEDAÇÕES do jogo, e esse é o caso de Metal Gear Solid V: Phantom Pain.


O que sobra pra dizer? Nada muito bom. Não só é o pior título da franquia como nem sequer tem chance de ser um dos melhores. É muito bacana mesmo ver a influência que games mais populares como "Assassin's Creed" e Batman tiveram nas mecânicas da série que era consagrada, mas retirar certos elementos que traziam esse consagramento acabou sendo prejudicial. Me lembro muito mais de desapontamentos do que qualquer outra coisa. Phantom Pain não revoluciona, divide as águas ou marca os fãs da série. Não é querer condenar o produtor pela primeira vez que ele comete um erro desses. Não. O cara ainda fez toda uma série incrível, mas é inegável, dessa vez ele errou. Ainda por cima o game é MUITO DIFÍCIL e o final tem nada de recompensador. Lembra aquele papo de "homens se tornando demônios" que marcava alguns trailers? Então, parecia que a gente ia ver como caras como o protagonista Big Boss acabam se tornando ilimitadamente cruéis, algo que já tinha ficado meio previsto no final sombrio de Peace Walker em que ele já tinha sido traído por sei lá, até o amigo imaginário. Bem... adivinha? Nem essa "evolução" é mostrada. O produto foi vendido sob esse ponto de vista e nem tchum.


Agora... SPOILERS sobre o final do jogo, sobre o clímax, leia por sua própria conta e risco e blá blá blá.

Bem, o Big Boss não se torna um demônio embriagado de ódio, vingança e amargura. Por que? Porque o jogo todo você nããããããão controla o Big Boss... você na verdade é... um clone. Mas não é nem o Liquid, nem o Solid, nem o Solidus. É um... novo clone: Venom Snake. Por isso daquelas merdas todas de "V has come to". Não há nenhuma alusão à "V de Vingança" ou coisa do tipo. O game todo você controla um clone idêntico a ele que foi feito para protegê-lo. Legal, né? Não acho. Isso na real... já não funcionou antes. A pior coisa do Final Fantasy VII é essa crise de identidade que o protagonista sofria. O mesmo já rolou no próprio Metal Gear, aliás, no primeiro quando o protagonista Solid Snake descobria ser um clone de Big Boss. Em muito menos tempo e com pouquíssimos polígonos isso foi infinitamente melhor executado no PlayStation 1 em 1998. O mesmo tema foi bem esculhambado com o Raiden em Metal Gear Solid 2. Ou seja...

Sendo super longo e ficando cada vez mais complicado, Metal Gear Solid V acaba não tendo um final que recompensa tanto tempo e dificuldade. Acaba sendo melhor explorar outros títulos que saíram esse ano.

Pois é.

Loucura.

Acredite, esse post não é uma pegadinha :/

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