Até
os 16 anos, se comparado com hoje, pode-se dizer que eu vivia refém da inércia.
Qualquer obstáculo era assustador, tudo era uma desculpa para não tentar nada e
cada vez que o pouco que eu tentava dava errado, eu de imediato culpava vários
indivíduos, mapeando um efeito dominó que me levava a aquilo. Não só como na
vida, mas como no xadrez, eu vivia de respostas imediatas, boa parte impensada,
não havia muito planejamento, havia só ir, falhar e culpar.
Eu olhava de longe esse individuo
que estrela esse filme, na época a meu ver, apenas um descerebrado cheio de
músculos que fazia filmes de ação se nenhum conteúdo... Eu sempre ouvira falar
desses Rockys, mas como de costume, só aguardava filmes de porrada e pronto, o
que até seria legal, naquele tempo.
Resolvi colocar e logo vi a
história de um cara que realmente sofria
na vida, que era zoado por quase todos que conhecia, e vivia a vida de
maneira honrada e persistente. Que mesmo ficando no meio de fracassados, não
aceitava ser um como eles, que pegava todo o mal que o faziam como foco e
utilizava tudo em um objetivo firme
e inabalável, sem meio termo. Rocky não era o lutador mais forte, o mais
carismático, ou de melhor interação social (pelo menos no padrão cretino que
nossa sociedade por vezes prega), mas era o tipo de pessoa que aguentaria
qualquer dor mentalizando algo maior, e jamais
reclamaria por isso.
Assistir a esse filme foi levar
uma pancada firme nos meus conceitos,
uma pancada benéfica, instrutiva e necessária. Podemos enquadrar essa obra como
memorável, e felizmente, Rocky ainda é um daqueles filmes que como poucos
conseguem, envolveram qualidade e lucros estratosféricos aos envolvidos. (Na
época em que foi lançado, ultrapassou com facilidade lucros de 200%).
Na história acompanhamos um
pugilista sem muito rumo (Stallone),
fazendo pequenas lutas, e trabalhando para a máfia italiana como cobrador de dívidas,
mas sem realmente machucar ninguém, já que não teria coragem para isso, até
receber a grande chance de poder enfrentar o campeão mundial, Apolo Creed (Carl Weathers). Rocky foi o veiculo para Stallone contar
através de uma história o quanto nosso sucesso depende de sucessivo esforço em
coragem em cima do que realmente queremos, o quanto a vontade se torna a força
primordial do ser humano, independente do que ele passe. Rocky era um tipo de
individuo tão humilde, que quando o chamam para falar a respeito de algo sobre
o campeão, ele mesmo toma a frente dizendo que ficaria honrado em ser sparing
para este. Tão controlado, que ao tempo que o cunhado o provocava dando razões
para uma luta, ele socava carne, assim como inteligente em transformar qualquer
barreira em um tijolo para construção de algo, utilizando a partir daquele
momento as carnes como treino.
A arrogância (ou excesso de
confiança?) de Apolo Creed é um dos fatores que contribuem para o lento avanço
de Rocky sobre ele, a ideia dele em ser o campeão, faz com que ele diminua o
esforço em se manter no topo, um grave erro, porém comum, um erro que o próprio
Rocky cometeria em Rocky III até.
Enquanto Rocky treina, Apolo negocia com agentes e sai desenvolvendo a carreira
de maneira política, mas uma vez o filme mostrando, como em todos eles, que o excesso de conforto e confiança só
colabora para a derrota. Existe um vídeo com o grande enxadrista Kasparov que
descreve o que eu digo:
Rocky realmente me pegou de
surpresa, tanto ou mais como ele pega Apolo em seu sangrento confronto no final
do filme, uma aula sobre perseverança, coração para lutar e raça. Eu poderia
escrever um livro sobre esse filme, e mesmo assim não expressaria o quanto ele
me passou lições. É o tipo de longa que realmente desperta teu espírito
lutador, ou te faz odiá-lo por acertar aonde sempre doerá no ser humano: a inércia.
NOTA:
9.1
☺☺☺☺☺
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