Fiquei dias tentando escrever outro texto. Um que falasse de filmes, ou de alguma série recente que deu ruim, ou de um personagem qualquer que me ajudasse a puxar o fio sobre algum traço humano esquisito, tipo necessidade de aprovação ou fuga por sarcasmo. Mas a verdade é que, essa semana, eu não tive energia nem pra fingir interesse em coisa alguma. E ao invés de forçar pauta, achei melhor admitir: tem semanas em que o máximo que eu consigo fazer é funcionar. Só isso.
O problema é que, quando eu
funciono bem demais, ninguém repara que tem algo fora do lugar. Nem os outros,
nem eu. Eu me levanto, entrego o que precisa ser entregue, respondo o que tem
que ser respondido, finjo que tô ouvindo. E isso engana até a parte de mim que
queria pedir socorro. Funcionar, pra mim, virou uma forma de camuflagem. Só que
o preço dessa camuflagem é que, depois de muito tempo fingindo que tá tudo sob
controle, você começa a esquecer quem você era quando não precisava fingir.
Eu sei que isso soa genérico.
Parece coisa de gente que reclama com base em post de Twitter. Mas não é.
Porque, no meu caso, isso tem consequência real. Eu desapareço. Sumir virou
minha forma silenciosa de falhar. Deixo mensagens no vácuo, perco prazos, abandono
texto no segundo parágrafo. Às vezes, só desligo tudo sem avisar. E depois
volto como se nada. Não por cinismo, mas por vergonha. Vergonha de não ter dado
conta. Vergonha de sempre começar com sede e nunca passar do meio. Vergonha de
parecer uma promessa que eu mesma não consegui cumprir.
O mais curioso é que, quando eu
reapareço, as pessoas me tratam como se nada tivesse acontecido. E talvez seja
por isso que eu consigo continuar sumindo. Porque ser funcional é, no fim das
contas, só não incomodar demais.
Não tô escrevendo isso pra
dramatizar. Tô escrevendo porque, honestamente, cansei de tentar disfarçar que
eu tô inteira quando não tô. E não é nem que eu esteja despedaçada — eu só tô
oca. Em standby. Em modo avião com bateria baixa.
Se você também vive sumindo,
largando projetos no meio, deixando conversas morrerem no rascunho — eu
entendo. E não tô aqui pra te dizer que vai melhorar. Tô só dizendo que eu
vejo.
Mas, se sair, vai parecer que eu
voltei.
E talvez essa seja a pergunta que
fica pra você também: você tem voltado mesmo, ou só está parecendo? Porque às
vezes a gente se acostuma tanto a cumprir o mínimo, a responder o que esperam,
a manter a fachada ativa, que nem percebe que já tá ausente faz tempo. Eu não
sei se você também some sem aviso, se deixa mensagens sem resposta por dias, se
começa textos, planos, conversas, e depois deixa tudo suspenso como se não
fosse nada. Mas, se sim, só queria dizer que eu te entendo — e que talvez a
gente nem esteja tão quebrado quanto parece. Talvez a gente só esteja cansado
de precisar funcionar o tempo inteiro como se fosse só isso que nos desse
valor.
Eu não tenho uma resposta pronta.
Só essa tentativa mal ajambrada de fechar o que nem era pra ter começado hoje.
Mas já que chegou até aqui, te deixo uma promessa meio torta: no próximo texto,
se eu conseguir escrever, volto a falar de heróis, de sagas, de cultura pop e
das pequenas ruínas escondidas nas entrelinhas de tudo isso. Prometo até fazer
parecer leve, com referências e respiros.
Prometo escrever como se eu
estivesse inteira.
E, se não estiver, não tem problema. Metade de nós já vive assim há anos e nem
por isso parou de dar opinião na internet.

