Retrospectiva das melhores histórias do Homem Aranha (anos 70)

 



Confiram também:

Retrospectiva das melhores histórias do Homem Aranha (anos 60): https://ozymandiasrealista.blogspot.com/2025/08/retrospectiva-das-melhores-historias-do.html


Os anos 70 foi um ponto de virada para as hqs de super herói. O Comic Books Code Authority, que regulava o que era aceito nas hqs ou não, começou a ser desafiado por roteiristas, cujas histórias retratavam tramas menos inocentes e com tópicos mais sombrios e próximos da realidade. O que antes eram histórias de heróis idealizados, com um tom de aventura, passaram a ter uma pegada um pouco mais pé no chão, onde autores podiam mostrar esses heróis sendo falíveis e nem sempre vencendo no final.




Sendo um personagem que é definido por sua falibilidade, Homem Aranha acabou sendo um dos mais afetados, com suas histórias indo por uma direção sombria e passando por experiências bem importantes de sua mitologia, assim como algumas de suas mais bizarras.



Nessa parte da retrospectiva irei falar dessas histórias do Aranha dos anos 70, e como elas redefiniram o tom das aventuras do escalador de parede para algo mais imprevisível e melodramático e...estranho.

A morte virá (Amazing Spider Man nº88 a 90)



Uma das maiores tragédias do Homem Aranha é o fato que, não importa o que Peter faça, pessoas com quem ele se importa, de alguma forma, acabam sendo afetadas por sua vida como um super herói. Isso foi algo que os anos 70 exploraram ao máximo.

A primeira vez que isso aconteceu nessa época foi nesse arco onde Homem Aranha impede o Doutor Octopus de sequestrar um general de um país estrangeiro. 



Enfurecido com a interferência de seu inimigo, Octopus decidi eliminar de vez o Homem Aranha, levando a um combate nos terraços de Nova York. Durante a luta, o capitão Stacy tenta salvar uma criança e acaba sendo soterrado.



Quando Aranha tenta ajuda-lo, é tarde demais. George Stacy morre em seus braços, pedindo a Peter que cuide de sua filha (revelando saber de sua identidade secreta).



Esse arco pode parecer uma repetição de Amazing Spider Man nº11 (Homem Aranha falha em salvar em um familiar de sua namorada e isso leva a um drama em seu relacionamento). No entanto, o fato do Capitão Stacy ter sido um personagem estabelecido dá muito mais impacto emocional para a tragédia, com Peter não só vendo mais um relacionamento dele ser prejudicado por sua falha como Homem Aranha, como também perde mais um aliado e uma figura paterna.

Para esmagar o Aranha! (Amazing Spider Man nº91 e 92)



Com a morte do Capitão Stacy, as complicações da vida do Peter chegaram agora a um novo nível: Gwen culpava seu alter-ego pela morte do pai dela,o público também o acusava do assassinato e a polícia estava o perseguindo.

Se aproveitando desse cenário, Sam Bullit, um candidato a promotor público, começa uma campanha contra o Homem Aranha, tendo apoio do Clarim Diário, fazendo o público odiar ainda mais o herói. 



No entanto, aos poucos Bullit vai se revelando um crápula, que secretamente fez negócios com grupos radicais e racistas.

Por sorte, graças a Joe Robertson, Bullit é desmascarado, perde o apoio do Clarim e, após tentar matar de Robbie, é capturado pelo Homem Aranha e Homem de Gelo.



Apesar de não tão lembrada quanto a morte de George Stacy, essa história continua sendo bem relevante, não só por mostrar Aranha lidando com as consequência da história anterior, como também enfrentando problemas da realidade, como racismo e figuras corruptas manipulando a mídia para atender suas próprias agendas.

...e agora, o Duende! (Amazing Spider Man nº 96 a 98)



Como expliquei antes, nos anos 70 a censura nos quadrinhos começou a perder sua influência, conforme roteiristas foram desafiando o Comics Code Authority com de suas hqs. Uma das pioneiras a iniciar foi  “...e agora, o Duende!”

Sua trama envolve Peter tendo que lidar com a volta de seu arqui inimigo, o Duende Verde, depois de Norman Osborn ter recuperado suas memórias.



Quando parecia que lidar com Duende seria sua única preocupação, Peter acaba descobrindo que seu amigo, Harry Osborn é um viciado em drogas, causada em parte por se sentir abandonado por seu pai e rejeitado pela Mary Jane.



As duas tramas convergem quando Peter faz o Duende vir ao hospital e ver o estado do seu filho, fazendo Norman recuperar a razão e, mais uma vez, perder suas memórias.




O que poderia ser apenas uma propaganda anti-drogas acabou se tornando uma história ousada, que soube abordar o tópico de uma forma sincera e conecta-lo com o drama do Norman e o Harry. É fácil de entender como essas edições marcariam o inicio de outras histórias abordam assuntos parecidos.

 

 

A saga do Homem Aranha de 6 braços (Amazing Spider Man nº100 a 102)



Só porque as histórias do Aranha tinham um estilo mais sombrio não significa que autores teriam desistido de colocar o Homem Aranha em situações com um tom sci-fy surreal. Uma das mais lembradas entre os fãs é a chamada “Saga do Homem Aranha de 6 braços”.

Nessa saga, Peter, sabendo que é difícil ele ter um relacionamento com a Gwen enquanto ela culpar o Aranha pela morte de seu pai, decide deixar de ser o Aranha. Só que dessa vez, ele faz algo mais extremo: Ele toma um soro especial, que ele mesmo criou, para remover seus poderes de aranha.



Sendo um drama sci-fy, coisas não saem como o planejado. Ao invés de remover os poderes do Peter, o soro provoca uma evolução, fazendo o rapaz ganhas 4 braços extras, ficando mais parecido com uma aranha humana.



Em busca de uma cura, o Homem Aranha pede ajuda ao seu amigo, o doutor Connors. Porém, quando vai ao seu encontro, ele acaba sendo abordado pelo vampiro Morbius (It’s Morbin Time!). Se lidar com o vampiro já não era problema o bastante, o Connors acaba sendo envolvido na luta dos dois e o estresse da situação faz com que ele se transforme no Lagarto, criando um battle royale entre os três.



Em teoria, é estranho ir de edições com pegada mais pé-no-chão e lidando com questões como drogas, racismo e perda para uma história de monstros lutando um contra o outro, maso  arco continua sendo bem divertido, demonstrando como as histórias do aranha, mesmo com a mudança de tom, não perderam seu charme.

A noite em que Gwen Stacy morreu! (Amazing Spider Man nº121 e 122)



Se tem uma tragédia tão marcante na vida do Peter Parker,  quanto a perda do seu tio Ben foi a morte da sua namorada Gwen Stacy.

Isso aconteceu logo após Harry ter desmaiado devido ao consumo de drogas, algo que Norman Osborn culpo Peter Parker e seus amigos. A situação de seu filho, combinado com uma crise econômica fez com que Norman sofresse um surto e voltasse a ser o Duende Verde.




Buscando vingança contra o Aranha, Norman invade o apartamento do herói e sequestra Gwen. Peter persegue Norman até a Ponte do Brooklyn, onde os dois travam mais um combate. Em um determinado momento, Gwen acaba caindo da ponte. O Aranha tenta salva-la com sua teia, porém, ao pega-la, ele descobre que Gwen já estava morta.



Essa história termina com o Aranha furioso confrontando o Duende em seu esconderijo, onde o vilão, ao tentar matar seu rival, acaba sendo perfurado pelo próprio planador, morrendo por sua obsessão.



Dá pra ver o motivo dessa história ser considerada não só um ponto de virada nas histórias do Aranha, mas de quadrinhos de super heróis em geral, marcando o fim do tom campy da Era de Prata e o início de histórias mais sombrias e ousadas da Era de bronze.

O Justiceiro ataca duas vezes (Amazing Spider Man nº129)



Quando se fala em anti-heróis de hqs, o Justiceiro é um dos primeiros nomes a vir na cabeça de muitos fãs. Porém, um detalhe que alguns talvez não saibam é que o vigilante com camisa de caveira começou como um antagonista do Aranha, como uma forma do roteirista Gerry Conway provocar o Stan Lee, quebrando uma regra dele criando um herói que matava sem misericórdia.

Nessa introdução, Frank Castle foi apresentado como um mercenário contratado pelo Chacal (também em sua primeira aparição) para eliminar o Homem Aranha, que tinha sido acusado de assassinato.



Como típico desses crossovers de heróis/anti-heróis, os dois, eventualmente, percebem que estão sendo manipulados pelo Chacal e, no final, seguem seus caminhos separados.



É um conflito bem básico porém o roteiro já estabelece o Justiceiro como um personagem com uma moralidade mais complexa do que um típico herói ou vilão, criando a base na qual o anti-herói badass que conhecemos seria desenvolvido.

O Duende Verde vive novamente (Amazing Spider Man nº136 e 137)



“A noite em que Gwen Stacy morreu” não é lembrada só pela morte da Gwen Stacy como também do Duende. Tal como Peter teve dificuldade de lidar com a perda, o mesmo aconteceu com Harry, que tinha perdido seu pai.

No entanto, aos poucos foi sendo revelado o quão perturbado Harry realmente estava. Na realidade, ele tinha testemunhado a luta entre o Aranha com o Duende, descobrindo as identidades secretas dos dois. Ver seu pai morrer fez com que Harry surtasse e passasse a culpar Peter pela sua perda.



Nessas duas edições ele começa sua vingança, assumindo o manto de Duende Verde e passando a atormentar o Peter, assim como seus entes queridos. Depois de confrontar seu amigo enlouquecido, Peter descobre que Harry capturou três pessoas próximas a ele (tia May, M.J e Flash Thompson) e os colocou em lugares distantes, com um deles estando perto de uma bomba, fazendo o Peter ter que advinhar qual das pessoas que está correndo perigo, do contrário ele falharia em salvar mais um inocente.



Ter o Harry virando o novo duende foi um desenvolvimento brilhante, não só permitindo que a história explorar as consequências das ações do Aranha como também cria um paralelo entre Peter e Harry, com ambos sendo jovens lidando com perda e luto (algo que eu falarei mais abaixo).



 

O plano mestre do Magma, A fuga do Magma & Se não pode com o calor (Amazing Spider Man nº132,133 e 173)



Enquanto vilões como Doutor Octopus, o Duende Verde e Mysterio tiveram instruções excelentes na fase do Stan Lee e o Steve Ditko, não posso dizer o mesmo de Magma.

Em suas primeiras aparições, ele era apenas um bandido genérico que conseguiu ganhar super força e uma pele indestrutível, após entrar em contato com uma substância química. O personagem não tinha nada que o torna-se único como antagonista e acabou caindo em esquecimento durante a Era da Marvel.



No entanto, Gerry Conway trouxe o vilão dourado de volta sob uma nova direção: Dessa vez o Magna está atrás de meteoros radioativos. Seus roubos levam seu caminho a se cruzar com o do Homem Aranha, que descobre que seu velho inimigo tem uma evolução: A pele que tornou indestrutível agora está emanando calor. Porém, como seu aquecimento continua aumentar, o Magma fica desesperado para encontrar uma cura, mesmo que signifique colocar vários inocentes em perigo.



Por meio desse roteiro, Conway não só torna Magma um vilão bem trágico como também cria uma conexão pessoal entre ele e o Aranha, visto que a história revela que Magma é irmão de criação da antiga colega de Peter, Liz Allan (que também ganha um momentos de destaque).

 


A saga clone clássica (Amazing Spider Man nº143 a 150)



Só de ver o título imagino que devo ter deixado vocês confusos, não é? Afinal o que a Saga Clone, uma das piores histórias do Aranha, tá fazendo numa lista das melhores histórias do Aranha? E por que ela está nos anos 70, quando sua data de publicação foi nos anos 90?

Eis uma curiosidade: A saga clone que maioria dos fãs do conhecem não foi a PRIMEIRA saga onde o Homem Aranha lidou com os clones. Ela na verdade era que uma continuação dessa Saga Clone que me refiro.

Escrita por Gerry Conway, nesse arco Peter, após voltar de uma viagem na Europa, se encontra Gwen Stacy viva, o que é impossível, visto que Gwen Stacy tinha sido morta. Ao se encontrar com seus amigos, Peter descobre que o corpo da Gwen ainda estava enterrado, tornando as coisas ainda mais confusas.



Para complicar ainda mais a situação, o misterioso Chacal faz seu retorno, recrutando vilões como o Escorpião e Tarântula para atacar o Aranha. Observando como seu inimigo tem como alvo não só ele como pessoas próximas, como a tia May, Peter deduz que Chacal sabe de sua identidade secreta e provavelmente tem uma conexão com o retorno da Gwen Stacy.



Conforme o mistério vai se desenvolvendo, Peter acaba sendo capturado pelo Chacal, que revela ser Miles Warren, seu professor de biologia com uma obsessão pela Gwen Stacy. Arrasado com a morte dela, ele culpou o Aranha e, usando amostras de sangue dos seus alunos, criou um clones tanto da Gwen quanto do Peter.



Isso leva o clímax a ser um duelo entre os dois Aranhas, com nenhum dos dois sabendo qual deles é o clone ou o verdadeiro (um plot point que se tornar uma dor de cabeça em futuras histórias).



Comparado com a bagunça que será a Saga Clone dos anos 90, essa é pelo menos melhor construída, com reviravoltas inesperadas, soluções para tramas recorrentes e um momentos bem emocionantes, principalmente entre o Peter e o clone da Gwen, com o rapaz aceitando que seu amor de fato se foi, mas vai descobrindo seus sentimentos pela Mary Jane.



Caos sobre a luz da lua (Amazing Spider Man nº189 a 190)



Mais um vilão do Homem Aranha que é uma vitima de um destino cruel é o Homem Lobo. Similar ao Lagarto, ele é na verdade um ser humano, mais precisamente o coronel John Jameson, que foi transformado num lobisomem ao entrar em contado com uma gema da lua.

Depois descobrir que essas transformações estavam matando seu filho, J. Jonah Jameson o colocou em animação suspensa, na esperança encontrar uma cura. 



No entanto, um vingativo Spencer Smythe tinha outros planos. Usando sua tecnologia, ele despertou o Homem Lobo e ou enviou para atacar Jameson.



Enquanto o Aranha tentava alcançar o Homem Lobo e seu prisioneiro, Jameson tentava fazer seu filho recuperar a consciência de si mesmo, falando sobre seu passado e orgulho que sentia de seu filho, expondo um lado bem mais vulnerável.



Eu não direi o final, mas é um bem trágico que faz o leitor sentir pena por Jameson.

24 horas para o Juízo Final (Amazing Spider Man nº191 e 192)



Jameson pode odiar o Homem Aranha, porém, até mesmo ele sabe quando é necessário deixar suas diferenças de lado para sobreviver.

Um dos casos mais famosos disso foi no “24 horas para o Juízo Final”, onde o editor do Clarim Diário é enganado e algemado ao Homem Aranha pelo Spencer Smythe, que revela estar morrendo devido a um envenenamento de radiação aos Esmaga- Aranhas que fez para o Jameson. Antes de falecer, o cientista louco revela que ligou a algema do Aranha e do Jameson a uma bomba, com os dois tendo apenas 24 horas para conseguirem se libertar.



Essa história é uma intensa corrida contra o tempo, com um excelente equilíbrio de momentos de humor e suspense, a medida que Aranha e Jameson tentam trabalhar juntos para conseguirem se salvar.



A saga da “Volta do assaltante” (Amazing Spider Man nº193 a 200)



Se tem uma palavra que conecta as histórias do Aranha desse período é “Luto”. Como podem ver em várias das histórias citadas, muitas delas envolviam personagens lidando com traumas relacionado a perdas de entes queridos, como a Gwen quando perdeu o pai dela, o Peter ao perder tanto o Capitão Stacy quanto a Gwen ou Harry quando perdeu seu pai.



Todas as histórias exploravam o efeito que essas experiência tinham nos personagens e como eles reagiam diante delas, para melhor ou pior.

Por isso nada mais justo que concluir essa lista falando do último grande arco do Aranha nesse período, um onde o herói se reencontra com uma figura responsável pela maior dor que ele já sofreu em sua vida: O assaltante que matou o Tio Ben (não, ele não tem um nome na história. É chamado apenas de o Assaltante).


Tendo estado ausente das hqs do Aranha desde Amazing Fantasy nº15, esse bandido retornou na edição 193 invadindo a casa da tia May para recuperar uma grande quantia em dinheiro que ele escondeu na noite que matou tio Ben.

Não conseguindo encontrar o objeto de sua ganância, o assaltante decidi interrogar a tia May, que agora estava morando numa casa de repouso. O ladrão invade o local e sequestra a velhinha, fazendo o Aranha sair numa jornada para salvar a mulher que o criou e confrontar o homem que matou seu tio.



Embora o confronto do Aranha com o assaltante seja o grande destaque da história, a construção até ele nunca é um tédio, com Aranha tendo várias aventuras, desde seu primeiro encontro com a Gata Negra a uma de seus melhores conflitos com Rei do Crime, onde o chefão do crime é forçado a escolher entre sua vingança e o amor de sua esposa.




Mas a melhor parte do arco é o desenvolvimento do Peter. Devido a um truque do assaltante e Mysterio (que estava trabalhando disfarçado na Casa de repouso), o rapaz, a princípio, acreditou que sua tia May tinha morrido. Tomado de tristeza e afetado por outros problemas em sua vida, ele acaba se afastando de seus amigos.



Por sorte, Peter acaba se encontrando com Robbie e os dois acabam tendo um diálogo bem profundo, onde o editor-chefe do Clarim conta pro Peter sobre como ele se sentiu após ter perdido seus pais e, um tempo depois, seu filho não-nascido, convencendo o Peter a não deixar suas perdas isola-lo do resto do medo.



Isso culmina no teste final do Peter, não envolvendo se ele seria capaz de derrotar o assaltante (obviamente que ele consegue), mas sim ser capaz de manter seus ideais no final e tenta salvar a vida do bandido, apesar do mal que ele lhe fez.



Foi um arco perfeito para encerrar as histórias do Aranha dos anos 70, demonstrando como, não importa o quão prejudicada fique a vida do Peter, ele nunca vai deixar seu sofrimento corromper seus ideais. Ele escolhe seguir em frente, não importa o cenário.

Então é isso! Quais são suas histórias favoritas do Homem Aranha dos anos 70? Sintam-se a vontade para colocar suas opiniões e ideias nos comentários abaixo.