Ontem, fui assistir à pré-estreia de Coringa: Delírio a Dois, sequência de Coringa, protagonizado por Joaquim Phoenix e dirigido por Todd Phillips, que foi provavelmente o filme mais comentado de 2019, tendo um alcance muito maior que o do público geek/nerd. Pessoas nada afeitas ao meio comentaram sobre o filme, que é basicamente a história de um psicótico que se transforma em psicopata.
Devo dizer que não considero
o Coringa de Joaquim Phoenix uma versão adaptada dos quadrinhos, mas uma completamente
diferente. Não é o Coringa das HQs de maneira alguma, apesar de ter algumas
referências incidentais, como a cena no talk show de Murray Franklin, interpretado
por Robert DeNiro, que lembra um pouco a cena do Coringa em O Cavaleiro das
Trevas de Miller. No entanto, o Coringa de Phoenix não é um vilão como o
das HQs, está mais para um anti-herói. A gente até vê o lado mais narcisista do
Coringa, mas não o sádico.
Eis que no Arkham
aparece a interna Lee Quinzel, interpretada pela diva Lady Gaga, que é uma fã
do Coringa, basicamente uma groupie de maluco, e começa a provocá-lo e a
seduzi-lo, para que a personalidade do Coringa volte a aflorar. A
descaracterização e a desconstrução do personagem já começam aí, pois é Lee quem
manipula o Coringa e o controla, o transformando em um bobão, um completo
pateta, mangina e gado. Ao contrário da animação e das HQs, em que o Coringa é
quem manipula a doutora Harleen Quinzel, a fazendo enlouquecer e se transformar
na Arlequina.
O filme na verdade é
bem chato e enfadonho, com várias cenas de musical, em que Lady Gaga se
destaca. Na realidade, não é um filme do Coringa, mas um filme da Lady Gaga. É
também um filme de tribunal, várias das cenas se passam no tribunal, em que
Fleck se transfigura no Coringa. Ao contrário do filme original, não há tantas
cenas de violência, e a maioria das cenas violentas se passa na cabeça do
Coringa, em seu delírio. Apenas mais no último ato é que há um pouco mais de
violência, quando um grupo de “fãs” do Coringa explode o tribunal. E, também no
último ato, quando Fleck é assassinado por um interno do Arkham. Ou seja,
esclarece-se a dúvida: Fleck não é o Coringa arqui-inimigo do Batman, mas
provavelmente este será o filho que ele teve com a Lee, depois de darem um
bimbada rapidinha lá no Arkham. No entanto, tem muita coisa que não faz
sentido, como o fato de Harvey Dent no filme ser adulto, e nas HQs ele ter mais
ou menos a mesma idade do Bruce, que é mostrado como criança no primeiro filme.
Está certo que se pode argumentar que o universo de Coringa é um elseworld,
mas que não deixa de ser um elseworld ruim, e, vamos ser francos, a
maioria das pessoas, que não são leitoras de HQs, não tem essa noção de elseworld.
Quando se anuncia que é o filme do Coringa, elas vão achar que é o filme DO
Coringa, e não DE UM Coringa.
Vamos ser honestos: o
Coringa é muito maior que a Arlequina. O Coringa foi criado em 1940; a Arlequina,
em 1992. O Coringa viveu mais de cinquenta anos sem a Arlequina e viveu muito
bem. Ela é que é uma personagem sidekick, assessória, com bem menos importância.
No entanto, parece que ela tem certa ressonância entre o público “feministeen”,
que a acha empoderada.
O filme tem qualidades
técnicas? Sim, tem. Direção, fotografia, cenografia, figurino etc. são de
qualidade técnica inegável. Porém, o roteiro é um lixo, e as atuações estão ok.
O próprio Joaquim Phoenix está atuando bem como o Coringa, mas não chega perto
da atuação do primeiro longa, que é magistral. Outro ponto negativo do filme é
sua duração. Quase 2h30 que fazem o filme ainda mais arrastado e enfadonho.
Enfim, Coringa: Delírio a Dois é um dos piores filmes do ano. Um grande desrespeito ao personagem. Quem é fã do Coringa que passe longe. No entanto, pode sim agradar a um determinado segmento, em detrimento da maioria. Um grande tiro no pé e uma piada sem graça. Nota 3 de 10.
0 Comentários