A TRILOGIA DE GALACTUS – UMA DAS MAIORES OBRAS DA MARVEL COMICS

 


A TRILOGIA DE GALACTUS – UMA DAS MAIORES OBRAS DA MARVEL COMICS

Desde o início do mês passado, Marvel liberou informações sobre um de seus futuros projetos para o MCU, a tão esperada adaptação do Quarteto Fantástico.



Além de revelarem o elenco do filme, o estúdio também confirmou que o filme contará com a presença de Shala-Bal (sendo interpretada por Julia Garner), o interesse romântico do Surfista Prateado (com alguns fãs assumindo que ela é quem assumirá o papel do herói).  



Essa informação combina com rumores de que o vilão do filme será Galactus, com a trama mostrando a Primeira Família da Marvel tentando salvar a Terra do Devorador de Mundos.



Embora alguns fãs são contra a ideia de usar Galactus tão cedo e sem construção (eu também incluído), a decisão do estúdio é compreensível visto que a primeira aparição do Galactus e do Surfista nas hqs do Quarteto, conhecida por muitos como a Trilogia de Galactus, é uma das primeiras grandes arcos do universo Marvel (junto com “Se esse for meu destino...”), tendo marcado não só a fase do Quarteto, feita pelo Stan Lee e Jack Kirby, como também a ascensão da Marvel na metade dos anos 60 (a chamada Era Marvel).





Mas o que fez essa história ser tão icônica? O que ela tinha de tão diferente de outras histórias na época?

Eu vou explicar...

TRAMA

Escrito por Stan Lee, com a arte Jack Kirby, e publicado em Fantastic Four vol 1 nº 48 a 50 em 1966, o arco começa com o Quarteto Fantástico, após uma aventura com os Inumanos, voltando a Nova York quando percebem que o céu está em chamas, para depois ficar coberto por rochas e asteroides.



Investigando esse fenômeno Reed e sua família são visitados por Uatu, o Vigia, que se revela como responsável pelo ocorrido. Ele estava tentando esconder a Terra do Surfista Prateado, arauto de Galactus, o Devorador de Mundos, uma entidade que vaga pelo universo consumindo a energia de planetas.



Os esforços do Vigia e do Quarteto acabam sendo em vão, com o Surfista chegando a Terra e enviando um sinal ao seu mestre. Com a chegada do Devorador de Mundos, o Quarteto tem enfrentar esse ser com o poder de deus para salvar toda humanidade.



ESTRUTURA SIMPLES E MEMORÁVEL

Pela descrição a trama é bem simples. São os pequenos detalhes que contribuem para o sucesso da história. Um deles é a estrutura. Naquela época, maioria das revistas eram histórias de início, meio e fim, ocasionalmente se estendendo em duas ou três edições.



Era praticamente o oposto do que HQs são atualmente, onde minoria da histórias são isoladas e de apenas uma edição, enquanto o resto é composto por arcos de 5 a 6 edições, o que as vezes estendem desnecessariamente a narrativa e fazer a leitura ser um tédio.



Ter a a trilogia de Galactus sendo apenas três edições ajuda a resumir o arco, com cada capitulo tendo uma função na história: A primeira edição introduz os antagonistas e o porquê deles serem um desafio para os heróis, a segunda mostra o conflito deles e a terceira é os heróis virando a luta e triunfando sobre o vilão.

Destaque também para o fato do Stan e o Jack manterem a história envolvendo apenas o Quarteto e os personagens de seu núcleo. Se fosse em hqs como as de hoje em dia, esse arco seria convertido num evento com vários heróis tendo aparições desnecessária, em muitos casos interrompendo as histórias que eles já estavam envolvidos e criando inconsistência com a continuidade.



Essa decisão da dupla ajuda o arco a ter um foco melhor nos personagens e dar a cada um momento destaque, onde nenhum é dispensável.

A ARTE DO REI

Outro ponto que auxilia no sucesso da Trilogia de Galactus é a arte memorável do Jack Kirby. Seu estilo é um dos mais icônicos das histórias em quadrinhos, caraterizado por suas cores fortes, figuras bem detalhadas, personagens expressivos e com uma anatomia que lembra estátuas mitológicas.



No entanto, a Trilogia de Galactus revela mais um talento do rei que é a influência na narrativa. Ao invés de seguir um padrão, Kirby varia o número de quadrinhos por páginas, permitindo que ele faça desenhos em painéis maiores, destacando a importância dos momentos e o que os personagens estão sentindo.



Para explicar isso melhor, vamos comparar o primeiro conflito do Quarteto Fantástico contra os Skrulls em Fantastic Four vol 1 nº02 (também desenhado por Kirby) e a primeira aparição do Galactus.

No primeiro exemplo, os aliens são introduzidos numa página de dez painéis, em desenhos bem pequenos para caber nos quadrinhos. Até mesmo a imagem de sua nave é feita em apenas um quadro pequeno. Essa cena mostra aos leitores o que tá acontecendo mas não a ponto de sentirem que algo grande está ocorrendo.

Já a introdução de Galactus é bem mais variada. A nave aparece no ultimo quadrinho de uma página de 6 painéis, mas, em seguida, temos uma página com apenas um quadro da nave expondo seus aparelhos, demonstrando como essa esfera que vimos na página anterior era na realidade maior e possuindo tecnologia bem surreal. Finalmente a última página tem apenas dois quadros (focando nas portas da nave se abrindo e a reação do Quarteto) com o resto da folha sendo um quadro do Galactus se revelando para o Quarteto, passando sua imponência e poder apenas com sua presença.





Esse método ajuda os quadrinhos a seguirem uma narrativa semelhante a de um filme, com o número de desenhos e seu tamanho e espaço ajudando construindo o suspense das cenas e dar os leitores a sensação que elas passam.

Jack Kirby já era um gênio em criar personagens e cenas, porém Trilogia do Galactus que ele demonstrou como sabia combinar sua arte com a história, criando mais um grande exemplo de sua criatividade.

DEUSES VS HUMANOS

Apesar da arte de Kirby e a estrutura da história serem importantes, o que fez essa história se conectar com leitores foram os personagens.

Ter uma história em quadrinhos com personagens inspirados em deuses e lendas não é novidade nenhuma, principalmente nos trabalhos Jack Kirby, que criou personagens como Thor e, tempo depois, os Novos Deuses e os Eternos. 





Galactus e Surfista são mais um exemplo, claramente sendo inspirados em figuras de obras bíblicas, como Deus (Galactus) e anjos (Surfista).




O que ajudou os dois personagens a se tornarem tão populares foram suas personalidades complexas. Galactus é mostrado como um ser imponente, que raras vezes interage diretamente com outros seres como Quarteto, que ele enxerga como nada mais que insetos. Mas, ao mesmo tempo, ele tem momentos em que expressa emoções como lamento por ter que tirar vidas para poder sobreviver e frustração quando seu arauto se rebela. É quase difícil se referir a Galactus como um vilão, pelo menos um malicioso, visto que seu comportamento não é nada diferente do que outros seres vivos como nós, humanos, fazemos quando temos nos alimentar de animais e plantas.


O mesmo vale para o arauto do Devorador de Mundos. Enquanto parte da trilogia foca no conflito do Quarteto com Galactus, a outra mostra as interações do Surfista com Alicia Masters, namorada do Coisa. Esses momentos revelam como esse poderoso ser cósmico é na realidade um indivíduo alienado mas curioso, aberto a conhecer mais dos seres e mundos que conhece, o que contribui para que ele reflita e se rebele contra seu mestre.

Essa conexão entre um “deus do espaço” e uma humana revela uma das principais temáticas da Trilogia de Galactus: Humanidade.

Quando criou os heróis, a ideia do Stan Lee era deles serem personagens humanizados, indivíduos que, apesar de seus poderes, passam por dificuldades que nós, leitores, conseguíamos nos relacionar. O mundo que eles habitavam não era perfeito, com pessoas desconfiando heróis e até se virando contra eles em ocasiões.

Quarteto Fantástico é um perfeito exemplo disso, sendo uma família que muitas vezes tem discussões e dramas de relacionamentos, mas é a forma como eles lidam com seus problemas e continuam a tentar fazer coisa certa que torna tão heroicos e inspiradores, agindo como um exemplo do melhor dessa humanidade imperfeita.

A Trilogia de Galactus explora isso dando destaque para dois personagens que ajudam o Quarteto a salvar o mundo: Alicia Master e Johnny Storm.

Enquanto Alicia, apesar de ser cega, demonstra compaixão e carinho pelo Surfista, mostrando-lhe as qualidades boas dos humanos e o porquê da vida deles ser poupada, Johnny é o quem o Vigia escolhe para buscar o Nulificador Total. Ver um dos personagens mais confiantes e ousados do Quarteto ter essa jornada difícil, reconhecendo a grande diferença dele para seres como Galactus, demonstra o quão poderoso essas entidades cósmicas são. Porém, Johnny consegue passar pelos obstáculos e retornar com Nulificador, demonstrando sua coragem diante suas dificuldades.




Nenhum dos dois é poderoso como Galactus ou o Surfista, mas tem qualidades que ajudam diante essas dificuldades e inspiram outros como o Surfista a fazerem mesmo.



Dessa forma, essa temática ajuda a Trilogia de Galactus a ter mais profundidade e importância, tornando-a não só uma das histórias mais memoráveis do Quarteto mas uma das histórias mais importantes da Era Marvel. Só posso esperar que a adaptação do MCU conseguia ser tão boa quanto essa obra clássica.

Então é isso! Concordam comigo? Discordam? Qual a opinião de vocês quanto a Trilogia de Galactus? Sintam-se a vontade para colocar suas opiniões e ideias nos comentários abaixo.



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