Hoje é um dia triste para os fãs de animes e mangás e, também, de cultura pop, em razão do anúncio do falecimento do grande autor e desenhista de mangás Akira Toriyama, aos 68 anos, praticamente o responsável pela popularização de animes e mangás no Ocidente, sem exageros. Ele na realidade tinha falecido em 1o de março; porém, a divulgação pública ocorreu apenas hoje. Ao que parece, a causa da morte foi um hematoma subdural agudo.
Dr.
Slump trata-se de um mangá bem característico do humor
nonsense japonês. Particularmente, o considero até melhor que Dragon Ball,
porque o grande talento de Toriyama ao meu ver nem era para histórias de ação,
mas sobretudo para comédias. O enredo do mangá descreve a vida de Senbei Norimaki,
um cientista atrapalhado e pervertido que vive na Vila Pinguim. Senbei cria uma
menina robô, Arale. Vão surgindo outros personagens e, também, uma sucessão de
situações cômicas e confusões. O humor de Dr Slump é aquele humor
nonsense japonês que talvez não agrade a todos, mas do qual gosto bastante. Há
piadas que chegam a ser escatológicas. Há muitas piadas de cocô, por exemplo.
Toriyama aproveitou esse mangá para fazer referências a ícones da cultura pop oriental
e ocidental dos quais era fã, como Godzilla, Ultraman e Superman. Tem um
personagem que é uma paródia do Superman, o Suppaman, por exemplo, uma versão
bem mais cômica e cretina do Homem de Aço.
Obviamente,
a obra que transformou Toriyama em uma lenda no meio e mudou a cultura pop foi Dragon
Ball, iniciado em 1984. Como todo mundo conhece esse mangá/anime, não irei entrar em tantos
detalhes; porém, o curioso nele é que começou como uma paródia de filmes de kung
fu wuxia. É uma reinterpretação da lenda do Rei Macaco, com o garoto Goku
como protagonista. Por pressão dos editores da Shonen Jump, o mangá foi
deixando de ser de comédia para se tornar um mangá de lutas, a despeito de
nunca ter abandonado uma veia cômica. Goku cresce, casa-se com Chichi e tem
filhos. A segunda fase do mangá, entretanto, é que alcançaria um sucesso sem
precedentes, graças à sua adaptação para anime, a famosa fase Z.
O
interessante dessa fase do mangá é que mostra claramente o quando Toriyama era
fã do Superman. Goku é enviado para a Terra por seu pai, Bardock, um soldado de
classe baixa dos saiyajins, quando seu planeta estava para ser destruído pelo
vilão Freeza. Dessa forma, Goku é sim o Superman japonês. E o trio saiyajin que
invade a Terra, Vegeta, Nappa e o irmão mais velho de Goku, Raditz, são uma óbvia
alusão a Zod, Ursa e Non, os vilões de Superman II.
Lembro-me
que Dragon Ball demorou bastante para chegar e fazer sucesso no Brasil. Só tive
contato com a primeira fase do anime em 1995 ou 1996, quando o SBT passou a exibir.
Dragon Ball Z só foi exibido por aqui em 1999, no Cartoon Network, e na TV
aberta na Band, pouco tempo depois. No entanto, nos EUA e na Europa, o anime já
tinha estourado há muitos anos e feito um sucesso incomparável. É possível afirmar
sem exageros que Dragon Ball proporcionou esse cenário muito profícuo para
animes que vivemos hoje no Ocidente. O mangá de Dragon Ball vendeu mais
de 240 milhões de cópias em todo o mundo, um número astronômico. Toriyama valia
tanto dinheiro para a Shueisha, a editora da Shonen Jump, e a Toei que
ele foi proibido de viajar de avião por um tempo, por medo de que sofresse
algum acidente.
Enfim,
fica aqui minha homenagem a esse grande autor de mangá que praticamente uniu
dois mundos, o Ocidente e o Oriente, com sua obra e que partiu com idade
relativamente precoce para hoje em dia. Não é qualquer um que foi capaz dessa
proeza. Talvez ninguém mais seja. R.I.P.
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