Godzilla Minus One - Um drama pós-Guerra do Japão com kaiju (review com spoilers)

 




Depois de uns quatro filmes norte-americanos que oscilam entre medianos e fracos, até que é uma grata surpresa perceber que os japoneses continuam a fazer filmes da franquia tokusatsu Godzilla, o maior dos monstros kaijus. E é uma grata surpresa maior ainda perceber que Godzilla Minus One, não apenas é um ótimo filme do Godzilla, como é um dos melhores da franquia. Até diria que é um dos melhores filmes do ano. E é um filme diferente da franquia Godzilla, porque é ao mesmo tempo um filme de monstro gigante e um filme de drama da Segunda Guerra.



Na verdade, o longa não perde tempo e, ao contrário de outros filmes da franquia, em que tentam esconder o Godzilla e só revelá-lo em toda sua monstruosidade lá pela metade da película, o largatão dá as caras logo na primeira cena do filme. O protagonista de Minus One é Koichi Shikishima, interpretado por Ryunosuke Kamiki, um piloto do esquadrão kamikaze que se acovardou e fingiu que seu avião tinha avaria. Quando é recebido por mecânicos em uma ilha, não demora para que Godzilla apareça no lugar e dizime quase todo mundo. Os únicos sobreviventes são Koichi e um dos mecânicos.



Ao voltar para casa, Koichi encontra Tóquio destruída pelos bombardeios norte-americanos e descobre que seus pais foram mortos. Como ele é um piloto que não quis sacrificar sua vida, é visto como um pária social e vive uma vida miserável, na favela em que sua cidade se tornou. Sua vida melhora um pouco quando ele conhece a jovem Noriko, interpretada por Minami Hamabe, que cuida da bebê Akiko. Meio a contragosto, Koichi se torna pai de uma família. Depois de viver de bicos, Koichi consegue um trabalho em um barco que tinha a função de destruir minas de guerra na costa do Japão, sob a supervisão do professor Akitsu, vivido por Kuranosuke Sasaki. No entanto, a verdadeira missão da tripulação é servir de chamariz para o Godzilla, que está ameaçando a costa japonesa. Acontece uma grande cena de perseguição do Godzilla no encalço do barco, com direito até a destruição de um navio da Marinha japonesa.



Porém, a grande tragédia na vida de Koichi é quando Godzilla invade e destrói o bairro de Ginza, em Tóquio, aparentemente matando Noriko. Cheio de ódio, Koichi alista-se no esquadrão de cidadãos que pretende dar cabo em Godzilla e, para isso, pretende sacrificar a própria vida. O curioso em Minus One é que quem tem a iniciativa de destruir Godzilla no ato final do filme não são as forças de defesa do Japão, mas sim cidadãos e ex-militares. O governo japonês no longa é retratado como pouco confiável e que esconde a existência de Godzilla da população, para não causar pânico. E também evita manobras militares para não chamar a atenção dos EUA nem da União Soviética.


Todos esses elementos fazem de Minus One um filme singular do Godzilla, um dos raros em que o drama e o elemento humanos se sobressaem às cenas de destruição ocasionadas por um monstro gigante. Não que elas não existam. Cada vez que o Godzilla surge nas telas é motivo de tensão, como há muito tempo não via no cinema. O diretor Takashi Yamazaki é muito competente não apenas da direção dos atores, mas também para criar os desastres e a destruição desenfreada ocasionadas por Godzilla. A CGI do monstro também está excelente, não fica a dever à de Hollywood. O Godzilla de Minus One é aterrorizante. E é também uma versão mais raiz do monstro, mais próxima dos primeiros filmes, quando ele era uma ameaça à humanidade. Posteriormente, Godzilla torna-se uma espécie de anti-herói, que tem de dar cabo de outros monstros ainda mais ameaçadores, em uma espécie de wresting de monstros gigantes. Dá para dizer que Minus One é uma espécie “Godzilla Ano Um”, uma vez que se passa no final dos anos 40, antes do primeiro filme de 1954. Nota 8 de 10.

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