CAVALEIRO
DA LUA DO JEFF LEMIRE – UMA HISTÓRIA DE FANTASIA E PSICOLOGIA
Um dos personagens mais inconsistentes nas HQs é o Cavaleiro da Lua. Conforme suas histórias foram escritas por um autor atrás do outro, o personagem foi retratado de várias formas diferentes: Alguns o retratavam como vigilante das ruas, outros colocavam ele sendo um herói místico e ligado a mitologia egípcia, uns colocavam ele sendo um guerreiro solitário enquanto outros mostravam sendo membro dos Vingadores, as vezes suas histórias eram sombrias e violentas enquanto outras eram épicas e fantasiosas, e por aí se seguia...
No entanto, um fator
que se mantém consistente nas histórias era o drama psicológico de Marc Spector
e seus dilemas envolvendo suas múltiplas personalidades. Não importava o tipo
de história, o estado mental de Marc, e a forma como afetava seus
relacionamentos, estava presente no núcleo.
Dentre esses
roteiristas, um que deu grande destaque a esse aspecto do Punho de Khoshu foi
Jeff Lemire. Tendo escrito 14 edições da Hq do personagem em 2017, Lemire criou
uma história que explorou a mente de Marc Spector que o colocou numa aventura
bem mais pessoal, que o coloca diante os medos que ele sempre ignorou e
reprimiu.
TRAMA
A história de Lemire
começa com Marc despertando num hospital psiquiátrico. Apesar dos médicos
dizerem que Marc esteve lá por anos e que sua vida como um super herói foi uma
desilusão, que o Cavaleiro da Lua é outra pessoa, Marc continua a sentir que algo está errado, conforme ele vai se
deparando com seus amigos, também sendo pacientes do asilo.
Ao ser contatado por
Khonshu, Marc é alertado que o hospital é uma armadilha e que o mundo está
sendo invadido por deuses do Egito. Retomando sua identidade de Cavaleiro da
Lua, Marc consegue ajudar seus amigos a escapar e tenta encontrar uma forma de
salvar o mundo.
Porém, as coisas não
são como se parecem. Marc começa a perceber que a realidade que ele enxerga
pode não ser real, tal como seus amigos, mas também que seu deus, Khonshu, é o
verdadeiro manipulador por trás desse evento, querendo se apossar do corpo do mercenário.
Diante desse cenário,
Marc precisa se aventuras nas profundezas de sua mente e encontrar uma forma de
derrotar Khonshu numa batalha pelo seu corpo e mente.
HOMENAGEM
AO PASSADO
Embora a fase de Lemire
era um novo ponto de partida para uma nova história do Cavaleiro da Lua, isso
não significa que Lemire ignorou os trabalhos dos autores que o antecederam. Na
realidade, a fase faz várias homenagens e referências as fases anteriores do
Cavaleiro da Lua sem distrair o leitor da trama principal.
Sem falar que o arco
tem a presença de grande parte do elenco de apoio de Marc Spector, que estavam
ausentes das hqs desde a fase popular do Warren Ellis.
O
QUE É REALIDADE?
O grande mistério que Lemire cria nessa fase de 14 edições é Marc questionando a realidade em sua volta e os eventos que ele testemunha. É uma trama que já foi usada em muitas histórias de cultura pop, como Matrix e Sucker Punch.
Até mesmo o herói acorda
num hospício já foi usado em histórias como a série animada do Batman, Ash vs Evil Dead.
A vantagem que essa história
tem diferente das outras é o protagonista ser o Marc Spector, que sofre de
múltiplas personalidades e tem uma mente complicada, o que faz com que nós
leitores fiquemos tão confusos quanto Marc e interessados em saber o que
realmente está acontecendo.
As mudanças de
realidade contribuem para que o artista Greg Smallwood consiga se destacar,
criando vários cenários e momentos bem surreais e criativos.
CORAGEM
& ACEITAÇÃO
Como eu disse antes, o coração das histórias do Cavaleiro da Lua é Marc Spector e o drama envolvendo sua relação com suas outras identidades (o milionário Steven Grant e o taxista Jake Lockley) em sua mente.
Esse aspecto do personagem é aprofundado ainda mais nessa fase, com flashbacks revelando o que levou o Marc a criar essas identidades e como elas serviam como uma forma dele lidar com sua solidão e fugir dos problemas em sua vida.
Essa
atitude se tornou ainda mais difícil quando ele se tornou o Cavaleiro da Lua,
se deixando ser transformado num avatar para Khonshu.
As ações do deus da Lua
são claramente uma representação das consequências de Marc Spector ter deixado
as outras personalidades controlarem sua vida por tanto tempo, deixando sua
mente vulnerável para um manipulador como Khonshu começar a possui-la.
Portanto, o arco de
Marc na fase de Lemire é sobre ele tendo que finalmente encarar os medos que
ele reprimiu por todo esse tempo ao invés de usar suas outras personalidades
como um escudo para seus problemas que o incomodam.
Mas, ao mesmo tempo, a história é sobre aceitação, com Spector inspirando a suas outras personalidades a ajuda-los e nisso reconhecendo que, embora ele talvez nunca possa ser curado de sua mente dividida, ele consegue viver com isso, porque no final de tudo, eles são todos partes da mesma pessoa.
Esse desenvolvimento resulta num dos melhores
clímax das hqs, com Marc confrontando o deus que o ressuscitou, dizendo as
palavras que resumem sua evolução
“Eu sou Marc Spector...Eu sou Steven Grant... eu sou Jake Lockley... e
nós vamos ficar ok. Vamos viver com quem nós somos. Nós somos o Cavaleiros da
Lua e nunca precisamos de você!”
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Quando se trata de um personagem inconsistente Cavaleiro da Lua, pode ser difícil selecionar um ponto de partida, visto que todas suas histórias apresenta algo novo. Porém Lemire não é só uma nova abordagem ao personagem.
É uma homenagem ao Cavaleiro da Lua
e sua mitologia, fazendo referências a várias histórias passadas, e equilibra
isso com uma história nova, uma jornada bem mais pessoal para o Marc Spector
que o faz crescer e virar um homem mais equilibrado. Essa fase é uma das melhores fases do Cavaleiro da Lua e também um cartão de entrada para qualquer um que queira conhecer o Punho de Khonshu.
Então é isso, concordam
comigo? Discordam? Qual a opinião de vocês quanto ao Cavaleiro da Lua do Jeff
Lemire?
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